Doença tem progressão rápida e alta letalidade.

Com capacidade de evoluir rapidamente para óbito, a meningite é uma doença grave, considerada uma emergência médica. Diante de um paciente confirmado, os profissionais da saúde precisam agir de forma rápida e efetiva para salvar a vida. Segundo o médico Marcos Gonçalves*, as meningites mais comuns são as infecciosas, causadas por vírus ou bactérias.
No entanto, um dos desafios de tratamento ocorre no momento de identificar a doença. Isso porque os sintomas são inespecíficos, ou seja, a pessoa pode registrar febre, tontura, vômito ou outros sinais presentes em diversos tipos de infecção.
“Não costumam identificar cedo e, quando identificam, nem sempre tratam corretamente”, explicou o Marcos, que realizou uma Masterclass sobre o assunto para evento da biofarmacêutica GSK, em São Paulo. A meningite muitas vezes é confundida com dengue ou virose.

Com atuação na pediatria, Marcos chegou a atender crianças com a doença. Dentre os sinais que chamam sua atenção, estão:
- Estado geral comprometido;
- Rigidez de nuca;
- Sinais em pele;
- Sinais de doença grave.
Apesar da doença ter registrado queda no número de casos durante a pandemia, sua incidência tem gradualmente retornado, o que acende o alerta para os cuidados que devem ser tomados.
O que é a meningite?
A meningite é uma condição que ocorre quando há um processo inflamatório das meninges que envolvem o encéfalo e a medula espinhal.
Ela é considerada uma doença de difícil diagnóstico, com evolução rápida e alta letalidade. Conforme Marcos, os sintomas iniciais são inespecíficos, podendo ser confundidos com outras doenças. Ainda assim, um paciente pode morrer em cerca de 24 horas.
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Por que é tão grave?
A doença tem algumas características que tornam o quadro tão grave, como:
- Rápida e imprevisível: possui uma rápida evolução, com os sintomas se agravando a óbito em 24 horas;
- Alta taxa de letalidade: a doença possui alta taxa de letalidade;
- Difícil diagnóstico: os sintomas iniciais são inespecíficos e dificultam o diagnóstico clínico nas primeiras horas;
- Sequelas por toda a vida: a doença pode causar sequelas permanentes nos sobreviventes, como amputação.
Quais os tipos de meningite?
Diversos tipos de bactérias, vírus e protozoários podem causar a meningite. No entanto, as bactérias Neisseria meningitidis e Streptococcus pneumoniae são responsáveis por 80% dos casos, segundo o especialista Marcos Gonçalves.
Os casos de meningites virais costumavam ser os mais comuns, no entanto, depois da pandemia, houve uma queda desse tipo e um aumento de casos das meningites bacterianas.
Vale ressaltar que nem toda meningite é meningite meningocócica.
Diferenças entre os tipos de meningites bacterianas
Apesar de existirem vários tipos, as mais comuns, que representam 80% dos casos, são:
- Pneumococo (Streptococcus pneumoniae): possui mais de 100 sorotipos, costuma ser associado a pneumonia, meningite e sepse;
- Meningococo (Neisseria meningitidis): possui 12 sorogrupos, mas os principais são A, B, C, W e Y.
Por muito tempo, o sorogrupo C foi o mais predominante no Brasil, sendo alvo da vacina do SUS. Atualmente, o sorogrupo B se tornou o principal no País, responsável por causar surtos de alta letalidade.
A ocorrência se concentra principalmente em crianças menores de 5 anos, conforme dados do painel de meningite do Ministério da Saúde.
Veja os primeiros sintomas da meningite
Nas oito primeiras horas, os pacientes apresentam sintomas inespecíficos, como:
- Irritabilidade;
- Perda de apetite;
- Febre;
- Náusea/Vômito,
- Coriza;
- Dores em geral;
- Dor em membros inferiores;
- Sonolência.
No entanto, logo depois, entre nove e 15 horas da infecção, os pacientes registram rigidez na nuca, fotofobia, presença de manchas pelos corpos.

Por fim, próximo de 24 horas, os pacientes já apresentam sintomas graves, que podem ser letrais, como:
- Confusão/delírio;
- Perda de consciência;
- Convulsão;
- Choque séptico;
- Falência multi-sistêmica.
A meningite pega pelo ar?
A transmissão da meningite ocorre de pessoa para pessoa por meio de gotículas ou secreções respiratórias. Ao contrário da gripe, que pode ter um contágio pelo ar, a meningite ocorre através do beijo, tosse, espirro, compartilhamento de objetos ou mesmo de saliva a partir da fala.
Diagnóstico da doença
O diagnóstico é confirmado a partir de exames de sangue, averiguando hemograma, eletrólitos, glicemia, entre outros; exame de imagem e punção lombar. A punção lombar ocorre quando extrai o líquido cefalorraquidiano presente entre as vértebras.
Com o líquido extraído, é preciso realizar o:
- Isolamento da bactéria no líquor;
- Isolamento da bactéria no sangue em pacientes com alteração no líquor;
- Detecção da bactéria no líquor por diagnóstico molecular.
Qual o melhor tratamento?
Para tratar meningite, Marcos explicou que o melhor tratamento consiste em aplicar antibióticos, garantir isolamento respiratório, e dar todo suporte médico de emergência — como o controle de febre e de convulsões, realizar a hidratação venosa e reforçar o oxigênio.
Conter a propagação
Em um caso confirmado da doença, os médicos também recomendam outras ações para além do tratamento no paciente. É preciso conter a propagação da doença.
Assim, um grupo deve receber um antibiótico profilático. Dentre as pessoas que precisam ser alertadas para isso, estão:
- Contatos familiares e íntimos, como creches, orfanatos ou jardim de infância;
- Contatos que permaneceram 4 horas por dia por cinco dias;
- Profissionais da área de saúde que entraram em contato com secreções respiratórias do paciente.
Possíveis sequelas da meningite
Mesmo realizando todo o tratamento, a meningite ainda pode deixar sequelas nos sobreviventes. O especialista afirmou que a doença pode estar relacionada com ansiedade, dificuldade de aprendizado e dificuldades emocionais.
Além disso, os pacientes podem apresentar:
- Perda auditiva;
- Convulsões;
- Deficiência motora;
- Dificuldade cognitiva;
- Deficiência visual.
Em casos mais graves, quando a doença demora a ser identificada, os sobreviventes podem ter amputações, cicatrizes cutâneas e deficiências renais.

Prevenção da meningite
A principal forma de prevenção da doença é por meio da vacinação. Não existe melhor forma de cuidar do que manter um esquema de vacinação atualizado. No entanto, o esquema vacinal vai depender de cada criança. Os pais precisam respeitar o intervalo entre as doses e não esquecer de aplicar as doses de reforço.
É importante lembrar que um só imunizante não protege contra todas as meningites. Existem vários tipos de meningites e de vacinas, por isso, é preciso estar atento a qual imunizante o médico se refere.
* A repórter participou da Masterclass de Meningite da GSK, biofarmacêutica multinacional, em São Paulo.
**Marcos Gonçalves, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP); alergologista e imunologista pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), presidente da Sociedade Alagoana de Pediatria.













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