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Cinco movimentos recentes da oposição no Ceará que sinalizam estratégias para 2026

Em menos de um mês, o caminho da oposição cearense até 2026 ganhou novos contornos, com a expectativa de fusão e federação partidárias, acenos do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e declarações do deputado federal André Fernandes (PL). As movimentações indicam, também, a intenção de dar visibilidade às opções do bloco para as disputas majoritárias e de transmitir uma ideia de unidade entre seus representantes.

Nomes cotados para o Governo são colocados a teste na opinião pública e novas composições partidárias são estudadas

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20 de Maio de 2025 – 07:00

Ciro Gomes, eleições, Ceará,
Legenda: Visita de Ciro à oposição na Assembleia Legislativa marcou o início de um mês movimentado para o bloco.
Foto: Thiago Gadelha

Em menos de um mês, o caminho da oposição cearense até 2026 ganhou novos contornos, com a expectativa de fusão e federação partidárias, acenos do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e declarações do deputado federal André Fernandes (PL). As movimentações indicam, também, a intenção de dar visibilidade às opções do bloco para as disputas majoritárias e de transmitir uma ideia de unidade entre seus representantes.

Não à toa, esse tem sido um dito frequente nas entrevistas concedidas nas últimas semanas. “Todos estaremos unidos contra esse grupo que está no poder”, diz Capitão Wagner (União). Ciro também menciona um “esforço absolutamente notável de superar” as divergências na oposição e os “consensos que facilitam” o diálogo em prol do Ceará.

 

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“A partir do momento que nomes de liderança sentam para dialogar e propositalmente se tornam notícia, é uma forma de comunicação pública, é uma maneira também de saber como o público irá receber essas novas alianças e essas articulações”, avalia Paula Vieira, socióloga, cientista política e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem), da Universidade Federal do Ceará.

 

Estamos falando de um posicionamento público que vai para teste. Então, quando se lança o Ciro Gomes como pré-candidato, também se está colocando publicamente, não só internamente, para ver as possibilidades de adesão da população ao nome do pré-candidato
Paula Vieira

Pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem), da Universidade Federal do Ceará

 

As dinâmicas publicizadas por meio da imprensa e das redes sociais são conversadas em nível partidário pouco a pouco, entendendo o cenário, aguardando novos desdobramentos e de olho na janela partidária do próximo ano.

A visita de André Fernandes a vereadores de oposição em Fortaleza, a defesa de Ciro Gomes como candidato ao Governo do Estado, a nova crise do PDT e o destino da federação PP/União Brasil e da fusão PSDB/Podemos são os destaques recentes no campo de oposição.

PontoPoder explica, a seguir, esses cinco movimentos, que sinalizam estratégias para 2026.

André Fernandes de volta com apoio municipal

Nessa segunda-feira (19), replicando um formato utilizado na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), a bancada de oposição da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) se reuniu para um café da manhã e recebeu uma liderança do grupo. Quem estreou a programação foi o deputado federal André Fernandes (PL) na Casa.

Essa foi a sua primeira aparição pública em 2025, após um tempo afastado dos holofotes para focar na família, que ganhou mais uma integrante em abril, a pequena Eloah. Derrotado nas eleições de 2024 por Evandro Leitão (PT), no segundo turno à Prefeitura de Fortaleza, o deputado disse que “voltou” e fez acenos para 2026.

Nomes tradicionais na política cearense, como o ex-senador Tasso Jereissati (PSDB) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) foram elogiados por ele.

“Durante todo o seu histórico, ele (Ciro) mostrou ser uma pessoa preparada e inteligente e que tem coragem também para enfrentar o Elmano. […] Nós estamos dialogando e eu tenho certeza que dessa união de toda a oposição, nós teremos bons nomes para o Senado e também para o Governo do Ceará”, declarou André Fernandes.

 

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O movimento ocorre após a oposição ganhar fôlego com a visita que Ciro Gomes fez ao Legislativo estadual, no último dia 7 de maio, para café da manhã com deputados estaduais contrários ao Governo Elmano de Freitas (PT). Na ocasião, o pedetista defendeu a unidade da oposição, disse que “espera poder votar” no deputado estadual Alcides Fernandes (PL), pai de André, para o Senado Federal.

