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Em terra de nordestino, quem for sudestino é rei

Algumas produções justificam que precisam de nomes famosos, conhecidos do grande público e que, infelizmente, não existem “big stars” na região. Convenhamos, esse argumento serve muito mais para os próprios produtores se alimentarem de uma resposta que livrem deles o peso do preconceito e, de quebra, nos façam acreditar que essa é a realidade.

Esse modelo de mercado já deveria ter se esgotado

Escrito por
Silvero Pereiraverso@svm.com.br
08 de Abril de 2025 – 17:00

(Atualizado às 17:01)
Legenda: É preciso que tenhamos mais da nossa cara, dos nossos artistas estampando produções que representem nossa gente
Foto: Marcio Jose Bastos Silva/ Shutterstock

Ainda hoje é muito comum vermos em produções que se propõem retratar Nordeste os personagens protagonistas representados por artistas não nordestinos. Isso não acontece apenas no mercado audiovisual ou artístico de forma geral. A publicidade também tem esse péssimo costume.

Algumas produções justificam que precisam de nomes famosos, conhecidos do grande público e que, infelizmente, não existem “big stars” na região. Convenhamos, esse argumento serve muito mais para os próprios produtores se alimentarem de uma resposta que livrem deles o peso do preconceito e, de quebra, nos façam acreditar que essa é a realidade.

 

Ceará brilhou em um dos maiores festivais de música da América Latina

O Estado foi o único do Brasil a levar uma comitiva de artistas para Feira Internacional de Música de Guadalajara

Escrito por
Silvero Pereiraverso@svm.com.br
13 de Março de 2025 – 16:00

Legenda: A cantora Lorena Nunes foi uma das atrações na Feira Internacional de Música realizada no México
Foto: Ceará Criativo/ Diulgação

Mulher Barbada, Lorena Nunes e diversos outros artistas, diretores e programadores do Ceará foram ao México para mostrar e buscar conexões para a arte cearense na Feira Internacional de Música de Guadalajara (FIM GDL), um dos maiores festivais de música da América Latina.

A iniciativa surgiu a partir do programa Ceará Criativo, uma plataforma nova de internacionalização das artes e da cultura cearense promovida pela Secretaria da Cultura do Ceará. Os artistas submeteram seus projetos e as cantoras foram as escolhidas para a primeira ação da plataforma.

 

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O programa está estruturado em três eixos: Formação – que contribui pro desenvolvimento de artistas e agentes culturais, preparando-os para os diversos mercados da música; Negócios – onde artistas poderão participar de acordos e ações que desdobrem em negociações de sustentabilidade de seus produtos; e Mobilidade Artística – que leva esses agentes culturais a outros países, estados e festivais.

No México, Lorena e Barbada apresentaram seus shows e se reuniram com curadores de outros festivais, em um dia voltado especialmente ao Brasil. Já os programadores e diretores de festivais de música do Ceará tiveram a oportunidade de assistir a palestras e paineis, se reunirem com artistas de outros países e intercambiar interesses e possibilidades de futuro.

O Ceará foi o único estado do Brasil a conseguir o feito de levar uma comitiva de quase 20 trabalhadores da cultura. Considero isso um grande feito, porque, como artista, sei que muitas vezes nos faltam caminhos abertos para atravessar fronteiras, seja da cidade ou do estado. Apresentar-se em outro país, então, parecia apenas um sonho.

Projetar a nossa cultura e mostrá-la em sua diversidade para os diferentes mercados dessa indústria, garantindo a circulação de artistas e de seus produtos faz com que a classe artística consiga projetar suas carreiras para a internacionalização, mas também faz com que o mundo olhe para um Brasil que vai muito além do Rio de Janeiro.

O Ceará é também a terra das grandes potências.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor

 

 

O fato é que esses grandes nomes de sucesso não são proporcionais dentro do mercado justamente porque ao longo de muitos anos pouquíssimas vezes foi dada aos talentos nordestinos a oportunidade de assumirem papéis de destaque, nem mesmo em narrativas da nossa própria região.

É claro que há exceções e talentos reconhecidos nacionalmente, mas para se chegar a esse local de reconhecimento dentro desse mercado, não basta ser talentoso. Contamos muito com a sorte e nossa própria coragem e sangue para driblar os processos e conseguir espaço.

Discutir com produções sudestinas que chegam ao Nordeste com um elenco repleto de artistas do eixo Rio-São Paulo como protagonistas e escolhendo artistas nordestinos para interpretar personagens m secundários, usando o discurso de que “estamos contratando o maior número de artistas locais” e onde os salários dessas regiões são bem discrepantes, é uma luta a se levar fortemente adiante e por longo tempo.

Tão complexo quanto isso é ver produções locais, produtoras e empresas do Nordeste, que preferem trazer artistas cariocas e paulistas para palestras, inaugurações, festivais etc e oferecem aos de fora toda a contratação adequada, ao mesmo tempo em que os artistas locais recebem ingresso e lanche, basicamente pagando para trabalhar.

 

Se hoje em dia, estamos buscando mais representatividade e proporcionalidade nas ações e projetos desenvolvidos, principalmente, pelo mercado de produção nordestina, então que tenhamos mais da nossa cara, dos nossos artistas estampando essas campanhas.

 

Não existe problema nenhum na presença de artistas famosos e sudestinos em eventos, pelo contrário. Contudo, artistas nordestinos não deveriam ter que competir por mais espaço em sua própria terra pelas mesmas condições de trabalho. Estamos em 2025, esse modelo de mercado é mais do que cafona.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor

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Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

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