A pesquisa aponta ainda que 89% dos brasileiros são democratas convictos, apesar das insatisfações
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Os brasileiros apoiam a democracia, mas não estão satisfeitos com a forma como ela funciona no Brasil. Essa é a conclusão de estudo realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT ReDem), vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR). Relatório, publicado nesta quinta-feira (8), aponta que 89% dos brasileiros são democratas convictos, mas apenas 38,2% estão satisfeitos com o funcionamento da democracia brasileira.
O nível de satisfação varia de acordo com a região do País. O Nordeste, por exemplo, possui o maior grau de contentamento, com 49,4% — índice próximo à metade dos nordestinos se declarando satisfeitos ou muito satisfeitos com a democracia.
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Nas regiões Sul e Norte, quase metade da população também está satisfeita — com 48,3% e 45,3%, respectivamente. No entanto, o índice de satisfação diminui bastante nas regiões Sudeste, com 35,6%, e Centro-Oeste, com 27,9%.
A pesquisa foi realizada em fevereiro de 2025. Foram feitas entrevistas domiciliares com 1.504 brasileiros maiores de 18 anos de todas as regiões do País. O nível de confiança da pesquisa é de 95%, com margem de erro de 2,5.
O relatório também traz outros recortes quanto ao nível de satisfação dos brasileiros com a democracia. Pessoas com renda acima de R$ 10 mil (73,3%), com Ensino Superior (55,8%) e com idade entre 35 e 44 anos (58,5%) são as mais insatisfeitas.
Por outro lado, pessoas com renda inferior a R$ 3 mil (42,4%), com escolaridade até o Ensino Fundamental (45,7%) e com idade entre 18 e 24 anos (49,2%) são as mais satisfeitas.
Bem-estar social versus Princípios democráticos
Vice-coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem), o cientista político Ednaldo Ribeiro explica que a próxima etapa do estudo deve analisar quais as razões para insatisfação dos brasileiros com a democracia.
Ele explica que o questionário aplicado durante a pesquisa também mediu o nível de insatisfação com diferentes elementos que compõem o regime democrático, como as eleições, a liberdade de expressão e a redução de desigualdades, dentre outros.
“A nossa suspeita — e que já é algo mais ou menos consolidado na literatura internacional — é de que essa forte insatisfação está muito associada à dificuldade dos governos em entregarem igualdade econômica e desenvolvimento”, antecipa Ribeiro.
“O grande desafio das democracias contemporâneas é combinar procedimentos democráticos, liberdades democráticas com entregas sociais, com entregas de bem-estar. Essa é a conclusão fundamental dessa etapa da pesquisa”.
O pesquisador, que assina o relatório do estudo de campo ao lado do pós-doutorando do INCT ReDem, Daniel Rocha, pontua que os resultados servem de alerta para as instituições democráticas. “A lição que fica é que a consolidação da democracia é uma conquista diária e ela está muito associada a entregas (de bem-estar social)”, reforça.
Ele cita que precisam que as instituições democráticas estejam “comprometidas, principalmente, com o bem-estar da população”. O que significa desenvolver políticas públicas que garantam a redução das desigualdades sociais, a diminuição da insegurança alimentar, além da garantia da segurança física, exemplifica Ribeiro.
“É preciso que os governos sejam cada vez mais responsivos. Algo que a literatura internacional sobre crise da democracia tem identificado é que uma parcela expressiva das populações estão dispostas a entregar princípios democráticos se alguém oferece para eles o que estamos chamando aqui de entrega de bem-estar”, alerta.
“Desenvolvimento econômico, redução da desigualdade, mobilidade de classe… As pessoas valorizam de tal forma isso, que, em algum momento, se colocadas diante da escolha ‘quer o que: liberdade de expressão, realização de eleições periódicas ou você quer bem-estar?’ Uma parte das pessoas pode escolher bem-estar e a gente não pode culpá-la por isso”.
“Os governos têm que se preocupar com o procedimento, com eleições, mas também deve se preocupar com essa dimensão mais pragmática da existência cidadã que é as pessoas precisam ter segurança alimentar, segurança física, bem-estar social”, completa.
Apoio à democracia
A pesquisa também mediu o apoio dos brasileiros à democracia. Segundo Ednaldo Ribeiro, foram considerados democratas, entrevistados que tenham demonstrado apoio a dois componentes do regime democrático: eleições justas e a igualdade de direito de todos perante a lei.
O resultado é que quase 9 a cada 10 brasileiros apoiam a democracia — um percentual de 89%, segundo o relatório no INCT ReDem.
Dentro desse índice, os pesquisadores categorizam os democratas, indo desde os “minimalistas” até aqueles considerados “maximalistas sociais participativos”. De acordo com Ribeiro, essa diferenciação ocorre de acordo com o nível de exigência de cada brasileiro com a democracia.
Ou seja, se para além do apoio a eleições justas e igualdade perante a lei, eles também consideram relevantes itens como liberdade de expressão, liberdade de oposição, proteção de minorias, dentre outros.
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Quando feito o recorte por região, a diferença entre o percentual de democratas convictos e não democratas não tem uma grande variação, com os não democratas nunca ultrapassando 15%.
Novamente, o Nordeste lidera o ranking, mas dessa vez daqueles que não apoiam a democracia: a região é a que mais possui não democratas, com 14,5%. Por outro lado, 85,5% dos nordestinos apoiam a democracia.
Por outro lado, o Sul tem o menor índice de não democratas, com apenas 5,3%. O Norte possui 6,2%; o Sudeste 11,1%; e o Centro-Oeste é o que mais se aproxima do Nordeste, com 13,4% de não democratas
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