No próximo ano, alunos terão que escolher disciplinas do próprio interesse para compor o currículo escolar.

A partir de 2026, o novo modelo de Ensino Médio previsto na Lei Federal (14.945/2024) passa a ser obrigatório no Brasil, embora algumas redes de ensino já tenham iniciado a transição em 2025. No Ceará, o que ainda falta ser implementadas são os chamados itinerários formativos, disciplinas de aprofundamento escolhidas a partir do interesse dos estudantes.
O novo formato já vem sendo implementado no Brasil com base na Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) n.º 2, de 13 de novembro de 2024. Alguns estados, como Pernambuco e Rio de Janeiro, iniciaram o ano de 2025 com todas as séries adaptadas. Enquanto outras unidades federativas, incluindo o Ceará, optaram pela implementação escalonada por turmas.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, a secretária executiva do Ensino Médio e Profissional da Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), Jucineide Fernandes, afirma que o Estado já aplicou em 2025 o aumento da carga horária da Formação Geral Básica (FGB), que inclui Matemática e Português, nas primeiras séries do Ensino Médio.
Assim, quem ingressar na 2ª série em 2026 também já será contemplado. A previsão de encerramento do ciclo será em 2027, quando ocorrerá a inclusão do 3º ano.
Essa ampliação foi um dos pontos mais defendidos pelos professores durante as discussões no Novo Ensino Médio. No ciclo de adaptação do modelo antigo de 2017, as disciplinas obrigatórias haviam perdido tempo de aula com a redução da carga horária para 1.800 horas.
Agora, conforme a lei sancionada, o tempo de aula dessas matérias deve ser de 2.400 horas, enquanto a carga horária do currículo flexível diminuiu de 1.200 para 600 horas. Ao todo, devem ser cumpridas 3.000 horas nos 3 anos do Ensino Médio.
será a carga horária de Formação Geral Básica cumprida na rede estadual do Ceará, ao final do processo de implementação, afirma a Seduc.
Currículo flexível
A grande alteração prevista para o ano letivo de 2026, segundo Jucineide, é a consolidação dos itinerários formativos de aprofundamento (IFAs). Em novembro, os alunos do 1º ano vão optar por qual itinerário desejam seguir. No Ceará, a carga horária mínima dos IFAs será de 240 horas ao ano, totalizando 720h/a ao longo do Ensino Médio.
O objetivo dos IFAs é que os estudantes possam escolher disciplinas do próprio interesse, tornando a escola mais atrativa. Para isso, os alunos que atualmente cursam a 1ª série do Ensino Médio já estudam disciplinas eletivas como uma preparação para a escolha desses percursos educacionais.
Conforme o Conselho Nacional da Educação (CNE), órgão do Ministério da Educação (MEC), os itinerários devem ser desenvolvidos por meio de projetos interdisciplinares, com ênfase nas áreas de conhecimento escolhidas pelos alunos.
“Hoje, eles estão fazendo essas eletivas justamente para saber como fazer a escolha [no próximo ano], compreender a mudança curricular, entender que mesmo estudando na mesma escola e na mesma série, podem ter percursos diferentes na formação, considerando seus desejos, perspectivas e projeto de vida”, explica Jucineide.
Cada escola do Ceará irá ofertar de dois a quatro itinerários, a depender da estrutura que possui. Instituições com um número menor de turmas podem optar pela escolha de dois itinerários, enquanto aquelas com mais turmas podem ofertar os quatro, garantindo um portfólio maior para a escolha dos estudantes.
Nas escolas de tempo integral (EEMTI) e nas regulares, os IFAs terão 6 horas semanais, divididos em 4 horas para as áreas de conhecimento e 2 horas para o Projeto de Vida. “É o nosso componente curricular ‘Formação para Cidadania’, onde a gente trabalha o projeto de vida do estudante e também o desenvolvimento das competências socioemocionais, das habilidades sociais”, elucida.
