Cidade da Região Norte corresponde a 16,5% de tudo o que fabricado dos produtos no País

Quando o assunto é produzir calçados, nenhuma outra cidade do Brasil tem maior robustez do que Sobral. O município da região Norte do Ceará continua ocupando a posição de maior fabricante dos pares do País, e em 2024, foram 153,7 milhões produzidos.
Os dados foram divulgados nessa terça-feira (20) no Relatório da Indústria de Calçados de 2024, elaborado pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Sobral é responsável pela produção de 16,5% de todo o País e 68% do Ceará, conforme estabelecido na publicação.
“(O polo de Sobral é) uma das regiões de maior desenvolvimento socioeconômico ao longo das últimas décadas. A indústria calçadista é a maior empregadora entre os setores industriais da região, respondendo por 75% dos empregos vinculados à indústria de transformação do grupo de municípios”, destaca o relatório.
Ao todo, são 16,4 mil pessoas empregadas diretamente no Polo Calçadista de Sobral, “sendo o maior polo produtivo da indústria calçadista, em termos de pares produzidos”, conforme divulgado pela Abicalçados.
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De acordo com o Sindicato Calçadista de Sobral, o núcleo e único representante do polo é a cidade de mesmo nome, ainda que a Associação Brasileira considere para o levantamento demais municípios nas proximidades, como Massapê e Santana do Acaraú.
Fica em Sobral a atual sede da Grendene, gigante brasileira do setor calçadista dona de marcas como Grendha e Melissa, fundada em Farroupilha (RS) e pertencente aos familiares de Pedro Bartelle, CEO da Vulcabras, outra empresa de grande porte do ramo e com uma das fábricas em Horizonte, na Grande Fortaleza.
A instalação da Grendene na cidade da Região Norte é um dos pontos que auxiliam o destaque nacional, como analisa o economista Ricardo Coimbra: “O Ceará se tornou um grande polo calçadista em função de transferência de unidades produtivas de produtoras de calçados do País, uma delas em Sobral”.
‘Dispersão produtiva’ do Ceará favorece também os outros polos
Há anos, o Estado figura como o maior produtor de pares do Brasil, e em 2024 o cenário não foi diferente. Em relação ao ano anterior, houve uma leve alta na fabricação de calçados (de 224,9 milhões em 2023 para 226 milhões em 2024), colocando o território cearense com 24,3% de participação no mercado nacional, produzindo um em cada quatro pares do País.
Uma das principais características do modo fabril cearense no setor, segundo frisado pela Abicalçados, é a distribuição geográfica espaçada das plantas de calçados. Embora o polo de Sobral seja o principal do País, a produção tem bastante envergadura em Fortaleza, Juazeiro do Norte e Quixadá.
Esses são os outros três polos calçadistas do Estado, responsável por 99,3% de todos os pares produzidos no Ceará em 2024. Como há a dispersão, esses polos estão na Capital, na Região Norte, no extremo sul do território e ainda no Sertão Central.
Ao todo, a indústria calçadista no Ceará empregou, em 2024, 69,1 mil trabalhadores diretamente. Foram 224 empresas do segmento em funcionamento em todo o Estado.
Polo de Fortaleza se destaca pelas microempresas
A sede do polo de Fortaleza fica na Capital, e engloba produções calçadistas nas cidades da Região Metropolitana. Conforme o relatório, foram pouco mais de 30 milhões de pares fabricados nos municípios, o que equivale a 13,3% de tudo o que foi produzido no Estado.
“O polo abrange 76 empresas, das quais 75% são micro e pequenas empresas e 25% médias e grandes empresas. O polo empregou, de forma direta, 26,3 mil pessoas na indústria calçadista, um crescimento de 4,2% em relação ao ano anterior”, reforça a divulgação.
Argentina, França e Estados Unidos, respectivamente, foram os principais destinos da exportação deste polo. Ao contrário de Sobral, que exporta principalmente calçados sintéticos, os pares de Fortaleza comercializados com o exterior são majoritariamente fabricados em materiais têxteis e de couro.
Grandes empresas dominam polo de Quixadá
Ao contrário de Fortaleza, no polo de Quixadá, que abrange municípios como Quixeramobim e Senador Pompeu, predominam as grandes empresas. Vale lembrar que a Aniger Calçados, dona de Petite Jolie, e a Sugar Shoes, da Colcci, estão instaladas em cidades da região.
Cerca de 10% da produção estadual vem desse polo — 22,1 milhões de pares —, que gerou em 2024 15,5 mil postos de trabalho diretos. Por outro lado, houve uma queda brusca nas exportações, de mais de 35% em relação a 2023, com US$ 30,2 milhões vendidos para o exterior. Assim como na Capital, EUA, França e Argentina foram os principais destinos.

