Processo natural do envelhecimento de pessoas com útero, período pode ser acompanhado por sintomas físicos e psíquicos

A menopausa é o fim da menstruação e um processo natural do envelhecimento de pessoas com útero. Marcada pela queda permanente na produção de estrogênio pelos ovários, tanto a pré quanto a pós-menopausa — períodos do climatério — podem ser acompanhadas por sintomas físicos e psíquicos, impactando a saúde mental e elevando o risco para diversas doenças, como depressão, ansiedade e Alzheimer.
Geralmente, no Brasil, ela ocorre entre os 45 e 55 anos, conforme o Ministério Saúde. No entanto, pode aparecer antes, devido à falência ovariana prematura ou à remoção cirúrgica dos ovários, ou do útero (histerectomia).
Os óvulos que serão liberados por uma pessoa com útero ao longo da vida já estão presentes no corpo desde o nascimento. Armazenadas nos ovários, essas células são dispensadas da primeira menstruação (menarca) à última (menopausa).
Com o fim do estoque, há a falência dos ovários e a redução permanente da concentração dos hormônios estrogênio e progesterona.
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Como a menopausa afeta a saúde mental
O climatério e a queda dessas substâncias alteram o organismo desses indivíduos. O neurologista Eduardo Uchôa, presidente do Capítulo Estadual do Distrito Federal da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), explica que um dos órgãos afetados nesse processo é o cérebro, que é interligado ao sistema reprodutivo.
“O estrogênio desempenha um papel fundamental na regulação da energia cerebral, na proteção das células nervosas e na comunicação entre os neurônios. […] Ele ainda regula neurotransmissores essenciais para o funcionamento cerebral, como a dopamina e a serotonina, que influenciam o humor, a motivação e o bem-estar emocional”.
As mudanças sofridas indicam que a menopausa tem um impacto específico no envelhecimento cerebral e na saúde mental de pessoas com útero.
Abaixo, o médico lista as principais alterações:
- redução na atividade metabólica do cérebro. Estudos de neuroimagem, citados pelo especialista, indicam que os níveis de energia cerebral podem cair até 30% após a última menstruação;
- mudança na conectividade cerebral afetando a comunicação entre áreas relacionadas à memória e à concentração;
- aumento de deposição de placas de beta-amiloide, associadas ao Alzheimer;
- Redução da serotonina, elevando o risco para desenvolvimento de depressão e de ansiedade;
- Diminuição da dopamina, levando a fadiga, falta de motivação e dificuldade de concentração.
Eleva chances para depressão
Segundo pesquisa publicada pela revista European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience, pessoas com útero têm duas vezes mais chances de desenvolver depressão do que homens. Eduardo Uchôa destaca que evidências científicas relacionam o índice às alterações causadas pela menopausa.
Fatores de risco
A ginecologista Marcela Coelho, da rede Meu Doutor Novamed, explica que o estilo de vida, a dieta e o histórico médico podem elevar a possibilidade do fim da menstruação afetar a saúde mental.
“Pacientes que já possuem algum tipo de transtorno como ansiedade, bipolaridade e depressão tendem a apresentar piora nessa fase”, destaca.
Abaixo, ela cita os principais fatores de risco:
- alcoolismo;
- tabagismo;
- sedentarismo;
- estresse;
- rotina desregrada;
- transtornos do sono;
- alimentação desbalanceada;
- diagnóstico prévio de ansiedade, depressão ou outro transtorno.
Aumenta risco para demências
O neurologista detalha haver estudos que indicam que a menopausa aumenta o risco para doenças neurodegenerativas. Como o fim da menstruação acelera o envelhecimento cerebral, torna as células mais vulneráveis, por exemplo, ao acúmulo de beta-amiloide, um dos principais marcadores do Alzheimer — uma forma de demência.
dos casos de Alzheimer são em pacientes com útero, diz Eduardo Uchôa.
“Mulheres que passam por menopausa cirúrgica precoce — remoção dos ovários antes dos 45 anos — apresentam maior risco de desenvolver demência”, destaca.
O climatério também pode causar distúrbios do sono, devido às ondas de calor noturnas, à queda da progesterona e às alterações na produção da melatonina. A privação do sono pode afetar a memória, o humor e ainda elevar as chances para neuropatologias, aponta o médico.
Como prevenir e evitar efeitos
Marcela Coelho afirma que a forma mais eficaz de controle dos sintomas climatéricos de uma forma geral, inclusive as alterações emocionais e cognitivas, é a reposição hormonal. No entanto, destaca que nem todos podem recorrer à terapia, já que ela pode trazer efeitos negativos, se não for bem utilizada.
Para casos como esses, existem os fitoterápicos ou ainda o uso de psicotrópicos, em casos mais graves. Por isso, é sempre recomendado o acompanhamento multidisciplinar com psicólogo e psiquiatra”.
Em relação à prevenção de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, o neurologista acrescenta não haver um consenso na ciência sobre a possibilidade da reposição hormonal reduzir o risco para as condições, e detalha ser necessários mais estudos sobre o assunto.
Mudança de hábitos e estilo de vida
Além da opção hormonal, ambos os especialistas destacam haver outras formas de auxiliar a saúde mental e cerebral na menopausa. São elas:
- Adotar uma dieta equilibrada — A dieta mediterrânea está ligada a menor risco de declínio cognitivo e doenças cardiovasculares, aponta Eduardo Uchôa. Alimentos ricos em fitoestrógenos, como linhaça, gergelim, soja, grão-de-bico, damasco seco e chocolate amargo (com moderação), podem trazer benefícios hormonais;
- Controlar o estresse — Estresse elevado pode piorar os efeitos da queda de estrogênio no cérebro. Técnicas como meditação, respiração consciente e yoga ajudam a equilibrar os hormônios e melhoram o bem-estar;
- Praticar exercícios regularmente — A atividade física melhora a circulação no cérebro, reduz o risco de demência e regula os hormônios. A musculação também contribui para manter a massa muscular com o envelhecimento;
- Sono de qualidade — Dormir mal acelera o envelhecimento cerebral e aumenta a deposição de beta-amiloide. Manter rotina de sono, evitar cafeína à noite e reduzir telas antes de dormir são medidas eficazes.
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