Prova feita anualmente por milhões de estudantes coleciona histórico de falhas.

A tensão natural de quem precisa se sair bem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para ingressar no ensino superior público se estende, em geral, para depois do exame. Isso porque a prova registra, historicamente, falhas de logística, vazamentos e problemas que já chegaram a anular a aplicação.
Neste ano, a segurança do Enem entrou em xeque e três questões foram anuladas após o estudante de medicina Edcley Teixeira, de Sobral, no Ceará, ter adiantado enunciados idênticos aos que apareceriam nas provas de ciências da natureza e matemática, aplicadas dia 16 deste mês.
O Diário do Nordeste relembra outras polêmicas envolvendo o Exame Nacional do Ensino Médio, aplicado desde 1998 como avaliação da última etapa do ensino básico, mas transformado em processo seletivo para o ensino superior somente em 2009 – quando começaram os problemas.
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2009 – Vazamento de caderno

Um dos episódios mais marcantes envolvendo o Enem ocorreu no primeiro ano de uso dele como seleção para universidades. Em outubro de 2009, a prova foi cancelada dois dias antes da aplicação, devido ao vazamento de um dos quatro cadernos disponibilizados aos candidatos.
À época, a Polícia Federal abriu inquérito e identificou que as questões foram roubadas por um funcionário da gráfica onde o Enem era impresso. Ele tentou vender a prova por R$ 500 mil a uma repórter do jornal O Estado de S. Paulo, que denunciou o caso ao Ministério da Educação (MEC).
O exame foi cancelado e aplicado cerca de dois meses depois, já em dezembro. Mais de 4 milhões de estudantes estavam inscritos, e o prejuízo do adiamento foi estimado por órgãos oficiais em R$ 45 milhões.
2010 – Erro de impressão

Já em 2010, outro problema, mas de menor dimensão, afetou candidatos que receberam o caderno de provas amarelo: durante a aplicação, eles identificaram questões duplicadas e até fora de ordem, prejudicando a resolução. Os gabaritos também tinham cabeçalhos trocados.
Um mês depois, a gráfica responsável pela impressão do Enem assumiu a responsabilidade pelo erro e confirmou que a falha atingiu um dos lotes, com cerca de 21 mil cadernos de prova sendo distribuídos aos candidatos.
Com o problema, 9,5 mil pessoas de 17 estados foram convocadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para refazer a prova, em dezembro daquele ano. Metade não compareceu.
2011 – ‘Vazamento’ em Fortaleza

Em 2011, mais de mil estudantes do Colégio Christus, em Fortaleza, tiveram as provas do Enem anuladas após uma investigação da Polícia Federal constatar que parte deles teve acesso antecipado a 14 questões que cairiam na edição daquele ano.
Um simulado aplicado pela escola repetia enunciados idênticos, coincidência que gerou suspeitas. O Inep explicou que as questões teriam sido copiadas durante um pré-teste em 2010, etapa em que algumas escolas recebem itens para avaliação de dificuldade. O material deveria ser devolvido e incinerado, o que não aconteceu.
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Além dos concluintes, alunos do cursinho pré-vestibular da instituição receberam uma apostila contendo as questões, o que foi identificado pela investigação já em dezembro daquele ano. Eles tiveram os itens anulados e a nota recalculada.
O Ministério Público Federal no Ceará (MPF-CE) solicitou a anulação do Enem para todos os estudantes do País, alegando violação ao princípio da isonomia, mas não houve sucesso.
Em 2013, um professor, coordenador pedagógico da escola, foi condenado a seis anos de reclusão por envolvimento no crime.
2012 – Eliminações e ataque hacker
No Enem 2012, mais de 60 candidatos foram desclassificados por publicarem fotos dos cartões-resposta e até dos cadernos de prova nas redes sociais, ainda dentro dos locais de aplicação.
Além disso, em pleno último dia de Sisu (Sistema de Seleção Unificada), ao final de dezembro daquele ano, a página de resultados individuais foi retirada do ar pelo Inep por meia hora, após ataques hackers tentarem acessar o conjunto de notas.
Os problemas, contudo, não alteraram a dinâmica do exame, que seguiu normalmente o calendário de divulgação de resultados.
2013 – Locais de prova errados no CE
A uma semana do Enem 2013, estudantes de Fortaleza identificaram ambiguidades na divulgação dos locais de prova. No cartão impresso que chegava à casa dos candidatos via Correios, havia um endereço; no site, o local era outro.
O erro foi identificado pelo Inep, que confirmou que apenas cerca de 400 estudantes da capital cearense haviam sido atingidos. Os cartões impressos corrigidos foram reenviados aos alunos.
2014 e 2015 – Novos vazamentos

A Polícia Federal confirmou, em 2014, que o tema da redação do Enem daquele ano – “Publicidade Infantil no Brasil” – vazou. Uma foto da prova foi enviada a um candidato do Piauí cerca de uma hora antes da aplicação. Ele mesmo formalizou denúncia à PF.
Estudantes do Ceará também receberam a imagem. O Ministério Público Federal no Estado (MPF/CE) instaurou procedimento para apurar o caso, mas concluiu, a partir do trabalho da PF, que não houve beneficiados com o vazamento, e o arquivou em 2015.
Relatório pericial da PF concluiu que as irregularidades não tiveram potencial de ferir o princípio da isonomia. O responsável pelo vazamento não foi identificado.
Já em 2015, novas suspeitas de vazamento foram levantadas após imagens de duas supostas capas de caderno de provas e da folha de redação circularem nas redes sociais. Na ocasião, o Inep afirmou que as “provas” eram falsas.
2016 – Três aplicações do Enem

O ano de 2016 foi marcado por protestos de estudantes contra a PEC do Teto, que limitava os gastos públicos por 20 anos, afetando o orçamento da educação. Diversas escolas e instituições de ensino superior foram ocupadas por alunos, impossibilitando a aplicação do Enem daquele ano.
O MEC decidiu adiar o exame em mais de 300 locais de provas, e cerca de 271 mil candidatos precisaram fazer o exame somente em dezembro. Dessa forma, o Enem 2016 teve três aplicações, e não somente duas, como de praxe.
2019 – Erros nas notas
Quase 6 mil estudantes que prestaram o Enem em 2019 tiveram problemas nas notas devido a erros no processo de impressão das provas e dos cartões-resposta. As falhas, confirmadas pelo Inep, foram causadas pela gráfica.
O problema ocasionou transtornos aos candidatos no momento de realizarem a inscrição no Sisu, levando o MEC a estender o prazo para os alunos tentarem uma vaga em instituições de ensino superior.
2023 – Novo vazamento
A Polícia Federal identificou um responsável por vazar a prova do Enem de 2023, feita em novembro daquele ano. Uma pessoa contratada para aplicar a prova no Pará fotografou a prova de redação ainda durante a aplicação e encaminhou a uma amiga, resultando no vazamento.
Outra polêmica da edição foi a alocação de candidatos em locais muito distantes das residências, alguns em outras cidades, o que o ministro Camilo Santana atribuiu como erro da empresa responsável pela logística. O problema foi corrigido.
2025 – Questões anuladas

Três questões do Enem 2025 foram anuladas pelo Inep após suspeita de vazamento por Edcley Teixeira, estudante de medicina de Sobral e monitor de um “cursinho” pré-vestibular online. A Polícia Federal foi acionada para investigar o caso.
O estudante publicou que “previu” questões das provas de Matemática e Ciências da Natureza, realizadas no segundo dia de Enem. Nas redes sociais, ele exibiu capturas de tela nas quais prova que adiantou a alunos questões idênticas às encontradas no Enem.











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