Quase 140 municípios tiveram redução de registros, enquanto 45 vivenciaram aumento

O Ceará teve, em 2023, o menor registro de nascimentos das últimas duas décadas. Desde 2001, o Estado enfrenta uma redução de natalidade que se acentuou no período pós-pandemia da Covid-19. No entanto, há uma distribuição desigual: enquanto algumas cidades têm queda acentuada, outras tiveram incremento de nascidos vivos.
Esse é o raio-x das Estatísticas do Registro Civil, divulgadas na última sexta-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo é um dos principais instrumentos no acompanhamento da evolução populacional no País.
Segundo os dados, levantados pelo Diário do Nordeste, houve 12,2 mil nascimentos a menos do que em 2013. Entre os dois anos analisados, os registros caíram de 122.401 para 110.128.
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Ao todo, 138 cidades tiveram queda de registros. A mais acentuada foi na capital, Fortaleza. No período, houve quase 9 mil nascimentos a menos. O fenômeno foi seguido por municípios do Cariri e de Maracanaú, na Região Metropolitana (RMF).
- Fortaleza – de 37.585 para 34.650 (-8.847)
- Sobral – de 3.246 para 2.727 (-519)
- Barbalha – de 1.308 para 1.058 (-250)
- Crato – de 1.944 para 1.716 (-228)
- Maracanaú – de 3.550 para 3.375 (-175)
Apesar disso, percentualmente, as principais reduções do Estado chegaram a 47% e ocorreram nas cidades de Ereré (de 89 para 47 nascimentos) e Ibicuitinga (de 201 para 106).
Por outro lado, 45 municípios tiveram incremento de nascimentos. Uma curiosidade é que Carnaubal e Reriutaba tiveram exatamente o mesmo número de registros entre os dois anos, com 227 e 232, respectivamente.
Cinco cidades da RMF puxaram os registros, encabeçadas por Caucaia e Itaitinga (município que teve o maior aumento percentual na série analisada, com 82%):
- Caucaia – de 3.701 para 4.601 (+900)
- Itaitinga – de 439 para 799 (+360)
- Eusébio – de 862 para 1185 (+323)
- Aquiraz – de 893 para 1135 (+242)
- Pacatuba – de 808 para 1.043 (+235)
Veja a situação de cada cidade do Ceará no mapa:
Razões para a redução
O cientista econômico Júlio Augusto Luz Veras considera, em análise publicada na Universidade Federal do Ceará (UFC), que a atual transição demográfica é marcada pelo declínio da fecundidade e fertilidade no mundo a partir de fatores como o empoderamento feminino, caracterizado pela maior presença de mulheres em ambientes educacionais e no mercado de trabalho, e a redução da mortalidade infantil.
Para ele, uma série de eventos contribui para a queda do número de nascimentos, sendo a urbanização e expansão da educação, sobretudo a educação feminina, os eventos mais cruciais para obtenção de taxas menores de fertilidade.
Já a queda da mortalidade infantil, aponta, pode estar ligada a expansão dos cuidados pediátricos, pré-natais e do saneamento básico. Assim, há maior segurança das famílias para garantir o desenvolvimento integral dos filhos.
Assim, a redução da natalidade “pode ser entendida como uma indicação do desenvolvimento de um país quando inserida em um contexto maior, englobando o ritmo de industrialização, empoderamento feminino, cuidados pediátricos e neonatais e saneamento”, conclui.
Perfil dos nascidos no Ceará
O IBGE mostra que houve uma média mensal de 9.177 nascimentos no Ceará, sendo a maior frequência no mês de maio (9.959), seguido pelo mês de março (9.794). Por outro lado, dezembro foi o mês com o menor número de nascimentos (8.297).
Esse comportamento “confirma a tendência de anos anteriores de um maior volume de nascimentos ocorridos no primeiro semestre do ano”.
Conforme as estatísticas, 51,1% de nascidos vivos em 2023 eram do sexo masculino, e 48,9%, do sexo feminino.
Para que os dados são usados?
As Estatísticas do Registro Civil são resultado da coleta das informações fornecidas por Cartórios de Registro Civil de Pessoas Naturais, Varas de Família, Foros ou Varas Cíveis e Tabelionatos de Notas do País.
Essas informações são “um importante instrumento de acompanhamento da evolução populacional no País”, proporcionando, além de estudos demográficos, subsídios para a implementação e avaliação de políticas públicas.
Assim, podem contribuir para o aprimoramento de programas sociais das três esferas governamentais (municipal, estadual e federal) nos campos escolar, previdenciário, econômico, social e da saúde pública.
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