Envios de calçados para o Ceará cresceu 42,1% no primeiro quadrimestre deste ano na comparação com igual período de 2024

Grande produtor e exportador de calçados, o Ceará registrou em sua balança comercial um forte avanço das importações do produto. A situação, que também é observada no cenário nacional, “preocupa a indústria”, segundo a Associação Brasileira da Indústria Calçadista (Abicalçados).
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De acordo com o Comexstat, plataforma do Governo Federal com dados sobre exportações e importações brasileiras, o Ceará importou US$ 4,6 milhões em calçados de janeiro a abril deste ano, crescimento de 42,1% na comparação com igual período de 2024. Em variação absoluta, foi US$ 1,3 milhão a mais.
Veja os países que enviam calçados para o Ceará
- China: US$ 4,3 milhões
- Vietnã: US$ 136,5 mil
- Estados Unidos: US$ 65,6 mil
- Colômbia: US$ 65,1 mil
- Hong Kong: US$ 15,4 mil
- Japão: US$ 7,8 mil
- Camboja: US$ 4,3 mil
Fonte: Comexstat
Envios de calçados da China para o Ceará cresceram
O principal país emissor de calçados para o Ceará é a China, respondendo por praticamente a totalidade das importações do produto, com US$ 4,3 milhões. Esse número representa um crescimento expressivo na comparação com as exportações de calçados da China para o Ceará em igual período do ano passado (US$ 2,8 milhões).
Em seguida, está o Vietnã, com US$ 136,5 mil em envios para o Ceará e um aumento expressivo na comparação com 2024, quando as importações cearenses desse país totalizaram US$ 98,5 mil no primeiro quadrimestre.
O terceiro lugar fica com Estados Unidos, cujas exportações de calçados para o Ceará caíram de US$ 132,9 mil nos primeiros quatro meses de 2024 para US$ 65,6 mil de janeiro a abril de 2025.
“O crescimento das importações de calçados, em especial da Ásia, segue preocupando a indústria calçadista nacional. Dados elaborados pela Abicalçados apontam que, somente em abril, entraram no Brasil 3,6 milhões de pares, pelos quais foram pagos US$ 46,6 milhões, incrementos de 41,2% em volume e de 69,3% em receita na relação com o mesmo período de 2024”, disse a Abicalçados em seu site.
A coordenadora do Núcleo de Práticas em Comércio Exterior (Nupex) da Universidade de Fortaleza (Unifor), Mônica Luz, também avalia que a situação é um desafio para a indústria local.
Os fabricantes cearenses enfrentam concorrência direta com produtos asiáticos que chegam a preços muito baixos, mesmo com a carga tributária de importação. Isso obriga a indústria regional a investir em diferenciação, qualidade e eficiência produtiva
Apesar do desafio, Mônica ressalta que alguns importadores locais têm visto na situação uma oportunidade de ampliar portfólios e atender à demanda por variedade e custo-benefício no varejo.
“O aumento nas importações pode representar uma oportunidade ou uma ameaça para os fabricantes locais. Para os fabricantes que não se adaptarem, pode ser uma ameaça clara. Mas também é uma oportunidade para melhorar processos, buscar inovação e até pensar em internacionalização. Quem tiver criatividade e estratégia pode usar essa concorrência como um motor de crescimento”, enfatiza a coordenadora do Nupex da Unifor.
Logística eficiente e posicionamento geográfico
Para Mônica, o crescimento nas importações cearenses de calçados tem relação direta com o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “As tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses, que começaram no governo Trump e foram mantidas com algumas revisões até hoje, forçaram muitos fabricantes da China a buscar novos mercados”, pontua.
Ela avalia que, como resultado, o Brasil — e o Ceará, em especial — se tornou um destino atrativo para esses produtos. “A indústria chinesa tem um forte interesse em manter seu volume de produção, então está redirecionando seus calçados para países onde a entrada é menos onerosa. O Ceará, com portos bem posicionados e uma logística cada vez mais eficiente, entrou nessa rota. Sem dúvida. O tarifaço do governo Trump, mesmo com ajustes na nova administração, ainda gera reflexos no comércio global”.
Perspectivas para os próximos meses
Como resultado do avanço nas importações de calçados, há uma pressão no déficit da balança comercial cearense, considerando que o Estado tradicionalmente já importa mais do que exporta.
Em janeiro, o saldo da balança cearense ficou negativo em US$ 481,1 milhões. “Enquanto os Estados Unidos mantiverem tarifas elevadas e os asiáticos continuarem com foco na América Latina, as importações devem seguir em patamar alto. Porém, fatores como o câmbio e a economia interna também podem influenciar”, diz Mônica.
“Do lado interno, o consumo vai ditar o ritmo. Se o varejo mantiver um bom desempenho, os importadores devem seguir reforçando os estoques com calçados vindos da Ásia. Mas a indústria local também está se movimentando para recuperar espaço, o que pode levar a um equilíbrio maior nos próximos ciclos”, finaliza a especialista.
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