O congressista ainda recuou em relação à ideia de lançar chapa própria ao Governo, considerando os recentes movimentos do bloco do qual faz parte. “Pelo protagonismo do PL, teríamos tudo para lançar cabeça em todos os cargos majoritários, mas a gente entende que hoje temos uma missão muito maior, que é derrotar quem está destruindo o estado do Ceará, e eu falo do PT”, salientou o parlamentar.

Consultada pelo Diário do Nordeste, a doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Mariana Andrade, disse que a postura do parlamentar “mostra uma estratégia para ampliar a base política e se posicionar como uma liderança relevante para as eleições de 2026, tanto no Ceará quanto ao nível nacional”.

“Apesar de André Fernandes ser associado ao bolsonarismo e à direita mais combativa, o gesto de aceno a duas figuras historicamente ligadas ao centro e centro-esquerda cearense e a moderação no discurso indicam uma tentativa de construção de uma frente ampla, para aumentar o arco eleitoral e, talvez, ganhar mais protagonismo no campo da direita no Nordeste”, frisou a especialista.

Líder da oposição na CMFor, Priscila Costa elogiou a articulação oposicionista e disse que seu grupo “vive um momento muito único”. No entendimento da liberal, a “oposição conversa agora de maneira muito mais ampla e mais madura”. O intuito, conforme defendeu, é constituir “uma frente ampla que seja capaz de tirar o PT do governo”.

O líder do PL na Câmara, Julierme Sena, por sua vez, considerou que a mobilização faz parte do “arcabouço pensando nas Eleições 2026” e, que entre os planos do partido estão o de fazer parte de uma chapa majoritária, “seja na cabeça ou na vice-governadoria”.

Ciro pré-candidato a governador

Em meio ao espaço deixado por André Fernandes e Roberto Cláudio neste primeiro semestre, Ciro Gomes voltou ao centro do debate eleitoral, ao participar de reunião com a oposição na Assembleia Legislativa do Ceará no início de maio.

Teve de tudo no encontro: aceno à pré-candidatura do deputado Alcides Fernandes (PL) ao Senado, apoio público à investida de Roberto Cláudio (PDT) no Governo do Estado e conversa de bastidores sobre ele mesmo concorrer ao Abolição. Até aquele momento, ao menos publicamente, Ciro ainda era eventualmente cotado por aliados como pré-candidato ao Planalto.

A defesa da candidatura, inclusive, saiu dos gabinetes da Alece e virou faixas espalhadas por viadutos da cidade. O PontoPoder registrou uma das faixas próximo à Arena Castelão. No local, é possível ler “O povo quer Ciro Gomes governador” e “Ceará pede paz”.

 

Faixa pede Ciro governador
Legenda: Faixa foi colocada em viaduto próximo à Arena Castelão
Foto: Kid Jr.

 

Com a possibilidade de voltar para o PSDB, a empreitada ganha mais força entre membros do bloco, que veem ele “largando na frente” no interior do Ceará. Enquanto uns mostram certo encanto com as posições de Ciro, outros ainda demonstram considerável dissonância com o ex-governador.

Após o pedetista afirmar que Capitão Wagner não pretende disputar cargo majoritário em 2026, o dirigente do União Brasil não só negou conversa com ele sobre isso, como também minimizou a postulação de Ciro e colocou-se como uma possibilidade de 2026. Apesar disso, defendeu união na oposição e sinalizou que o apoiaria caso fosse candidato.

 

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“Muito embora eu não acredite nessa candidatura do Ciro – ele foi candidato a presidente diversas vezes –, mas colocou-se aí essa possibilidade. Temos o meu nome, tem o Roberto Cláudio, o PL tem nomes valiosos também, então está muito cedo para definir o nome. Mas uma coisa já está decidida dentro do campo da oposição: todos estaremos unidos contra esse grupo que está no poder”, avaliou.

Já André Fernandes, mesmo afirmando que “não sabe dessa candidatura”, considerou Ciro um nome “fortíssimo”, “que teria coragem de enfrentar o PT, como já está fazendo”.

