Documento encaminhado ao Congresso Nacional busca incluir métodos pedagógicos para que crianças possam interagir e criar com auxílio da tecnologia
Escrito por
Inácio AguiarInacio.aguiar@svm.com.br
23 de Abril de 2025 – 07:00
(Atualizado às 07:31)
Legenda: Especialistas defendem que o Ceará seja referência também no letramento digital, além da alfabetização formal
Foto: Imagem gerada com uso de inteligência artificial
Um grupo de professores, pesquisadores e especialistas cearenses, ligados ao Instituto Iracema Digital, encaminhou ao senador Cid Gomes (PSB) um conjunto de sugestões ao Projeto de Lei nº 4.937/2024, que regulamenta o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada. A proposta foi aprovada no Senado sob relatoria do próprio parlamentar e agora segue para apreciação da Câmara dos Deputados.
A principal proposta do grupo é que o texto da lei inclua o letramento digital como parte essencial da alfabetização e do ensino básico. A iniciativa se alinha a práticas globais de modernização pedagógica.
O argumento central é que, no século XXI, alfabetizar significa também preparar crianças e adolescentes para compreender, interagir e criar com as tecnologias que já moldam o presente — e não apenas o futuro — do mercado de trabalho e da vida em sociedade.
Ceará como referência
Com forte protagonismo nas políticas públicas de educação básica, o Ceará é considerado pelos especialistas como um estado apto a liderar essa transformação. “Já temos uma base sólida em alfabetização tradicional. Agora, precisamos dar o passo seguinte e incorporar as competências digitais ao currículo desde os primeiros anos escolares”, defende o documento.
A proposta busca ampliar o conceito de alfabetização além do tradicional “ler e escrever”, incluindo a compreensão e o uso crítico das tecnologias emergentes — da inteligência artificial aos jogos interativos e à cultura digital.
Jornada da transformação digital
O texto sugere que o projeto federal contemple quatro etapas de uma jornada digital:
- Inclusão – acesso às tecnologias e conectividade;
- Fruição – uso ativo e criativo das ferramentas digitais;
- Letramento – leitura crítica e produção de conteúdo digital;
- Ideação – uso da tecnologia para inovação, resolução de problemas e protagonismo cidadão.
A proposta é embasada por teorias educacionais e defende que a fase da infância é crucial para o desenvolvimento de competências simbólicas, cognitivas e sociais — todas potencialmente estimuladas por tecnologias digitais, quando bem aplicadas.
Alerta sobre desigualdade e riscos
O documento também chama atenção para a urgência do tema ao apresentar dados preocupantes: segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), 76% dos brasileiros adultos não possuem habilidades digitais básicas, um índice abaixo da média da América Latina. Isso afeta diretamente a empregabilidade, o acesso a serviços e a participação cidadã.
Além disso, os especialistas alertam para os riscos do uso inadequado da tecnologia. Casos crescentes de endividamento com apostas online e a propagação de desinformação nas redes mostram que o domínio técnico precisa vir acompanhado de educação ética e crítica.
O que está em jogo
Os pesquisadores cearenses propõem cinco eixos para aprimorar o projeto:
- Criação de um Programa Nacional de Alfabetização Digital;
- Formação continuada de professores para o uso pedagógico da tecnologia;
- Investimento em infraestrutura digital nas escolas;
- Formação de redes de inovação com participação de educadores e desenvolvedores;
- Avaliações nacionais que incluam competências digitais.
“Se alfabetizar é abrir portas para um mundo de oportunidades, letrar digitalmente é garantir que nossas crianças não fiquem do lado de fora das revoluções tecnológicas que já estão em curso”, resume o grupo.
Pauta prioritária
A atuação do grupo não se limita ao letramento digital, mas essa pauta representa uma das centralidades da iniciativa. Conforme relata à coluna um dos coordenadores do grupo, o professor Mauro Oliveira, do Instituto Federal de Educação do Ceará (IFCE), a urgência é evidente: “temos tudo para que o Ceará seja pioneiro neste avanço que, entre nós especialistas, é consenso. Temos que apostar nisso”, reforça.
Projeto na Assembleia Legislativa
Um dos articuladores políticos da proposta é o deputado estadual Acrísio Sena (PT). Ele foi o responsável por enviar o material ao senador cearense e também, após adaptações, apresentou o conteúdo como projeto na Assembleia Legislativa do Estado.
Para fortalecer o debate, o parlamentar agendou uma reunião com especialistas no assunto para o dia 8 de maio, no parlamento estadual.
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