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Como drones usados na guerra da Ucrânia migraram para o crime no Brasil

O uso de drones armados por facções criminosas marcou um ponto de virada na segurança pública brasileira. Durante a megaoperação com 2.500 policiais nos Complexos do Alemão e da Penha, na última quarta-feira, dia 28 de outubro de 2025, o Estado foi surpreendido por uma nova tática: ataques aéreos realizados com granadas e bombas de fumaça lançadas de drones controlados pelo Comando Vermelho (CV). A ofensiva revelou uma nova dimensão do poder das facções, agora capazes de dominar também o espaço aéreo das cidades.

Facções criminosas usam tecnologia militar adaptada para ataques aéreos em favelas; especialistas alertam que o país vive uma nova era no combate urbano

A verticalização do conflito urbano: como drones de guerra migraram da Ucrânia para o crime no Brasil | Fernando Frazão / Agência Brasil
A verticalização do conflito urbano: como drones de guerra migraram da Ucrânia para o crime no Brasil | Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

O uso de drones armados por facções criminosas marcou um ponto de virada na segurança pública brasileira. Durante a megaoperação com 2.500 policiais nos Complexos do Alemão e da Penha, na última quarta-feira, dia 28 de outubro de 2025, o Estado foi surpreendido por uma nova tática: ataques aéreos realizados com granadas e bombas de fumaça lançadas de drones controlados pelo Comando Vermelho (CV). A ofensiva revelou uma nova dimensão do poder das facções, agora capazes de dominar também o espaço aéreo das cidades.

Da guerra para as ruas

Essa tecnologia não nasceu no submundo do crime, mas nos campos de batalha da Ucrânia. Desde 2022, o país se tornou o maior laboratório militar de drones do mundo. Grupos civis e militares, como a organização Aerorozvidka, adaptaram equipamentos comerciais, como os da marca DJI, para reconhecimento e ataque. Com criatividade e poucos recursos, surgiram soluções baratas e eficazes: drones de corrida FPV (First-Person View) transformados em mísseis guiados, capazes de destruir tanques e bases inimigas por uma fração do custo.

 

O “manual” da guerra moderna

Com o avanço da internet, o conhecimento técnico sobre drones de guerra se espalhou rapidamente. Tutoriais, vídeos e fóruns de discussão transformaram as experiências ucranianas em um manual global de instruções. A informação chegou a grupos criminosos de todo o mundo, como os cartéis mexicanos de Sinaloa e Jalisco Nueva Generación (CJNG), que passaram a usar drones armados com explosivos plásticos e estilhaços contra rivais e forças de segurança. No Brasil, o mesmo roteiro foi seguido e em tempo recorde.

O voo do crime no Brasil

No país, o uso dos drones evoluiu em três etapas. A primeira foi logística: facções usavam os aparelhos para transportar drogas, armas e celulares em presídios. A segunda, de inteligência: os drones passaram a vigiar territórios, monitorar rivais e até antecipar ações da polícia. A terceira fase, e a mais preocupante, é a militarização. Em julho de 2024, um drone foi flagrado lançando explosivos no Rio de Janeiro, e meses depois a “Operação Buzz Bomb”, da Polícia Federal, revelou o uso de drones lança-granadas em disputas entre o CV e milicianos.

A sofisticação dos ataques esconde um detalhe assustador: o custo é baixo. Drones comerciais, que custam entre R$ 7 mil e R$ 50 mil, são facilmente modificados com acessórios simples, como ganchos e garra mecânicas vendidas por cerca de R$ 120. Hackers ainda desbloqueiam os sistemas de segurança para ampliar alcance e altitude, dificultando a identificação dos operadores. A preocupação das autoridades é que o exemplo se espalhe rapidamente, levando outras facções a replicarem a tática e ampliando o alcance da violência aérea.

A resposta do Estado

O poder público ainda busca uma resposta à altura. No Congresso, o projeto de lei 3835/24 propõe criminalizar o uso de drones por organizações criminosas, com penas que podem chegar a 12 anos. Enquanto isso, as forças de segurança tentam desenvolver estratégias de defesa e adquirem sistemas antidrone. Entre as tecnologias em análise estão as de interferência e “tomada de controle”, como o sistema EnforceAir, que permite capturar o comando do drone e pousá-lo com segurança. Porém, derrubar um equipamento carregado com explosivos em áreas densamente povoadas ainda é um enorme risco.

Baseado em artigo de Roberto Uchôa de Oliveira Santos, pesquisador e doutorando do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal).

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Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

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