“No próximo ano, na segunda série, o currículo deles vai ter a formação geral básica, que são as linhas comuns, e o itinerário formativo de aprofundamento, que é a área de conhecimento específico que eles mais se identificam”
Nas eletivas, os alunos podem se aprofundar e aprender na prática, como a estudante Kamylla Araújo, de 15 anos, aluna do 1º ano do Ensino Médio na EEMTI Padre Marcelino Champagnat, no bairro Barroso, em Fortaleza.
“Escolhi a eletiva de Química porque no ano passado, durante o 9º ano, a gente não tinha essa matéria. Era tudo dentro de Ciências. Como para mim foi algo novo e já que tinha a oportunidade de ver como é a química, na prática, vou escolher a de Química”, comenta. Com objetivo de cursar Medicina, ela também decidiu focar em Biologia para “começar, a partir de agora, a ver tudo que envolve a parte de saúde”.
Capacitação de professores
Segundo Jucineide, o grande desafio da nova política envolve a capacitação continuada dos docentes, uma vez que muitos são formados dentro do componente curricular específicos (como História ou Matemática) e precisarão para trabalhar no formato por área que os novos itinerários exigem, como área de Ciências Humanas, e não apenas História.
Para isso, os professores já estão à frente da criação das disciplinas eletivas, elaborando programas que estejam dentro de suas competências. “Queremos que se sintam à vontade ensinando o componente que têm habilidade”, afirma. Segundo ela, a intenção é que o docente não seja exigido e sobrecarregado por uma tarefa que a formação inicial não cobriu.
“Nós enquanto Seduc temos que ajudar nesse processo formativo dos professores também porque estamos sugerindo que as áreas sejam trabalhadas com metodologias ativas, com muita intenção e participação dos estudantes”, afirma Jucineide Fernandes.
Antes da escolha dos itinerários pelos alunos, os professores e gestores escolares participarão de uma série de webinários para conhecer mais sobre os percursos educacionais.
E o que muda no Enem?
Na sanção publicada no Diário Oficial da União em 2024, Lula vetou o ponto que se referia à possibilidade de cobrança da parte flexível do currículo no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Assim, o Enem e os vestibulares tradicionais devem cobrar somente os conteúdos da formação geral, com disciplinas obrigatórias como português, matemática, ciências da natureza (biologia, física, química) e ciências humanas (filosofia, geografia, história, sociologia) nas seleções para ingresso no ensino superior.
Em nota enviada ao Diário do Nordeste, o Ministério da Educação afirmou que cabe ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) definir cronograma de atividades para as adaptações necessárias à realização do Enem, “de modo a assegurar que sua aplicação esteja plenamente alinhada a Resolução CNE/CEB nº 2/2024 até 2028”.
O que é o Novo Ensino Médio
Sancionada pelo presidente Lula (PT), a Lei Federal (14.945/2024) estabelece mais aulas da Formação Geral Básica — que inclui Matemática, Geografia, História e Português — e cria os itinerários formativos de aprofundamento. Ela também determina a carga horária total mínima de 3.000 horas ao longo de três anos.
O tempo de formação deverá ser distribuído em 2.400 horas de formação geral obrigatória, alinhada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e 600 horas dos itinerários formativos, que possibilita o aprofundamento em áreas específicas.
Já na Educação Profissionalizante, a carga horária da formação básica será de 2.100 horas, com até 300 horas voltadas para conteúdos ligados diretamente ao curso técnico, e 900 a 1.200 horas de itinerário técnico-profissional.
Os itinerários formativos de aprofundamento, segundo o Ministério da Educação, serão realizados através da oferta de projetos interdisciplinares e integradores e organizados com ênfase nos componentes curriculares que compõem áreas de conhecimento escolhidas. Os percursos educacionais são de livre escolha dos estudantes.
Eles serão divididos da seguinte forma:
- Linguagens e suas tecnologias;
- Matemática e suas tecnologias;
- Ciências da Natureza e suas tecnologias;
- ou Ciências Humanas e sociais aplicadas.










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