O exame de PSA — sigla em inglês para antígeno prostático específico — continua sendo o principal marcador utilizado para identificar precocemente o câncer de próstata. Embora não funcione como diagnóstico definitivo, o teste tem potencial real de salvar vidas. É o que confirma um estudo publicado em outubro no The New England Journal of Medicine, um dos periódicos científicos mais respeitados do mundo.
A pesquisa acompanhou, por 23 anos, os resultados de saúde de 162 mil homens. O achado principal foi contundente: realizar o PSA de forma periódica reduziu em 13% as mortes por câncer de próstata em comparação ao grupo que não seguiu um rastreamento regular.
O urologista Ariê Carneiro, coordenador da pós-graduação de Cirurgia Robótica em Urologia do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca a relevância dos dados, mas faz uma ponderação importante: o estudo começou em 1993, época em que não existiam recursos como ressonância magnética, terapias focais e cirurgias robóticas.
“Se o mesmo estudo fosse iniciado hoje, os resultados provavelmente mostrariam uma diferença ainda maior”, avalia.
Outro ponto observado é a frequência dos exames na pesquisa: os intervalos eram bem mais longos do que os recomendados atualmente pelas principais sociedades médicas. Enquanto na França o PSA era feito a cada dois anos, na Bélgica a triagem chegava a ser realizada a cada sete anos — uma média de um exame a cada quatro anos, considerada insuficiente pelos especialistas.
“Para nós, isso é praticamente não acompanhar. Confunde os resultados e exige cautela na interpretação”, complementa Carneiro.
Apesar dessas limitações, o estudo reforça um ponto essencial: mesmo com rastreamento esparso, vidas foram salvas.
A importância de acompanhar
Os autores lembram que um PSA elevado não significa, necessariamente, câncer. Falsos positivos ocorrem e podem levar a biópsias desnecessárias, procedimentos desconfortáveis e de custo elevado. Já o toque retal, antes considerado obrigatório, hoje é reservado a situações específicas — sendo um exame complementar útil para identificar tumores raros que não elevam o PSA e costumam ser mais agressivos.
O fundamental, reforçam os especialistas, é manter o acompanhamento médico regular.
“O diagnóstico precoce permite abordagens menos invasivas e, em alguns casos, nenhuma intervenção ativa é necessária”, afirma Carneiro.
O maior problema no Brasil, segundo o urologista, é justamente a falta de acompanhamento.
“Quatro em cada dez tumores de próstata no país só são descobertos quando já estão metastáticos”, alerta.
Com a combinação de tecnologia, informação e prevenção, a mensagem é clara: acompanhar é proteger a vida.
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