PontoPoder buscou Roberto Cláudio para entender como o ex-prefeito acompanha os últimos desdobramentos, mas não obteve retorno.

 

 

Crise do PDT

Desde a aproximação do Partido Democrático Trabalhista (PDT) ao Governo Evandro, na reta final da campanha eleitoral do ano passado, é aventada a saída do ex-prefeito Roberto Cláudio e do ex-ministro Ciro Gomes. Os dois demarcam uma posição de afastamento do PT desde 2022, quando o partido desfez a aliança que tinha para o lançamento de uma candidatura própria para o Palácio da Abolição.

Dada a realidade atual do PDT Ceará, envolto em histórico de divergências internas e num cenário em que se discute estratégias de sobrevivência, os rumores da saída de Ciro e Roberto ganharam mais força, ampliando a crise da agremiação. Nos bastidores, se comenta sobre a ida do membro do clã Ferreira Gomes para o PSDB, enquanto o ex-gestor da capital cearense estaria indo para o União Brasil.

Embora o assunto repercuta no meio político, a situação não foi tratada formalmente entre a direção partidária e a dupla de políticos. Segundo o presidente estadual do PDT, o deputado federal André Figueiredo, em conversa com o Diário do Nordeste na última quarta-feira (14), não houve ainda diálogo sobre o tema com os políticos, mas que tem “sinalizado que eles são companheiros” de legenda e que, considerando isso, espera “que eles não saiam do partido”.

Na ocasião, o dirigente disse haver uma perspectiva, inclusive, de marcar uma conversa “para os próximos dias”. Nela, deverá ser discutida também uma possível reaproximação com o Governo Elmano de Freitas. “Mas isso não será sem conversar com o Ciro e com o Roberto”, frisou.

 

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O diretório cearense da legenda tem vivido um acúmulo de baixas desde o ano passado, com a saída de deputados federais e prefeitos do interior do estado, além da possibilidade de perda de mandatos federais com a janela partidária que se aproxima — no período que irá anteceder a montagem de chapas para a eleição. Apesar disso, o destaque da sigla permanece na Câmara de Fortaleza, onde mantém uma bancada com 8 parlamentares.

 

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Nomes como Eduardo Bismarck, Idilvan Alencar, Mauro Filho e Robério Monteiro receberam uma carta de anuência em 2023, o expediente foi o mesmo usado pelos deputados estaduais para conseguir autorização da Justiça Eleitoral sair da legenda. Elas foram anuladas pela Executiva nacional em seguida. Mas, desde a concessão dos documentos, não houve manifestação dos partidários em utilizá-las para deixar o PDT.

Objetivados em se manterem firmes, os pedetistas já pensam em estratégias, pelo menos foi o que alegou Figueiredo na conversa da última quarta. Conforme salientou, sua sigla irá debater 2026, em termos majoritários, somente no próximo ano, mas indicou que elabora um planejamento para as chapas proporcionais visando a Alece e o Congresso Nacional. “Agora a gente está preocupado em buscarmos formar uma nominata forte de federal e de estadual”, pontuou.

Para Mariana Andrade, “o futuro do PDT no Ceará está em um momento crítico de redefinição de rumos e identidades, depois de anos como uma das principais forças políticas do Estado”. “É o fim de um ciclo. A legenda, que foi protagonista sob a liderança dos irmãos Ferreira Gomes, hoje recolhe os restos de uma fragmentação interna, seguida da perda de quadros estratégicos e dificuldades para se posicionar de forma coesa no cenário político local e nacional”.

No entendimento da cientista política, “a saída iminente de Ciro Gomes e Roberto Cláudio, dois dos maiores expoentes do PDT, dificulta ainda mais a ideia de um novo ciclo de protagonismo para o partido, que precisa reformular o discurso e renovar suas lideranças urgentemente”.

A reportagem contatou o ex-prefeito Roberto Cláudio a fim de obter uma posição sobre o assunto. Não houve resposta até a publicação desta matéria. O conteúdo será atualizado caso haja alguma devolutiva. O ex-ministro Ciro Gomes, entretanto, não foi localizado.