Juazeiro tem o maior número de empresas calçadistas do Estado
O quarto principal polo calçadista do Ceará é ainda aquele que concentra o maior número de empresas do setor, 120 no total, estabilidade na comparação com 2023, e é responsável por 8,2% da produção estadual, com 18,6 milhões de pares.
“Entre 2022 e 2024, o polo produtivo ampliou em 12,3% sua produção, apesar da estabilidade registrada no último ano. (…) As empresas do polo são, em sua maioria, microempresas (74%), que empregaram, no último ano, 9,3 mil pessoas de forma direta”, considera o levantamento.
Apesar dos bons índices, o tombo mais expressivo nos indicadores estaduais de exportação do setor calçadista foi registrado no polo, com queda de 71,2% no comparativo com 2023. Essa redução foi explicada com menos volume sendo comercializado com a Argentina, destino que, segundo a Abicalçados, “absorve mais de 80% dos valores exportados pelas empresas do polo”.
O foco dessas empresas — o mercado externo e abastecer as regiões Norte e a Nordeste — fez criar um polo produtivo, além do polo de calçado antigo no Ceará, de produtores locais. Tivemos a entrada de empresas de fora e acabou fortalecendo. Alguns anos atrás tiveram programas de incentivo à atração de empresas do segmento. Isso fez com que o Ceará se tornasse um grande player no segmento de calçados.
Ceará produz mais, mas exporta menos pares e com valor ainda mais baixo
O Ceará foi o Estado que mais produziu calçados no Brasil em 2024, e é seguido por Rio Grande do Sul (202,9 milhões de pares), Minas Gerais (156,6 milhões) e Paraíba (141,5 milhões). Juntos, os quatro são responsáveis por, aproximadamente, quatro em cada cinco pares fabricados no País.
Acontece que esse volume do Ceará, no entanto, não é tão traduzido em volume de vendas. O Estado deixou de ser aquele que mais exporta para o exterior (30,2 milhões de pares no ano passado, correspondendo a 31%), perdendo o posto para o Rio Grande do Sul (32,3 milhões, equivalente a 33,1%).

Isso trouxe impactos também nos valores. Após três anos, o Ceará voltou a exportar menos de US$ 200 milhões, queda de quase 25%. O Estado é responsável por aproximadamente de 20% de tudo o que foi comercializado de calçados com o exterior no ano passado em milhões de dólares, enquanto o Rio Grande do Sul detém metade — 50% — dessa fatia nacionalmente.
“A média nacional do preço dos calçados exportados é de aproximadamente US$ 10,02. Os maiores preços médios são registrados nas exportações do Rio Grande do Sul, com US$ 15,04, Minas Gerais com US$ 12,91 e Bahia com US$ 10,82. Nas exportações de Ceará e São Paulo, os preços médios são de US$ 6,60 e US$ 6,39, respectivamente. Esse resultado reflete a composição da pauta exportadora de cada estado e os tipos de calçados nos quais concentram seu foco”, analisa o levantamento.
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