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O solo que renasce – como o agro brasileiro está revertendo a degradação e construindo o futuro sustentável

No coração do agronegócio do Brasil, uma revolução silenciosa e fértil acontece nos chapadões e vales. É o solo, outrora cansado e esgotado, que renasce. Abre-se, assim, um novo horizonte para a produção, um caminho que desmistifica a ideia de que o setor não se preocupa com a preservação e aponta para um futuro onde incremento produtivo e sustentabilidade são duas faces da mesma moeda. Às vésperas da COP 30, que será sediada em Belém, o Brasil leva para o centro do debate global um case de sucesso privado, escala e impacto: o Programa REVERTE®.

Às vésperas da COP 30, que será sediada em Belém, o Brasil leva para o centro do debate global um case de sucesso privado, escala e impacto: o Programa REVERTE. O MeioNews percorreu mais de 1,6 mil km para acompanhar esta revolução.

Francy Teixeira

Francy Teixeira

Jornalista

Imagem principal sobre energias renováveis no Brasil
Reverte recupera áreas degradadas e se torna um case global de alinhamento do agro com a sustentabilidade. . Na imagem, Deivid Signor mostra o trabalho desenvolvido na fazenda do Grupo Biancon. | Foto: Francy Teixeira/Meio News

Francy Teixeira – Enviado Especial do MeioNews | Itaúba (MT)

No coração do agronegócio do Brasil, uma revolução silenciosa e fértil acontece nos chapadões e vales. É o solo, outrora cansado e esgotado, que renasce. Abre-se, assim, um novo horizonte para a produção, um caminho que desmistifica a ideia de que o setor não se preocupa com a preservação e aponta para um futuro onde incremento produtivo e sustentabilidade são duas faces da mesma moeda. Às vésperas da COP 30, que será sediada em Belém, o Brasil leva para o centro do debate global um case de sucesso privado, escala e impacto: o Programa REVERTE®.

Percorrendo mais de 1,6 mil km, de Teresina (Piauí) ao Norte do Mato Grosso, o MeioNews testemunhou de perto iniciativas que transformam passivos ambientais e econômicos em ativos de produtividade e resiliência. O fio condutor desta transformação é o REVERTE, programa idealizado pela Syngenta em parceria financeira com o Itaú BBA, que se tornou a maior iniciativa privada de recuperação de áreas degradadas do mundo.

MeioNews foi ao Norte do Mato Grosso verificar os resultados do programa que recupera áreas degradadas. Na foto, Igor Biancon, do Grupo Biancon (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)


OS NÚMEROS DO RENASCIMENTO: REVERTE EM DADOS

Os números impressionam e dão a dimensão da ambição. Atualmente, o programa está presente em 279 mil hectares – uma área maior que a do município de São Paulo. O marco de R$ 2 bilhões em créditos liberados aos agricultores signatários foi recentemente atingido, um capital que irriga a transformação do solo. A meta é audaciosa e clara: restaurar 1 milhão de hectares até 2030.

A abrangência é nacional: são 97 produtores410 propriedades espalhadas por 11 estados brasileirosEm termos de hectares e valores desembolsados, não há no mundo um programa de sustentabilidade desse tamanho. Isso é motivo de muito orgulho, afirma Jonas Oliveira, Gerente do REVERTE e de Projetos de Sustentabilidade da Syngenta.

A governança é rigorosa, com critérios socioambientais desenhados em parceria com a renomada ONG The Nature Conservancy (TNC) e a Embrapa, que fornece as melhores práticas agronômicas.


A VOZ DO AGRICULTOR: “O SOLO É UMA CONSTRUÇÃO”

Irmãos Biancon relatam a mudança no solo após o programa Reverte (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)

Na prática, o REVERTE significa investimento pesado na terra. O custo para converter uma área de pastagem degradada em agricultura produtiva gira em torno de R$ 10 mil a R$ 17 mil por hectare. O valor é aplicado em uma receita complexa: aplicação maciça de calcário (de 5 a 10 toneladas/hectare), gesso, fosfatagem, correção de estradas, aterraceamento e, por fim, o custeio da safra.