Destino de PSDB-Podemos

As movimentações até aqui devem considerar não só as já conhecidas dinâmicas locais, mas também mudanças estruturais definidas em âmbito nacional. É o que se observa na possibilidade de fusão entre PSDB e Podemos e na iminência da federação entre União Brasil e PP, que aglutinam legendas da oposição e da base governista cearense.

Apesar de se mostrarem otimistas com a união, dirigentes fazem questão de demarcar suas posições no campo político local. Bismarck Maia, do Podemos, não vê barreira para consolidar a composição no Estado, mas pretende seguir na ala governista. Para ele, as legendas viverão uma nova realidade dentro do Ceará.

“Você veja que o PSDB hoje, embora tenha várias lideranças na base do governo, mas tem algumas outras que não estão ainda na base do governo. Então essas coisas vão ser discutidas, mas o bom disso é que isso é vida partidária”, disse, em entrevista ao PontoPoder.

Já o PSDB mantém uma “relação respeitosa” do ponto de vista institucional com o Governo Elmano, mas a posição não é a mesma no âmbito político-partidário. “Nossa linha partidária segue firme na oposição — uma oposição responsável, propositiva e, como sempre tenho defendido, sem radicalismos”, ressaltou Ozires Pontes, presidente estadual da sigla, em nota.

 

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Para Mariana Andrade, os efeitos dessa nova composição ainda são incertos. Na sua avaliação, se os tucanos prevalecerem no novo partido, “a fusão poderia fortalecer a oposição, oferecendo uma nova plataforma política mais estruturada, com musculatura nacional e credibilidade de centro”.

Se o cenário for oposto a isso, ela projeta permanência na base governista e possível migração do núcleo tucano, mais inclinado a permanecer na oposição.

Um olhar mais atento dá evidência à situação de PSDB e Podemos em importantes colégios eleitorais para as siglas no Ceará, como Aquiraz, Juazeiro do Norte, Massapê e Iguatu. O prefeito de Juazeiro, Glêdson Bezerra (Podemos), por exemplo, deve ser peça fundamental para a oposição no Cariri, mas ainda está sob liderança de Bismarck, figura próxima de Cid e Elmano.

O prefeito Glêdson foi procurado pelo PontoPoder para comentar o cenário. Quando houver resposta, este material será atualizado.

Destino de União-Progressistas

O dilema no caso da federação União Progressista, formada pelo União Brasil e o PP, tem raízes semelhantes à fusão acima mencionada, mas efeitos mais imprevisíveis. Isso porque o PP integra a base do governador Elmano de Freitas (PT), que deve tentar reeleição e emplacar aliados no Senado.

Ainda que o vice-presidente do PP Ceará e secretário das Cidades, Zezinho Albuquerque, diga que a federação “não muda nada” em relação ao apoio ao Governo Elmano, o cenário não é tão simples.

Apesar de comportar nomes com boa relação com os governos petistas, o União Brasil também quer participar das disputas majoritárias no Ceará, mas, sob Wagner, na oposição. Ele garante que a legenda é que vai chefiar o arranjo no primeiro ano, já que tem maior número de deputados e prefeitos. Ex-candidato a governador, o dirigente tem perdido espaço nas citações para a sucessão no Abolição, mas tenta se manter no jogo pela influência de presidente da legenda.

 

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Toda essa discussão passa também por processos burocráticos, que envolvem a construção de um estatuto comum entre os partidos, que abordará, entre outros pontos, normas para a escolha de seus candidatos nas eleições e os critérios de distribuição dos valores bilionários dos recursos financeiros nas três instâncias da agremiação.

Com um aporte total de R$ 954 milhões do Fundo Eleitoral em 2024 e com uma previsão de R$ 70 milhões de Fundo Partidário em 2025, naturalmente essas cifras serão colocadas à mesa na disputa pelo comando da federação. As tratativas já começaram, mas ainda não se sabe como será a divisão e se, no fim, base ou oposição estará mais turbinada financeiramente na campanha.

Essa é uma dúvida que paira sobre o núcleo cearense, já que a direção nacional da federação, copresidida por Antonio de Rueda (União) e Ciro Nogueira (PP) neste primeiro momento, deve seguir na oposição ao Governo Lula.

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Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

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