
Moradores do Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, poderão reduzir em até 75% o valor de suas faturas de luz por meio de uma usina solar comunitária a ser instalada pelo Banco Palmas.
O desconto é composto por 50% de redução direta no custo da conta e um adicional por meio de um sistema de cashback, que devolverá parte do valor pago ao consumidor em forma de moeda social para ser utilizada em pequenos negócios da própria comunidade.
A usina recebeu investimento de R$ 77 mil e será inaugurada no próximo dia 25 de abril, com capacidade inicial de 5 mil quilowatts (kW). O equipamento será instalado em um galpão onde ocorrerão as feiras de economia solidária, no Conjunto Palmeiras.
O projeto Palma Solar, fruto da mobilização dos moradores, destaca-se como um dos pioneiros no Brasil. Atualmente, há apenas um modelo semelhante com a instalação de uma minirrede com painéis fotovoltaicos em Vila Limeira, no sul do Amazonas.
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Projeto prioriza mulheres para ter energia mais barata
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Nesta primeira etapa, 50 pessoas de baixa renda foram selecionadas para receber o benefício, sendo 70% delas mulheres. Em maio deste ano, portanto, as beneficiárias já estarão pagando uma fatura mais baixa.
Entre elas, está a comerciante Antônia Eliane Rodrigo Lino, de 57 anos. Residente do bairro há 42 anos, ela mantém um pequeno comércio em frente à sua casa, onde vende pratinho, e arca com despesa de energia mensal de R$ 190, valor que onera seu orçamento familiar.
“A conta de luz pesa demais. Isso vai me ajudar muito. Além de sobrar metade do dinheiro que eu gastaria com a energia, vou conseguir ajudar toda a minha comunidade, consumindo aqui dentro”, avalia.
Até o momento, 10 estabelecimentos já aceitam a moeda social Palma Solar, possibilitando transações entre mercadinhos, lojas de artesanato, vendedores de lanches, feiras e outros pequenos negócios locais.
Energia solar para todos e R$ 25 mil mensais na economia do bairro

Estima-se que o Palma Solar injete mais R$ 25 mil por mês na economia do Conjunto Palmeiras, por meio da moeda social. Segundo o coordenador de projetos do Banco Palmas, Joaquim Melo, um mapeamento energético do bairro foi realizado para avaliar o impacto da iniciativa.
A análise mostrou que as contas de luz na comunidade, cuja população é de aproximadamente 60 mil moradores, variam entre R$ 150 e R$ 300, com um valor médio de R$ 200. “Temos a confiança de ter reunido pilares importantes: grupo comunitário, transição energética justa e uma moeda social, um modelo que realmente beneficia os mais pobres”, observa.
Para ele, a discussão sobre o acesso à energia limpa deve considerar diversas realidades, abrangendo fatores como endividamento, violência urbana e habitação. Por isso, os grandes investimentos em usinas no Ceará não beneficiam os menos favorecidos.
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“Com o Palma Solar, não haverá despesas para os beneficiados nem endividamento com placas solares. Além disso, há a questão de pessoas que vivem de aluguel e podem ser expulsas de suas casas por facções criminosas; então, terão a liberdade de sair quando precisarem”, completa
Segundo Melo, o objetivo do projeto também é atrair financiamentos para sua expansão. No primeiro ano, o crescimento busca alcançar até metade da população da comunidade, estimada em 30 mil pessoas.
Futuramente, o modelo poderá ser replicado em outros bairros e cidades do Ceará. “Nosso sonho é conseguir produzir placas solares, desenvolver tecnologia e garantir que as usinas não fiquem restritas às grandes empresas, para que todos possamos nos beneficiar do nosso sol”, aponta.
Serviço de energia com tratamento humano: ‘Não vamos cortar energia’
A comerciante Antônia Lino, citada no início desta coluna, destaca outro aspecto positivo do projeto: o tratamento humanizado no serviço de energia.
Ela relata a frustração com o atendimento da distribuidora tradicional, afirmando que a conta de luz representa um grande peso no orçamento, mas reclamações raramente são resolvidas.
Segundo Melo, proposta do Palma Solar é superar essa barreira, priorizando um atendimento mais humano.
“Seremos solidários. Se a pessoa atrasar por algum problema, vamos chamar, ouvir, negociar. Nossa prioridade não é só a questão econômica, são as relações com as pessoas e fortalecimento da convivência comunitária, além de baratear a energia para essa população”, afirma.
A iniciativa Palma Solar é desenvolvida e implementada em colaboração com outra instituição financeira comunitária, o Paju, sediado em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza.
O Banco Palmas também conta com a participação do Instituto Federal do Ceará (IFCE) nessa localidade.
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