
O consumo de pornografia no Brasil vem ganhando protagonismo no cenário internacional e revela mais do que hábitos digitais: expõe tendências culturais, padrões de desejo e transformações na forma como o sexo é imaginado e consumido. Segundo dados divulgados pelo site Pornhub, o Brasil avançou três posições no ranking mundial de tráfego e passou a ocupar o 4º lugar entre os países que mais acessam esse tipo de conteúdo. À frente aparecem Estados Unidos, México e Filipinas, que compõem o top três global.
Na América do Sul, o cenário se manteve relativamente estável em comparação com 2024. No Brasil, a preferência pelo conteúdo sexual explícito nacional seguiu predominante, com a categoria “Brasileira” liderando as visualizações.
HENTAI NO TOPO DAS BUSCAS
As pesquisas realizadas por usuários brasileiros também mantiveram padrões semelhantes ao ano anterior. O termo “hentai” continuou no topo das buscas, seguido por “brasileira”, “punheta guiada” (JOI) e “anal”. Entre as poucas mudanças relevantes, destacou-se o aumento nas buscas por “brasil”, que subiram sete posições em relação ao ano passado.
Entre os nomes mais procurados, Elisa Sanches aparece como a atriz pornô mais popular no país. Na sequência estão Maximo Garcia, também brasileira, e Alex Adams. Já nas buscas que apresentaram crescimento expressivo, chamam atenção termos como “sexo em grupo”, com aumento de 544%, “punheta trans” (488%) e “coroa gostosa transando” (442%). Outra categoria que reforça a diversidade de interesses foi “lésbicas tesoura”, que registrou crescimento de 231% nas pesquisas realizadas no Brasil.
Embora os dados possam revelar uma maior abertura à diversidade — exemplificada por termos como “punheta trans” e “lésbicas tesoura”, que a especialista define como conceitos desafiadores a norma cisgênero e binária —, o crescimento expressivo de termos como “sexo em grupo” indica a busca por estímulos intensos.
ATITUDE PREJUDICIAL
Para a sexóloga e psicóloga Alessandra Araújo, esses dados, embora estigmatizados, devem ser abordados sem moralismo. No entanto, o consumo de conteúdo adulto exige uma análise dos limites entre o uso saudável e o vício, e como isso molda expectativas sexuais e relacionais. “O consumo é considerado saudável quando é uma ferramenta de prazer e descoberta, e não uma obrigação”, explica. Dessa maneira, a pronografia atua como um complemento, não como uma substituição, e pode ser controlada pelo indivíduo em frequência e duração.
Já o consumo excessivo pode resultar no vício, quando a compulsão aparece em momentos inadequados e se torna algo problemático. “A pornografia substitui a vida sexual real, a masturbação sem ela se torna impossível, ou ela passa a interferir no sono, no trabalho ou nos compromissos sociais”, explica. “O indivíduo precisa de estímulos cada vez mais extremos, longos ou violentos para se excitar (dessensibilização), e a satisfação diminui gradualmente, levando a um ciclo de vergonha e maior consumo.”
Quando a pornografia se torna prejudicial, o modus operandis sexual também pode ser afetado. “A pornografia apresenta cenários fabricados e performances fisicamente impossíveis ou irrealistas (corpos, duração, intensidade). O consumo frequente pode levar à insatisfação com a vida sexual real (disfunção erétil induzida por pornografia, anorgasmia – dificuldade persistente ou ausência de orgasmo – em contexto real, ou rejeição ao corpo do parceiro)”, exemplifica Alessandra.
A dessincronia sexual ainda pode ser um problema. “O parceiro pode sentir que não é “suficiente” ou que precisa replicar atos extremos”, afirma a especialista. O cérebro, acostumado à “entrega rápida” de dopamina (prazer) da pornografia, pode ter dificuldade em se excitar com a intimidade mais lenta e complexa da vida real.
Informações – Correio Braziliense











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