Grupo Biancon, pioneiro no programa, é um testemunho vivo dos resultados. Na Fazenda Itaúba, em Itaúba (MT), a primeira a integrar o REVERTE em 2021, a transformação é palpável. Ivan Biancon, que comanda as operações ao lado do irmão Igor, detalha o processo:

A conversão começa com a limpeza da área e a correção do solo. Entramos aplicando de cinco a seis toneladas de calcário por hectare… A diferença [no solo] é muito grande — física, biológica e química… O solo é uma construção. Não se faz em um ano só. Ele vai se corrigindo e se enriquecendo ao longo de várias safras.

Ivan Biancon em área de ILP da Fazenda no Norte do Mato Grosso (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)

Os frutos dessa construção aparecem na produtividade. Da pecuária para a agricultura, a área convertida de 2.200 hectares colheu, no primeiro ano, 56 sacas de soja por hectare. No ano passado, a média foi de 69 sacas. Até o algodão, cultura notoriamente exigente, foi introduzido com sucesso, colhendo mais de 300 arrobas por hectare. “Gostamos tanto do resultado que resolvemos plantar algodão nessas áreas“, comemora o produtor.

Em área recuperada, o grupo Biancon chegou a plantar algodão (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)


O FINANCIAMENTO COMO ALICERCE

viabilidade econômica é o pilar que sustenta a transição sustentável. Sem crédito adequado, a recuperação de áreas degradadas esbarra no alto custo inicial. Foi essa lacuna que a parceria com o Itaú BBA veio preencher. João Adrien, Head de ESG Agro do Itaú BBA, explica a mecânica do financiamento:

O programa possibilita o financiamento com até três anos de carência e até 10 anos de prazo… Ele traz benefícios muito bons, mas, sobretudo, condições muito vantajosas.

Adrien destaca que o programa é cauteloso e exige dos produtores a adesão a rigorosos critérios socioambientais: CAR (Cadastro Ambiental Rural) sem inconformidades, compromisso com desmatamento zero e nenhuma supressão de vegetação nativa após essa data.

A estratégia do Itaú vai além. Luciana Nicola, Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco, contextualiza o REVERTE dentro de um compromisso macro do banco: destinar R$ 1 trilhão para finanças sustentáveis até 2030.

A gente tem pedido muito que as soluções sustentáveis sejam também soluções viáveis. Ou seja, não existe sustentabilidade sem viabilidade econômica… O Reverte é um dos grandes ‘cases’ que a gente tem quando olha para todas as práticas de agricultura regenerativa“, afirma Nicola.


DESMITIFICANDO O AGRO: DO PASSIVO AO ATIVO AMBIENTAL

Um dos objetivos centrais do REVERTE é reposicionar a imagem do agricultor brasileiro. A narrativa, frequentemente dominada por acusações de desmatamento, é contraposta com dados concretos de regeneração.

Jonas Oliveira comemora os resultados do Reverte na fazenda do Grupo Biancon (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)

Jonas Oliveira, da Syngenta, traz a perspectiva do produtor:

Quando a gente começou o programa, alguns clientes perguntavam: ‘Por que vocês estão fazendo esse programa?’… Recentemente, o Alexandre Grant, vice-presidente de sustentabilidade global da Syngenta, visitou comigo um grupo muito bem-sucedido… e perguntou o que tirava o sono deles. E o que eles responderam foi que o que mais tirava o sono era a forma como os agricultores eram vistos no Brasil e fora do país.

A resposta do programa foi mostrar que a sustentabilidade, para ser efetiva, precisa ser boa para todos. E os ganhos são sistêmicos. Oliveira cita exemplos impactantes:

A gente tem exemplos de fazendas no Maranhão, na região de Açailândia, que tinham 4 mil hectares e faturavam R$ 4 milhões por ano. No primeiro ano depois da conversão, a mesma fazenda passou a faturar R$ 40 milhões por ano. Fazendas que geravam oito empregos diretos hoje geram 40 empregos diretos.


