Empresários industriais disseram à coluna que a atividade caiu por vários motivos, incluindo a desconfiança na política fiscal

Empresários industriais cearenses queixaram-se a esta coluna do que consideram “situação complicada, não em toda a indústria, mas em alguns setores dela”. Um deles contou que sua empresa participou, em novembro do ano passado, de uma licitação aberta pela Enel de São Paulo.
“Até agora, cinco meses depois, a Enel paulista nada decidiu. As empresas de distribuição de energia elétrica, não somente a Enel, reduziram bastante a demanda de pedidos à indústria, provavelmente porque está diminuindo seus investimentos”, disse o empresário, o que não é o caso da Enel Ceará, que anunciou e já deu partida a um plano de investimento de R$ 7,4 bilhões até 2027.
Outro industrial que, como o primeiro, pediu o anonimato, disse que há, realmente, na indústria “uma redução forte de pedidos, de encomendas por parte dos clientes, além de uma visível queda de confiança do empresariado. Em algumas áreas da indústria, porém, observa-se uma boa atividade, mas são casos isolados aqui no Ceará e no resto do país”, afirmou ele.
Um empresário da indústria têxtil e de confecção revelou que, “até agora, não estamos sentindo redução de encomendas do comércio, mas o que todos estamos experimentando na pele são os juros muito altos, tornando difícil o investimento na compra de novas máquinas, uma vez que o crédito, por causa dos juros, está ficando quase inalcançávell”.
A mesma fonte disse que, “desde o início de março passado, a indústria que trabalha com a venda de máquinas, por exemplo, deu uma boa freada por causa da queda da atividade, por causa dos juros elevados e porque há uma desconfiança de que o cenário da economia vai piorar”.
De acordo com esse industrial, “a bagunça causada pela política de tarifas recíprocas estabelecida pelo presidente dos Estados Unidos tisnou o horizonte da economia, deixando a indústria brasileira também em situação de alerta, pois o futuro próximo é incerto”.
Na mesma toada, eis o depoimento de um empresário da indústria metalúrgica:
“Na semana passa, fui visitar um cliente que havia feito uma boa encomenda à minha empresa. Fui lá e ele me disse que ainda não podia confirmar o pedido, que estava estudando, que estava reanalisando a situação, e isto vai muito pela desconfiança que o empresário tem do governo”.
Na área da energia, também há queixa dos empresários que já investiram e estão investindo na geração de energias renováveis – eólica e solar fotovoltaica, principalmente. Essa queixa provém da posição assumida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que tem amiudado o corte dessa anergia alegando excesso de oferta.
“Essa decisão já causou e segue causando enormes prejuízos aos que investiram e seguem investindo na implantação de parques eólicos e solares no Nordeste. Parece até que é proibido produzir energia no Brasil”, disse um empresário que tem estreita ligação com o setor de energia.
Outra reclamação é quanto aos prazos de pagamento que as grandes empresas impõem aos seus fornecedores.
“São prazos que chegam até 120 dias. Isto quer dizer que entregamos hoje a mercadoria encomendada e só receberemos o pagamento por ela daqui a quatro meses. É algo sem sentido e injusto, pois como é que vou produzir, se tenho de comprar matéria prima, se tenho de colocar a máquina para produzir a encomenda em 30 dias para receber só 120 dias depois?” – como se queixou outro industrial ouvido pela coluna na manhã de ontem.
Para finalizar, aqui está o que narrou mais um empresário industrial do Ceará:
“Estamos enfrentando uma grande pressão inflacionária e, ainda, a falta de mão de obra especializada, cujo custo vem subindo exatamente por causa dessa dificuldade de contratação de pessoal qualificado. O quadro piora porque os jovens parecem não querer mais o trabalho. Hoje, a idade média de um pedreiro é de 46 anos; a idade média de um operador de prensa é de 45 anos. Apesar de todo o esforço do Senai, começa a faltar gente qualificada. Os que o Senai forma e qualifica logo arranjam um emprego. Vamos resumir: a indústria vem enfrentando um aumento de custos, uma pressão inflacionária, um mercado que reduziu suas compras e uma política monetária que mantém os juros nas alturas”.
Ponto final.
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