Notícias

La Ninã vai trazer chuva em 2026? Institutos divergem sobre chegada do fenômeno ao CE

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa) publicou, neste mês, um aviso oficial indicando a configuração da La Niña no Oceano Pacífico, um fenômeno indutor de chuvas em parte do Norte e do Nordeste do Brasil. No entanto, essa não é a leitura da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), que aponta cautela na análise dos dados.

Resfriamento das águas do oceano precisa influenciar na atmosfera para gerar bom regime de chuvas.

Escrito por
Nícolas Paulinonicolas.paulino@svm.com.br
19 de Outubro de 2025 – 07:00

Uma mulher caminha sob a chuva com um guarda-chuva estampado, enquanto o termômetro de rua marca 24 °C. Ao fundo, carros e pedestres se movimentam entre o trânsito intenso do centro de Fortaleza. A cena retrata um dia nublado e de temperatura amena na capital cearense.
Legenda: Caso se consolide, La Niña pode contribuir para bom início de estação chuvosa no Ceará.
Foto: Davi Rocha

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa) publicou, neste mês, um aviso oficial indicando a configuração da La Niña no Oceano Pacífico, um fenômeno indutor de chuvas em parte do Norte e do Nordeste do Brasil. No entanto, essa não é a leitura da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), que aponta cautela na análise dos dados.

Em boletim datado de 9 de outubro, a Noaa explica que as condições de resfriamento significativo do Pacífico (variando entre -1,0 °C e -0,5 °C) se iniciaram em setembro de 2025.

A agência traz que “as condições de La Niña estão presentes e tendem a persistir de dezembro de 2025 a fevereiro de 2026, com uma transição para neutralidade provável entre janeiro e março de 2026 (55% de chance)”.

No dia seguinte, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), vinculado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) do Brasil, também publicou que La Niña está “oficialmente confirmado”, embora tenha ressaltado que “quanto mais distante o alcance das previsões, maiores são as incertezas”.

Porém, segundo a Funceme, ainda que se observe um resfriamento anômalo das águas do Pacífico, ainda não há o acoplamento necessário entre oceano e atmosfera. Ou seja, as condições estão favoráveis à formação da La Niña, mas o fenômeno ainda não está totalmente configurado.

 

Veja também

 

Em entrevista ao Diário do Nordeste, o diretor técnico da Funceme, Francisco Vasconcelos Júnior, explica que a questão não é “quem está certo ou errado”, mas é a metodologia utilizada a nível global que necessita de tempo para observação.

Assim, é preciso esperar para saber se a atmosfera vai responder ao resfriamento já verificado no Pacífico – para a La Niña ser configurada oficialmente, isso deve ocorrer por cinco trimestres sobrepostos consecutivos.

“A atmosfera demora a responder a isso, não é instantâneo. Então, é algo que demora semanas, meses, aí você começa a ter impacto, a observar realmente modificações marcantes na atmosfera. Só com condições de resfriamento persistidas nós teremos um evento de La Niña”, ressalta.

Efeitos da La Niña

Se houver mesmo a confirmação do fenômeno, haverá impactos em todo o globo. No caso do Brasil, Francisco elenca os principais:

  • chuvas positivas no norte do Nordeste
  • chuvas negativas no extremo sul do Brasil
  • chuvas positivas no extremo leste da Amazônia
  • chuvas negativas no extremo oeste da Amazônia.

Cenário semelhante a 2024

O meteorologista ressalta que, na transição de 2024 para 2025, ocorreu um movimento semelhante. Naquele período, a Noaa mostrou um resfriamento no Pacífico, mas o fenômeno não persistiu e, em janeiro, “já estava tudo neutro de novo”.

Como resultado, janeiro teve um grande acumulado de precipitações, que continuaram em fevereiro e março. Porém, em abril e maio, elas se dissiparam “de uma maneira bem consistente e rápida, tanto que a média pro Estado ficou dentro da normalidade”.

A escassez de chuvas nesses dois meses, inclusive, trouxe perdas significativas para a agricultura de sequeiro – modelo de risco em que a lavoura é instalada durante o período chuvoso, ou seja, dependendo diretamente do sucesso da distribuição das chuvas.

 

“Hoje nós temos, na realidade, uma indicação que, se continuar, teríamos realmente um início de estação chuvosa melhor no próximo ano. Mas ainda é muito cedo pra gente falar isso”, reforça Francisco.

 

As atualizações do cenário chuvoso são compartilhadas com outros órgãos de gestão do Governo do Ceará, principalmente a Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), que administra os açudes estratégicos para o abastecimento, e a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), que desenvolve ações de apoio a produtores rurais.

Atlântico também deve ser monitorado

Apesar dos padrões observados no Oceano Pacífico serem importantes, a Funceme lembra que ele não representa necessariamente um bom período chuvoso para o Ceará. Um exemplo foi o ano de 2012, quando havia configurada situação de La Niña, mas a estação chuvosa ficou abaixo da média.

Assim, o estudo das condições do Oceano Atlântico também é decisivo para definir a qualidade da quadra no Estado. Francisco Júnior explica que ele tem uma dinâmica de mudança mais rápida e mais imprevisível, principalmente no Atlântico Sul.

Em termos atuais, “o Atlântico acaba ficando em segundo plano relacionado a modular a chuva. Quem mandaria mais seria o Pacífico”, resume. Para entender as probabilidades futuras, é preciso seguir monitorando a evolução da temperatura na área.

 

Vista ampla da orla de Fortaleza mostra a praia quase deserta em um dia cinzento. Algumas pessoas caminham à beira-mar e poucas se arriscam nas ondas suaves. Ao fundo, o horizonte urbano exibe a sequência de prédios da Avenida Beira-Mar sob o céu encoberto.
Legenda: Condições de temperatura do oceano Atlântico, que banha a costa do Ceará, devem ser avaliadas.
Foto: José Leomar

 

Previsão até dezembro no CE

O Inmet afirma que é importante acompanhar as atualizações mensais sobre o La Niña, El Niño e previsão climática através do Boletim Agroclimatológico do órgão. A última edição traz previsões do tempo para o Nordeste até dezembro de 2025.

Para os próximos meses, estão previstos volumes de chuva abaixo da média em grande parte do Maranhão, Piauí, além das porções central e noroeste da Bahia.

Contudo, são previstas chuvas acima da média no Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, leste de Pernambuco, centro-leste do Ceará e costa litorânea da Bahia. Para o restante da região, as chuvas devem ser próximas à média histórica.

No mesmo período, as temperaturas do ar deverão permanecer acima da média histórica em todo o Nordeste, com valores entre 0,5 °C e 1,0 °C acima da média. Os maiores aumentos devem ocorrer no leste do Maranhão, Piauí e oeste da Bahia, onde pode ficar até 2 °C mais quente.

 

O boletim também traz alerta para a agricultura: a previsão de armazenamento hídrico do solo indica estoques de água abaixo de 40% em praticamente toda a região durante o trimestre, especialmente no centro-norte da região.

 

O déficit hídrico se intensificará sobretudo na divisa entre Piauí, Ceará e oeste de Pernambuco. “Essas condições podem limitar o desenvolvimento de culturas de sequeiro, tornando essencial a adoção de estratégias adequadas de manejo hídrico”, finaliza.

Avatar

Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

Adcionar comentário

Clique aqui para postar um comentário