Notícias

Desigualdade de renda no Brasil: a urgência de um olhar financeiro para famílias de baixa renda

O cenário da desigualdade de renda no Brasil continua alarmante. Segundo o estudo “Progressividade Tributária e Desigualdade no Brasil: Evidências a partir de Dados Administrativos Integrados”, o 1% mais rico concentra 27,4% da renda nacional, enquanto o 0,1% mais rico (cerca de 150 mil pessoas, com renda anual média de R$ 4,6 milhões) detém 12,4%.

Escrito por
Ana Alvesanimaconsultoria@yahoo.com.br
02 de Setembro de 2025 – 07:00

Legenda: Sistema tributário brasileiro agrava ainda mais as desigualdades
Foto: Shutterstock

O cenário da desigualdade de renda no Brasil continua alarmante. Segundo o estudo “Progressividade Tributária e Desigualdade no Brasil: Evidências a partir de Dados Administrativos Integrados”, o 1% mais rico concentra 27,4% da renda nacional, enquanto o 0,1% mais rico (cerca de 150 mil pessoas, com renda anual média de R$ 4,6 milhões) detém 12,4%.

Já o 0,01% mais abastado (aproximadamente 15 mil pessoas, renda média anual de R\$ 23 milhões) concentra 6,1% do total. Esse grau de concentração coloca o Brasil entre os países com a distribuição de renda mais desigual do mundo.

 

Veja também

 

O sistema tributário e seus impactos desiguais

Além da alta concentração, o sistema tributário brasileiro agrava ainda mais as desigualdades. O estudo revela que os milionários pagam, em média, 20,6% de sua renda em tributos, enquanto a alíquota efetiva para a classe média é de 42,5%. Essa regressividade é explicada pelo forte peso dos tributos indiretos — como ICMS e ISS — que pesam mais sobre famílias de baixa renda, e pela isenção de tributação sobre lucros e dividendos para os estratos mais altos. Abaixo conseguimos visualizar melhor as desigualdades tributárias entre vários países.

O papel da educação financeira nas famílias de baixa renda

Diante desse quadro, a educação financeira se mostra ainda mais essencial. Para famílias de baixa renda, o conhecimento sobre planejamento, uso consciente do crédito e acesso a serviços financeiros formais age como uma ferramenta de resiliência. Quanto maior for a desigualdade, mais valioso é o letramento financeiro — não apenas para poupar, mas para tomar decisões mais informadas sobre orçamento, investimentos acessíveis e consumo responsável.

Planejamento orçamentário e priorização

Um orçamento familiar claro permite priorizar gastos essenciais — alimentação, moradia, transporte — e identificar onde ajustar custos.

Por exemplo, uma família que gasta R$ 200 por mês em aplicativos de delivery pode migrar parte desse valor para a feira livre, economizando R$ 100 mensais. Essa diferença, ao longo de um ano, representa R$ 1.200 — o suficiente para quitar uma dívida ou iniciar uma reserva de emergência.

Proteção financeira e emergência

A criação de pequenas reservas de emergência pode fazer toda a diferença.

Por exemplo, imagine uma diarista que guarda R$ 50 por mês em uma poupança digital gratuita. Em 12 meses, terá R$ 600. Se ela enfrentar uma semana sem trabalho, essa reserva evita o endividamento com empréstimos a juros elevados.

Acesso a oportunidades financeiras e microcrédito

Saber usar serviços financeiros formais permite construir histórico de crédito.

Exemplo prático: um vendedor ambulante de lanches que fatura R$ 2.000 por mês pode usar um microcrédito de R$ 1.000 para comprar uma chapa elétrica. Essa compra aumenta sua produção, elevando sua renda em 20%. Se ele tivesse recorrido a um agiota, poderia pagar juros abusivos que consumiriam o lucro do negócio.

Educação financeira como instrumento de igualdade

Educar financeiramente significa reduzir o impacto da desigualdade.

Programas comunitários de capacitação já mostraram resultados. Em São Paulo, uma ONG ensinou famílias de baixa renda a registrar todas as despesas em um caderno simples. Após três meses, 70% delas conseguiram reduzir o endividamento em pelo menos 15%, apenas controlando gastos invisíveis como recargas de celular e pequenos empréstimos.

Programas de transferência de renda com educação embutida

Imagine se parte do Bolsa Família viesse acompanhada de oficinas obrigatórias de educação financeira. Uma mãe que recebe R$ 600 mensais poderia aprender a planejar o orçamento doméstico, evitar dívidas com crediário e até investir pequenas quantias no Tesouro Direto. Essa prática, em alguns países da América Latina, já aumentou a capacidade de poupança das famílias em até 30%.

Cenário futuro: construindo igualdade por meio da educação financeira

  1. Tomada de consciência pública: os dados de concentração de renda precisam chegar à população como motivação para buscar ferramentas práticas de mudança. Escolas públicas que ensinam alunos a administrar uma mesada fictícia têm formado jovens mais conscientes no uso de crédito e consumo.
  2. Política tributária transformadora: é necessário tributar mais justamente quem tem mais renda, para reduzir a carga dos mais pobres. Por exemplo: em países como o Chile, a tributação de dividendos foi usada para financiar programas de capacitação de microempreendedores.
  3. Educação financeira como política pública estruturada: inserir conteúdos de gestão orçamentária em escolas, CRAS e UBS. Por exemplo, oficinas comunitárias podem ensinar como usar aplicativos gratuitos de controle de gastos, que já ajudam milhões de brasileiros a se organizarem melhor.
  4. Cultura de poupança e proteção social: ensinar famílias a economizar um pouco, sempre que possível.

Estratégia de sobrevivência

A desigualdade de renda no Brasil é alarmante e o sistema tributário agrava essa disparidade. Para as famílias de baixa renda, a educação financeira não é apenas uma competência, mas uma estratégia de sobrevivência.

Quando combinada com políticas progressivas, programas de transferência de renda e medidas tributárias justas, a educação financeira torna-se uma alavanca de transformação social e econômica.

Exemplos simples, como substituir gastos invisíveis, construir uma reserva emergencial ou acessar microcrédito de forma consciente, mostram que pequenos passos podem gerar grandes mudanças.

Assim, o futuro da igualdade no Brasil não depende apenas de reformas estruturais, mas também de cada família compreender que, mesmo em meio à desigualdade, é possível conquistar mais segurança, oportunidades e dignidade através da educação financeira.

Pensem nisso e até a próxima!

Ana Alves

@anima.consult

animaconsultoria@yahoo.com.br

Economista, Consultora, Professora e Palestrante

Avatar

Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

Adcionar comentário

Clique aqui para postar um comentário