
Nos últimos anos, o debate sobre assédio no ambiente de trabalho ganhou mais visibilidade, e ainda bem. Mas, apesar dos avanços, deparamos com denúncias chocantes de comportamentos inaceitáveis por parte de pessoas que se valem de suas posições hierárquicas para oprimir outras.
Vale a pena discutirmos sobre como identificar situações que configuram um assédio sexual ou moral no ambiente de trabalho, e este texto tem esse propósito.
Muitos profissionais têm dúvidas sobre o que, de fato, pode ser considerado assédio sexual ou moral, especialmente quando parte da liderança, que é uma posição que, supostamente, deveria inspirar confiança e segurança psicológica.
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A dúvida é legítima: nem todo constrangimento é assédio, mas todo assédio é uma forma de violência. E quando o autor é seu ‘chefe’, o impacto costuma ser ainda mais devastador porque a relação de poder sufoca a reação e silencia a denúncia.
Assédio sexual não é só toque físico
Comentários com conotação sexual, insinuações, convites persistentes para encontros, apelidos inapropriados ou perguntas íntimas são exemplos claros.
Se essas ações ocorrem sem consentimento, colocam o colaborador em situação de desconforto ou de ameaça (explícita ou velada), pressionam ou objetificam quase sempre em contextos nos quais o “não” não pode ser dito livremente, trata-se de assédio.
Cabe ao empregador impedir o abuso de poder nas relações de trabalho e tomar medidas para impedir tais práticas.
O assédio pode ser por chantagem e/ou por intimidação. O primeiro caracteriza-se quando a aceitação ou a negação de uma investida sexual é determinante para que a situação de trabalho da pessoa assediada seja alterada.
Por intimidação, envolve comportamentos que criem um ambiente hostil, intimidativo ou humilhante.
Falas comuns no assédio sexual:
- “Se a gente saísse pra jantar, eu aprovaria o seu projeto mais rápido!”
- “Você tem um corpo bonito demais pra ficar escondido nessa roupa.”
- “Topa uma massagem? Tá tensa hoje?”
Comportamentos frequentes:
- Olhares insistentes e invasivos.
- Comentários sobre roupas, corpo ou vida íntima.
- Convites persistentes para encontros fora do ambiente profissional.
- Toques “acidentais” recorrentes, abraços forçados. Mão “boba”.
- Piadas de duplo sentido com conotação sexual.
Mesmo quando vem disfarçada de elogio ou brincadeira, se a fala causa desconforto e se repete, é assédio. E quando a recusa traz prejuízo ou ameaça, o caso é ainda mais grave.
Assédio moral: quando a autoridade vira abuso
É uma prática sistemática de humilhação, desqualificação e controle. Evidencia-se por meio de gritos, humilhações públicas, sobrecarga proposital de trabalho, isolamento, críticas constantes sem fundamento, boicotes e ameaças recorrentes.
O assédio, que, muitas vezes, pode ser sutil, vai minando a autoestima e a saúde mental do colaborador.
Falas comuns no assédio moral:
- “Você é burro ou só está fingindo que não entende?”
- “Se não der conta, a porta da rua é a serventia da casa.”
- “Você não serve pra liderar, mas vamos deixar você aí só pra constar.”
- “Não quero saber, se vire. Se tiver que virar a noite, vire.”
Comportamentos frequentes:
- Gritar ou constranger na frente da equipe.
- Ignorar o colaborador em reuniões ou decisões.
- Atribuir tarefas impossíveis com prazos abusivos.
- Retirar funções ou sabotar entregas propositalmente.
- Isolar socialmente ou incentivar que outros o façam.
- Expor erros publicamente e ignorar acertos.
O assédio moral é cruel porque é silencioso! Muitas vezes é aceito como “estilo de liderança”. Mas nada justifica o desrespeito! Ter cargo de gestão não dá licença para humilhar.
“É o jeito dele(a)” não é justificativa.
Ambientes tóxicos não surgem do nada: eles são tolerados, ignorados ou até normalizados em nome da performance, ou da autoridade. A liderança tem poder e, com ele, a responsabilidade de criar um ambiente seguro.
E quando a vítima não pode sair?
Muitos ficam porque precisam do emprego. Por isso, é tão importante que empresas tenham canais confiáveis de denúncia, políticas claras de conduta e uma cultura ética que previna e não apenas reaja a essas situações.
Se você leu esse texto e pensou: “isso acontece comigo”, saiba que não está sozinho. Procure apoio jurídico, psicológico e, se possível, os canais de compliance da empresa. O silêncio, nesses casos, nunca protege a vítima; protege o agressor.
Alguns contatos de apoio:
Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher
Acesse www.mulher.policiacivil.ce.gov.br– Contatos da Rede de Proteção à Mulher no Ceará
Nesta coluna, trarei reflexões sobre carreira, liderança, coaching e tendências que impactam o mundo do trabalho. Sua participação é muito bem-vinda! Deixe sua pergunta, comente este post ou envie uma mensagem pelo Instagram: @delaniasantosds. Aproveite para se inscrever no canal do YouTube: @delaniasantosds. Será um prazer ter você comigo nessa jornada. Até a próxima!
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