Notícias

Inteligência artificial deve mapear áreas do CE com mosquito transmissor da febre oropouche; entenda

A expansão da febre oropouche no Ceará, agora detectada em Fortaleza e outras cidades fora do Maciço de Baturité, preocupa pela possibilidade da presença do mosquito transmissor da doença em novas localidades. Por isso, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) avalia o uso de uma inteligência artificial para mapear áreas onde o inseto pode se proliferar.

Ferramenta pode ajudar a orientar ações de vigilância e controle dos vetores da doença

Escrito por
Nícolas Paulinonicolas.paulino@svm.com.br
25 de Abril de 2025 – 14:12

Foto ampliada do mosquito maruim, transmissor da febre oropouche
Legenda: Transmissor da febre oropouche, maruim é menor do que muriçocas ou Aedes aegypti
Foto: IOC/Fiocruz

A expansão da febre oropouche no Ceará, agora detectada em Fortaleza e outras cidades fora do Maciço de Baturité, preocupa pela possibilidade da presença do mosquito transmissor da doença em novas localidades. Por isso, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) avalia o uso de uma inteligência artificial para mapear áreas onde o inseto pode se proliferar.

A informação foi dada por Antonio Silva Lima Neto (Tanta), secretário executivo de Vigilância em Saúde da Sesa, durante o 8º Seminário Estadual de Vigilância em Saúde, na Escola de Saúde Pública do Estado (ESP), em Fortaleza, e detalhada em entrevista ao Diário do Nordeste.

Os casos de oropouche estão relacionados ao vetor primário, o Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora. Ele foi localizado sobretudo nas cidades de Baturité, Aratuba e Capistrano, mas a doença foi “exportada” para a capital, Maracanaú e Quixadá através de pacientes que visitaram a região.

Até o momento, o Ceará confirmou 310 casos da enfermidade (3 deles em gestantes), sendo a maioria com local provável de infecção na zona rural. Algumas características desses ambientes, segundo a Sesa, são:

  • Vales ou áreas baixas de encostas com água corrente utilizadas para a agricultura;
  • Presença de culturas que geram sombreamento e deposição de matéria orgânica, como banana e chuchu;
  • Residências construídas perto das áreas de cultivo;
  • Locais protegidos de ventos fortes e com maior umidade do ar;
  • Presença do maruim.

Munida dessas informações, a inteligência artificial pode ser capaz de indicar áreas do território cearense com as mesmas vulnerabilidades. O projeto está em fase inicial, mas deve cobrir uma lacuna importante no monitoramento da doença.

 

“Quando você olha o mapa tradicional, só vê como vegetação úmida. Sendo que, entremeado naquela vegetação, tem as plantações. A gente está tentando treinar a máquina para ela ser capaz de reconhecer os aglomerados das bananas e construir um novo mapa, que seria um mapa adaptado ao dia de hoje”, explica Tanta.

 

Dessa forma, seria possível monitorar, com mais rigor e mais regularidade, as áreas onde supostamente pode haver maior densidade do vetor, indicativo de áreas com maior risco de transmissão. “É uma tentativa de remapear”, resume o epidemiologista.

O projeto está sendo incubado na Vigilância da Sesa e deve se vincular ao Programa Cientista Chefe de Dados da Saúde do Ceará.

 

Veja também

 

Desafios do projeto

Segundo Tanta, os pesquisadores vêm se debruçando sobre as peculiaridades das plantações no Ceará, que pratica dois tipos de cultivo da banana. Um é irrigado e pode ocorrer em qualquer local; o outro tem caráter mais familiar e natural, feito em áreas menos quentes, sobretudo nas serras. 

No entanto, o MapBiomas – sistema colaborativo que reúne dados de cobertura e uso da terra do Brasil – não consegue situar especificamente a banana.

“O que é que a gente está tentando fazer com esse pequeno projetinho de inteligência artificial é identificar e validar em campo tipos de vegetação associados à ecologia do vetor. Não é tão fácil, mas a gente está tentando”, ressalta.

Para isso, devem ser empregados:

  • Uso de visão computacional para treinar modelos que classifiquem e segmentem regiões com vegetação propícia à presença do maruim;
  • Geração de mapas preditivos para orientar ações de vigilância entomológica e controle vetorial, otimizando recursos e prevenindo surtos.

O estudo pode ajudar a responder curiosidades como por que Guaramiranga, ainda que esteja no centro do Maciço de Baturité, não registrou nenhum caso de oropouche. Para o especialista, a cidade ter mais casas de veraneio e pouco cultivo de banana de larga escala não parece suficiente para explicar.

 

Mapa colorido do MapBiomas com diferentes áreas de vegetação do Ceará
Legenda: MapBiomas mostra áreas de floresta úmida na região do Maciço de Baturité (região em verde escuro)
Foto: MapBiomas

 

Quais são os sintomas da febre oropouche?

O quadro clínico é agudo e evolui com febre de início súbito, cefaleia prolongada e intensa (dor de cabeça), mialgia (dor muscular) e artralgia (dor articular). Outros sintomas como tontura, dor atrás dos olhos, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos também são relatados.

Por apresentar sintomas muito similares a outras arboviroses, como a dengue, o diagnóstico da febre oropouche é feito por teste laboratorial.

Embora mais raros, casos com manifestações hemorrágicas e acometimento do sistema nervoso podem ocorrer. Os sintomas duram de 2 a 7 dias e são, em geral, autolimitados. No entanto, parte dos casos pode apresentar gravidade.

Como se prevenir contra a febre oropouche?

As formas de prevenção da febre oropouche são diferentes das outras arboviroses. A principal medida de proteção não é o combate ao mosquito maruim, diferentemente do que ocorre em relação ao Aedes aegypti.

O ideal mesmo é evitar áreas com a presença do maruim ou minimizar a exposição às picadas, seja por meio de recursos de proteção individual (aplicação de repelentes, uso de roupas compridas e de sapatos fechados) ou coletiva (limpeza de terrenos e de locais de criação de animais, recolhimento de folhas e frutos que caem no solo, uso de telas de malha fina em portas e janelas).

Avatar

Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

Adcionar comentário

Clique aqui para postar um comentário