Notícias

Artigo – Expocrato: Entre o Espetáculo e a Essência Agropecuária

Criada há 81 edições, a Expocrato era um marco para produtores rurais, comerciantes de equipamentos e criadores de animais, que encontravam no evento uma vitrine para negócios e troca de conhecimentos. Dados de 2024 mostram que a feira gerou R$ 150 milhões em movimentação econômica e 10 mil empregos diretos e indiretos, números que evidenciam seu potencial transformador. No entanto, a cobertura midiática, propagandas de lançamento e o discurso oficial hoje destacam quase exclusivamente os shows, com pouca menção às exposições de gado, às inovações tecnológicas ou aos debates sobre sustentabilidade no campo.

 

Por Francisco Leopoldo Martins Filho

Advogado.

A Expocrato, tradicionalmente conhecida como a maior feira agropecuária do Norte e Nordeste, vive hoje um paradoxo. O evento, que nasceu para fomentar o agronegócio, expor tecnologias rurais e valorizar a pecuária regional, tem se transformado, ano após ano, em um megafestival de música, onde os shows eclipsam sua vocação original. Em 2025, a programação anunciada reforça essa tendência: nove noites de atrações nacionais, como Roberto Carlos, Wesley Safadão e Luan Santana, ocupam o centro das atenções, enquanto as atividades agropecuárias parecem relegadas a um plano secundário.

A História e o Desvirtuamento

Criada há 81 edições, a Expocrato era um marco para produtores rurais, comerciantes de equipamentos e criadores de animais, que encontravam no evento uma vitrine para negócios e troca de conhecimentos. Dados de 2024 mostram que a feira gerou R$ 150 milhões em movimentação econômica e 10 mil empregos diretos e indiretos, números que evidenciam seu potencial transformador. No entanto, a cobertura midiática, propagandas de lançamento e o discurso oficial hoje destacam quase exclusivamente os shows, com pouca menção às exposições de gado, às inovações tecnológicas ou aos debates sobre sustentabilidade no campo.

O Agronegócio em Segundo Plano

Apesar de a feira agropecuária ainda ocorrer paralelamente aos shows, sua visibilidade diminuiu drasticamente. Em 2025, enquanto os nomes dos artistas ocupam manchetes e redes sociais, poucos sabem, por exemplo, quais raças de animais serão expostas ou quais palestras técnicas estão programadas. O “Inferninho”, espaço que antes valorizava artistas regionais e a cultura sertaneja, agora divide atenção com uma estrutura voltada para o entretenimento massivo.

Consequências para o Setor

1. Perda de Identidade: A Expocrato arrisca-se a se tornar apenas mais um festival de música, diluindo sua importância como polo de agronegócio.

2. Oportunidades Perdidas: Pequenos produtores e expositores, que dependiam do evento para fechar negócios, enfrentam dificuldades para competir com a grandiosidade dos shows.

3. Desbalanceamento Econômico: Embora os shows atraiam turistas, a renda gerada concentra-se em hotéis e comércio urbano, nem sempre beneficiando diretamente a cadeia produtiva rural.

É Possível um Equilíbrio?

A solução não está em abolir os shows — que são legítimos impulsionadores turísticos —, mas em resgatar o protagonismo do agronegócio. Sugere-se:

– Maior divulgação das programações técnicas e agropecuárias;

– Integração temática, como shows que celebrem a cultura rural com artistas locais;

– Incentivos para expositores, como espaços privilegiados e parcerias com instituições de crédito rural.

Conclusão

A Expocrato 2025 promete ser “a melhor de todos os tempos”, nas palavras dos organizadores e políticos presentes no lançamento da Expocrato 2025. Mas “melhor” não deve significar apenas mais lotada ou mais lucrativa para o setor de entretenimento. É hora de reafirmar o papel da feira como catalisadora do desenvolvimento agropecuário, garantindo que o brilho dos holofotes não apague a essência que a tornou referência. O desafio é conciliar tradição e modernidade, sem perder de vista o chão que a sustentou: o campo.

Avatar

Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

Adcionar comentário

Clique aqui para postar um comentário