Consolidação de marca e concorrência local estão entre fatores que explicam cenário.

Nos últimos anos, os cearenses de Fortaleza e de cidades como Juazeiro do Norte, Sobral, Caucaia e Maracanaú viram as principais vias serem tomadas pelos atacarejos. Contudo, esse ritmo de aberturas reduziu drasticamente nos últimos 12 meses, com somente uma inauguração.
Sobretudo as três principais bandeiras de atacarejo do Brasil — Atacadão, Assaí e Mix Mateus —, integrantes dos maiores grupos varejistas do País, somam 42 lojas no Ceará. Mais da metade foi inaugurada entre 2020 e 2024, em meio ao declínio dos hipermercados.
- Atacadão: 14 lojas (oito em Fortaleza, duas em Juazeiro do Norte, uma em Caucaia, Eusébio e Maracanaú cada);
- Assaí: 15 lojas (dez em Fortaleza, uma em Caucaia, Iguatu, Juazeiro do Norte e Maracanaú cada);
- Mix Mateus: 13 lojas (três em Fortaleza, uma em Aracati, Canindé, Caucaia, Itapipoca, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Maranguape, Russas, Sobral e Tianguá cada).
A abertura de novas lojas, todavia, não é o único indicativo de sucesso de uma empresa, já que esse movimento pode estar relacionado a planos de negócios de longo prazo, à diversificação de investimentos e a outras prioridades estratégicas.
Segundo especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste, o que tem levado os atacarejos nacionais a reduzir o ritmo de inaugurações no Ceará são razões que vão desde a consolidação das principais bandeiras até a crescente concorrência do varejo supermercadista local, puxado pela força das marcas cearenses. Leia análise a seguir.
Últimas aberturas no Ceará
No último ano, porém, somente duas aberturas foram registradas, ambas do Mix Mateus em Fortaleza. Foi inaugurada a sede da empresa, no bairro José Walter, em outubro de 2024. Neste ano, também em outubro, o grupo abriu as portas da loja no Jangurussu, nas margens da BR-116.
Atacadão e Assaí, por sua vez, aproveitaram até o primeiro semestre do ano passado os espaços deixados por Carrefour e Extra, bandeiras de hipermercados descontinuadas no Estado.
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A última abertura do Atacadão foi em junho do ano passado, no bairro de Fátima, uma conversão do antigo Carrefour. Já o Assaí não inaugura novas lojas desde outubro de 2023, quando abriu um atacarejo também em Fortaleza, no Cais do Porto.
“É uma tendência nacional. Eles não só estão reestruturando a quantidade de lojas como estão fechando algumas. Ou seja, os supermercadistas, inclusive atacarejos, estão tentando criar novos formatos varejistas que impliquem na redução de custo, não só para a própria estrutura do supermercado, como também para os clientes”, classifica.
Para efeitos comparativos, nas previsões para 2026, o Assaí prevê 10 inaugurações nos comunicados ao mercado voltado para acionistas da Bolsa de Valores (B3), consolidando ainda mais as conversões do antigo hipermercado Extra.

Nem mesmo o Carrefour ficou de fora da contagem. O grupo francês, dono da bandeira Atacadão, praticamente extinguiu a bandeira da região Nordeste. Todos os hipermercados Carrefour do Ceará tiveram atividades encerradas, e duas das antigas cinco lojas foram convertidas em Atacadão.
Eles entram na perspectiva definida por Ulysses Reis como uma série de problemas que afligem atualmente a sociedade e o empresariado brasileiro, elevando para a pauta nacional questões percebidas localmente.
“O supermercado tradicional tem um custo bem mais alto, e esse custo que a gente chama de visual merchandising (VM) é caro porque precisa de mais mão de obra, exposição do produto envolve muitas partes de investimento, como refrigeração. Também envolve uma mão de obra mais qualificada, pois os supermercados atendem melhor aos clientes”, explica o especialista.
Força das empresas locais
O professor da FGV pondera que “as unidades supermercadistas que não estão dando resultado esperado estão sendo fechadas”, em clara referência aos modelos de hipermercado.
Na contramão dessa proposta, as redes locais, como São Luiz, Frangolândia e Cometa, inauguram mais lojas na Grande Fortaleza e, em menor grau, no interior.
“Principalmente no Ceará, as redes locais têm características positivas, como a logística. Trabalhar a nível nacional é complicado, aumenta custos e é o que mais se discute: até que ponto vale a pena ter um centro de distribuição ou criar uma cobertura ampliada entre lojas?”, argumenta.
Para Christian Avesque, professor da Faculdade CDL e especialista em varejo, o Ceará reúne redes com força suficiente para frear o avanço de atacarejos nacionais, a ponto de empresas como o São Luiz com o Mercadão, o Frangolândia com o Mega e o Super Lagoa com o Atacadão Lag terem as bandeiras próprias.

As redes locais cearenses têm maior capacidade de investimento consolidada, somos a principal capital do Norte-Nordeste. Tirando o Pinheiro e o Cometa, todas as principais redes locais têm a própria rede de atacarejo. Dentro desse contexto, nosso mercado tem uma saturação de operações. Nossas avenidas, em um raio de 5 km, tem de oito a dez operações”.
Os dois especialistas concordam que, pelo menos em Fortaleza, não falta espaço para expansão das redes nacionais. O que se discute é até que ponto as empresas com sede fora do Ceará estão dispostas a se adaptarem às condições do mercado local.
“A tendência é um crescimento dos atacarejos em substituição aos modelos já existentes. Atacarejos vão substituir vários modelos de supermercados tradicionais. A tendência é o crescimento, principalmente no interior e chegando em Fortaleza”, define Ulysses Reis.








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