A JORNADA DA INTEGRAÇÃO: LAVOURA, PECUÁRIA E FLORESTA

O caminho para a sustentabilidade frequentemente passa pela Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), sistema do qual a Syngenta é uma das fundadoras. No Grupo Biancon, a ILP (Integração Lavoura-Pecuária) é uma realidade. Deivid Signor, agrônomo do grupo, explica os benefícios:

A parte da soja que a gente observou é que, sob qualquer estresse climático, ela não responde tão bem… estamos vendo um grande incremento na produtividade da soja, devido à matéria orgânica deixada pela braquiária, pelo enraizamento e também pelos dejetos bovinos.

Signor detalha o salto produtivo em uma área específica:

Esta área, por exemplo, há dois ou três anos produzia 35 a 38 sacas por hectare. Com a implementação do ILP… conseguimos consolidar, no ano passado, uma produtividade de 58 sacas por hectare. E acreditamos que este ano vamos ultrapassar 65 sacas.

A estratégia é clara:

Para pagar a conta da pecuária, eu planto soja. No ano em que faço a calagem e os investimentos, é a soja que cobre os custos… Com essa integração, conseguimos alcançar sustentabilidade também do ponto de vista econômico“, explica o diretor.


O GRANDE ATIVO BRASILEIRO: SOLO E A OPORTUNIDADE DAS ÁREAS DEGRADADAS

A base de toda essa transformação é um dado crucial, frequentemente ignorado no debate público. O Brasil possui cerca de 160 milhões de hectares de pastagens, dos quais aproximadamente 110 milhões estão em algum nível de degradação. Desse total, 40 milhões de hectares têm potencial para conversão em agricultura.

Esses 40 milhões de hectares poderiam praticamente dobrar a nossa produção de carne, grãos, fibras e energia, sem desmatar nenhum hectare de floresta. Essa é uma grande narrativa — e o Brasil precisa se posicionar e mostrar isso ao mundo“, defende Jonas Oliveira.

João Adrien, head  do Itaú, destaca o interesse do agro com a sustentabilidade (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)João Adrien, do Itaú BBA, ecoa esse pensamento, destacando a “dupla aptidão” do Brasil: “Ser uma potência agroalimentar e também uma potência na conservação dos recursos naturais.” Ele aponta que a agropecuária é tanto emissora quanto vítima das mudanças climáticas, e a transição é uma questão de sobrevivência econômica.

O grande desafio do mundo… é a transição energética… Para nós, o custo da transição é menor… Se o Brasil seguir a cartilha, o PIB vai crescer, porque vai recuperar áreas, usar mais tecnologia, consumir mais insumos e gerar mais emprego“, analisa Adrien.


COP 30: O BRASIL COMO VITRINE DO AGRO SUSTENTÁVEL

A realização da COP 30 no Brasil, em 2025, não é apenas um evento diplomático, mas uma vitrine sem precedentes para cases como o REVERTE. O Itaú já se prepara para o evento. Ricardo Amatucci, Gerente de Sustentabilidade e Estratégia ESG do Itaú Unibanco, adianta:

O banco tem trabalhado numa série de eventos ao longo do ano, justamente para explicar o que que é a COP para os nossos clientes… A gente vai estar junto com outras sete empresas no modelo de side events lá em Belém, uma casa que vai demonstrar ali diversos cases práticos, várias soluções climáticas escaláveis.”

Luciana Nicola vê a COP como um momento de protagonismo:

O Brasil foi berço da governança climática na Eco-92 e completa 10 anos do Acordo de Paris. É o momento ideal para puxar protagonismo… Acho que o agro será uma vitrine do Brasil na COP e terá um protagonismo muito importante.

João Adrien sintetiza a mensagem que o setor levará para Belém:

De fato, como muitos colocam, o agro é a solução. E acho que essa tem sido a principal mensagem que todos nós vamos levar para a COP. Vocês vão ver isso na prática — visitando propriedades, conhecendo a mentalidade do produtor, vendo como o setor que era problema passou a ser solução.

O repórter viajou ao Mato Grosso à convite da Syngenta e Itaú BBA

Francy Teixeira

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Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

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