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Crise na piscicultura: governo classifica a tilápia como espécie invasora, mas permite que a gigante JBS importe toneladas do mesmo peixe do Vietnã, mesmo com o Brasil sendo o 4º maior produtor mundial

Mesmo sendo um dos maiores produtores do mundo, o Brasil enfrenta críticas após o governo liberar a importação de tilápia do Vietnã, favorecendo concorrentes externos e gerando insegurança entre produtores e trabalhadores do setor aquícola

Publicado em10/11/2025 às 14:56
Atualizado em11/11/2025 às 07:38
Governo libera importação de tilápia do Vietnã e classifica espécie como invasora, gerando críticas e temor de prejuízos à piscicultura brasileira
Governo libera importação de tilápia do Vietnã e classifica espécie como invasora, gerando críticas e temor de prejuízos à piscicultura brasileira

Mesmo sendo um dos maiores produtores do mundo, o Brasil enfrenta críticas após o governo liberar a importação de tilápia do Vietnã, favorecendo concorrentes externos e gerando insegurança entre produtores e trabalhadores do setor aquícola

Você sabia que o Brasil é o quarto maior produtor de tilápia do mundo, atrás apenas da China, Indonésia e Egito?

Segundo o Anuário PeixeBR 2025, o país produziu cerca de 662,2 mil toneladas de tilápia, o que representa um aumento de 14,3% em relação a 2023, quando foram registradas 579 mil toneladas.

Com esse volume, a espécie respondeu por 68,36% de toda a produção de peixes cultivados no Brasil, reforçando sua liderança absoluta no setor.

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Com um mercado que movimenta milhões de reais e sustenta milhares de empregos diretos e indiretos, o setor tornou-se estratégico para a economia brasileira.

Por isso, a recente decisão do governo federal de liberar a importação de tilápia do Vietnã gerou indignação entre produtores e especialistas.

Governo libera importação de tilápia vietnamita

Em abril, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) revogou a proibição que impedia a entrada de tilápia proveniente do Vietnã. A medida foi oficializada por publicação no Diário Oficial da União e, desde então, tem sido alvo de fortes críticas.

A Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) classificou a decisão como “imprudente”. Segundo a entidade, “a revogação dessa suspensão desconsidera os riscos sanitários apontados anteriormente e ocorre em meio a tratativas comerciais entre os governos do Brasil e do Vietnã”.

A medida é vista pelo setor como um contrassenso: em vez de fortalecer o mercado interno e proteger a produção nacional, o governo abre espaço para um concorrente direto, que pode afetar empregos e reduzir a renda de famílias brasileiras ligadas à piscicultura.

A Tilápia é um dos peixes mais consumidos do Brasil

Primeiros carregamentos já estão a caminho

Segundo a imprensa vietnamita, em 6 de novembro, um contêiner com 24 toneladas de tilápia vietnamita partiu do porto de Ho Chi Minh, com destino ao Brasil.

Esse é o primeiro de 32 contêineres — totalizando 700 toneladas — contratados pelo Grupo JBS para abastecer o setor varejista e de alimentação (HORECA), além do showroom de produtos da empresa.

A chegada da carga ao porto de Santos, em São Paulo, está prevista para 17 de dezembro de 2025.

O episódio marcou a primeira grande operação comercial de importação de tilápia do Vietnã desde a liberação do governo, reacendendo o debate sobre as consequências econômicas e sociais dessa decisão.

Ministério da Pesca reconhece risco de impacto

Questionado sobre o tema pelo CPG CLICK PETROLEO E GÁS, o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) afirmou que a responsabilidade pelas importações é do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), “que cuida diretamente da importação de alimentos”.

MPA também declarou ainda que “tem participado das discussões, sempre buscando a melhor solução para o setor.” Quando indagado se reconhece que a importação pode gerar impactos econômicos e sociais sobre produtores, cooperativas e trabalhadores brasileiros, o ministério respondeu:

Estamos avaliando e monitorando os possíveis impactos em curto e longo prazo.”

A resposta indica que o próprio governo admite o potencial de desequilíbrio que a entrada do produto estrangeiro pode causar em uma cadeia produtiva que vinha apresentando forte desempenho e crescimento constante.

Já o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) se limitou a encaminhar o link da nota oficial sobre o tema, afirmando que a inclusão da tilápia na Lista Nacional Oficial de Espécies Exóticas Invasoras “tem caráter técnico e preventivo, não implicando banimento, proibição de uso ou cultivo.

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Tilápia “Invasora”? Governo CRIA DIFICULDADE e JBS IMPORTA peixe do VIETNÃ

Produtores temem burocracia e perda de competitividade

Mesmo com as garantias oficiais de que a criação de tilápia continuará sendo permitida, o setor aquícola vê a decisão com preocupação.

O temor é que, em nome de acordos comerciais e decisões técnicas, o governo comprometa um dos segmentos mais promissores do agronegócio brasileiro.

Enquanto o Vietnã expande sua presença no mercado global, os produtores nacionais temem ver a tilápia – símbolo da piscicultura brasileira – nadando contra a corrente das próprias políticas públicas do país.

Tilápia lidera a piscicultura brasileira

Os números mostrados no começo do artigo refletem o avanço tecnológico e o aumento da produtividade nos principais polos produtores, localizados em estados como Paraná, São Paulo, Bahia e Ceará.

De acordo com o portal Seafood Brasil, o crescimento também foi impulsionado pela expansão de tanques-rede e pelo fortalecimento da cadeia de processamento, que tem garantido produtos com maior valor agregado e melhor acesso a mercados externos.

No comércio internacional, o setor exportou cerca de 13,7 mil toneladas de peixes de cultivo em 2024, com receitas aproximadas de US$ 59 milhões, segundo dados do Estadão Agro.

PeixeBR estima ainda que a piscicultura nacional – da qual a tilápia é o principal componente – gere em torno de 3 milhões de empregos diretos e indiretos em todo o país, movimentando uma ampla cadeia que vai desde a produção de ração até o beneficiamento e a logística.

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Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

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