Demanda do hospital municipal, referência em tratamento de traumas, extrapola limites de Fortaleza

A grande e histórica demanda do Instituto Dr. José Frota (IJF) extrapola a cidade de Fortaleza, onde se localiza. Dos cerca de 70 mil pacientes atendidos lá por ano, apenas metade é da capital cearense; outros 48% são de outros municípios e estados, e 2% são estrangeiros.
O perfil diverso motiva, inclusive, visitas de diversos consulados à unidade de saúde, como americano, alemão e italiano, de acordo com a superintendente do hospital, Riane Azevedo. A informação foi dada em entrevista recente ao Diário do Nordeste neste mês.
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Especializado no atendimento de grandes traumas, o instituto tem, em sua média anual, cerca de 15 mil internações, 13.500 cirurgias e 12.600 atendimentos na área de queimados, com base nos dados do ano passado informados pela superintendente.
Fortaleza é uma cidade que recebe muitos turistas, principalmente os interessados em esportes e aventuras. Riane explica que alguns acidentes, como o kitesurf, não são cobertos pelos seguros de saúde. “Se falarem que foi acidente assim, os hospitais privados não cobrem. Então vão para o IJF”, afirma.
Custos operacionais

A despesa mensal para manter o funcionamento do instituto, conforme estima a superintendente, é de R$ 55 milhões. Esse valor cobre o pagamento de folha, medicamentos, órteses e próteses e materiais.
“O hospital tem um custo bastante elevado pela alta complexidade. Isso faz com que os profissionais envolvidos tenham custo elevado”, explica a gestora.
Até o início de 2025, antes dos aportes estaduais e federais ao hospital, o custeio anual do funcionamento era dividido entre os entes da seguinte forma:
eram verbas do Governo Federal, 10% estaduais e 81% de responsabilidade municipal
O Governo do Estado ampliou, neste ano, o aporte mensal de R$ 6 mi para R$ 10 milhões, totalizando R$ 120 milhões por ano. Já o Ministério da Saúde aportou R$ 180 milhões ao IJF.
‘Crise do lençol’
Em 2024, o hospital passou por uma crise marcada pela falta de medicamentos, insumos, atrasos salariais de profissionais e cancelamento de procedimentos. À época, o valor repassado anualmente pelo Ministério da Saúde (MS) à unidade municipal era de cerca de R$ 80 milhões, conforme dados do chefe da pasta.
Pacientes relataram inexistência de medicações e itens essenciais, como fraldas e lençóis, cancelamento de cirurgias, falta de estrutura para acompanhantes e demora na entrega das refeições.
“Tem plantão também que tem ‘crise’ de lençol, de não ter lençol porque a empresa não [manda], eu não sei o que é que acontece. Não sei se o hospital que não paga a empresa. Sei que já teve dias de também não vir lençol”, detalhou uma técnica em enfermagem à época.
Como causa e consequência, a unidade chegou a 2025 com um débito de R$ 73 milhões junto a empresas de medicamentos, lavanderia, próteses e órteses e até de pessoal. Do total, até o início de abril, foram pagos “de R$ 9 a 10 milhões”.
Regulação unificada

Em entrevista ao Diário do Nordeste em março deste ano, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, declarou que a intenção do Governo Federal é transformar o IJF em uma “unidade modelo”, que contribua para redução das filas para exames e cirurgias.
Para isso, o Governo do Estado, Federal e Prefeitura pretendem integrar a regulação de pacientes entre as unidades das diferentes redes.
Quando um caso é registrado, o processo regulatório avalia a urgência da situação. Se um paciente sofre um acidente grave no interior do Estado, ele vai para a ‘vaga zero’ no IJF, como explica Riane.
“Se foi uma fratura de úmero, de fêmur, fechada, estabiliza o quadro e ele entra na regulação. É o Estado que vai olhar onde tratar. Tem a opção de mandar para o Município de Fortaleza, para Quixeramobim ou Limoeiro”, detalha.
Quando a regulação decide pelo IJF, primeiro passa pela regulação de Fortaleza e depois se encaminha para o hospital. Com a unificação, esse caminho se reduz e o tempo é abreviado.
Durante a inauguração do Hospital Universitário do Ceará (HUC), em março deste ano, o governador Elmano de Freitas (PT) falou sobre a falta de um sistema de regulação de atendimento unificado entre a rede hospitalar de Fortaleza (CE) e da estadual.
“Nós não temos uma regulação unificada, fica um hospital com paciente sem ter como atender e tem outro hospital podendo atender, mas não sabe onde está o paciente”, afirmou.
Elmano destacou que, a partir da criação da HUC, haverá um melhor mapeamento dos pacientes em todo o Estado, principalmente com a rede da Capital. “Onde tiver uma vaga, esse cidadão não vai ficar esperando para ser atendido”, disse.
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