O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das doenças que mais tiram vidas no Brasil.
Segundo dados do Portal da Transparência dos Cartórios de Registro Civil, até o início de outubro de 2025, 64.471 pessoas já morreram em decorrência da doença. Isso equivale a uma morte a cada seis minutos.
No ano passado, o número chegou a 85.457 mortes, superando até mesmo os casos de infarto, o que reforça a gravidade do problema. O AVC é hoje um dos maiores desafios da saúde pública no país e no mundo, sendo também a principal causa de incapacidade permanente.
Para os especialistas, o atendimento rápido é decisivo: quanto antes o socorro chega, maiores as chances de sobrevivência e menores as sequelas. Apesar disso, o acesso ao tratamento adequado ainda é desigual em muitas regiões do Brasil.
O AVC ocorre quando o fluxo sanguíneo no cérebro é interrompido ou rompido. Existem dois tipos principais: o isquêmico, causado pela obstrução de uma artéria, e o hemorrágico, provocado pelo rompimento de um vaso sanguíneo. O isquêmico é o mais comum — representa cerca de 85% dos casos — enquanto o hemorrágico costuma ser mais grave e letal.
De acordo com a neurologista Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC, “a cada minuto em que o AVC isquêmico não é tratado, o paciente perde quase dois milhões de neurônios”.
Os principais sintomas de alerta incluem fraqueza ou formigamento em um lado do corpo, dificuldade para falar, alterações na visão, tontura, perda de equilíbrio e dor de cabeça súbita e intensa sem causa aparente.
Ao notar qualquer um desses sinais, o ideal é ligar imediatamente para o Samu (192), já que o tempo é o fator mais importante para evitar sequelas.
Embora o AVC seja mais comum em pessoas idosas, ele também pode ocorrer em jovens e adultos saudáveis, o que surpreende muitos pacientes e famílias. Entre as causas menos conhecidas estão as dissecções arteriais, provocadas por traumas que lesionam artérias cerebrais, e as trombofilias, condições genéticas ou autoimunes que aumentam a formação de coágulos.
Outra causa possível é o forame oval patente, uma pequena abertura no coração que, em certos casos, permite a passagem de coágulos para o cérebro.
As vasculites, inflamações nos vasos cerebrais, também podem desencadear o problema, assim como doenças raras e genéticas, como CADASIL, Moyamoya e doença de Fabry.
Essas condições mostram que o AVC pode ter origens diversas — e que a prevenção vai muito além do controle da pressão ou do colesterol.
Apesar da importância do diagnóstico rápido, o acesso ao tratamento especializado ainda é limitado no Brasil. A neurologista Sheila Martins destaca que “muitos hospitais ainda não têm estrutura ou equipes treinadas para atender casos de AVC de forma imediata”.
Quando o tratamento correto — como trombólise ou trombectomia — é feito a tempo, o risco de sequelas cai drasticamente e o tempo de internação diminui.
Segundo levantamento da consultoria Planisa, entre 2019 e setembro de 2024, o país gastou R$ 910,3 milhões com internações por AVC.
Foram mais de 85 mil hospitalizações, com média de oito dias por paciente, sendo 25% tratados em UTI — números que reforçam o alto custo humano e financeiro da doença.
A boa notícia é que a maioria dos casos pode ser evitada com hábitos saudáveis e acompanhamento médico.
Manter uma alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes e grãos integrais, é um dos passos mais eficazes. Praticar exercícios físicos regularmente, não fumar, moderar o consumo de álcool e controlar a pressão arterial, o colesterol e a glicemia também são medidas essenciais.
Além disso, cuidar da saúde mental e aprender a gerenciar o estresse ajudam a reduzir o risco de desenvolver doenças cardiovasculares.
Como reforça Sheila Martins, “cada morte representa uma vida interrompida — e cada sobrevivente pode precisar de cuidados para sempre. Por isso, prevenir é sempre o melhor tratamento.”











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