Para o mercado financeiro, decisão do governo de suspender subsídios das linhas de crédito para a agropecuária pode aumentar competitividade do setor

Tornou-se mais difícil a vida de quem produz no campo. A decisão do governo federal de suspender os subsídios das linhas de crédito para produtores rurais pegou o setor agropecuário de surpresa. O anúncio foi feito em fevereiro e está vigendo desde então, sem prazo para terminar. Com isso, os agricultores que dependiam do crédito subsidiado estão agora recorrendo ao mercado privado, que tem taxas de juros mais altas.
O Plano Safra tem sido um dos principais instrumentos de financiamento para o agro brasileiro, destinando, no ano passado de 2024, um Evereste do tamanho de R$ 400 bilhões, um aumento de 10% em relação ao ano-safra anterior de 2023.
O modelo funcionava com o Tesouro Nacional cobrindo parte dos juros, permitindo que os produtores acessassem crédito a taxas mais baixas. No entanto, com a alta dos juros no mercado, os custos desse subsídio aumentaram significativamente para o governo, o que levou à sua suspensão temporária.
Mas essa decisão, embora possa parecer um baque para o setor, representa – segundo o olhar interesseiro do mercado financeiro – uma oportunidade de modernização do crédito rural, de acordo com a opinião de Volnei Eyng, CEO da Multiplike, uma empresa financeira que oferece crédito para médias e grandes empresas.
“Isso impulsiona a economia para um modelo de livre mercado, no qual a indústria financeira precisará modernizar-se, sofisticar-se para oferecer melhores condições de atendimento à demanda do agronegócio ao longo do tempo”, diz o executivo.
Volney Eyng acrescenta que a medida restritiva adotada pelo governo tem impacto positivo para o equilíbrio fiscal do país. Ele esgrima com o seguinte argumento:
“Essa decisão reduz os custos para o governo, contribuindo para um ajuste fiscal mais eficiente. Além disso, os pequenos produtores de subsistência continuam sendo atendidos pelo Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar), enquanto os médios e grandes produtores, que operam no mercado e exportam commodities como soja e milho, precisam adaptar-se a essa nova realidade, pois, afinal, não são apenas agricultores, são empresários rurais. Em outras áreas da economia, os empresários não contam com subsídios do governo.”
Outro ponto a ser considerado – justifica Eyng – é o de que, no longo prazo, a redução dos subsídios pode fortalecer a competitividade do agronegócio brasileiro. Ele é curto e objetivo ao dizer:
“Nenhuma indústria se fortalece dependendo de subsídios. Um bom exemplo disso é a agricultura europeia, que recebe altos incentivos, mas não é competitiva internacionalmente”.
Neste ponto, Volney Eyng tem razão: os agricultores franceses e holandeses, para citar apenas dois exemplos, puxam o cordão dos que, na Europa, querem manter a proibição das importações dos produtos da agropecuária brasileira, incluindo peixes e camarões.
O agro europeu – hiper subsidiado – tem medo da concorrência porque, mesmo incentivado pelo dinheiro público, não consegue obter a produtividade dos agricultores brasileiros, que, aliás, operam na ponta tecnológica, mantêm áreas de preservação ambiental e ocupam menos de 10% da geografia agriculturável do país. Isto provoca a inveja do agro europeu, que destruiu suas florestas para desenvolver sua agropecuária.
Voltando ao tema inicial da coluna e aos argumentos do CEO da Multiplike: com a saída do governo do financiamento rural, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) têm se destacado como uma das principais alternativas para os produtores, atendendo diretamente às necessidades do setor.
Segundo Volney Eyng, “os FIDCs multicedentes e multissacados já financiam a indústria de fertilizantes e distribuidoras, permitindo que os produtores obtenham prazos mais longos para a compra de insumos, como defensivos agrícolas e fertilizantes”.
Ele diz ainda que, “com o crescimento do mercado de FIDCs no Brasil, impulsionado pela Resolução CVM e pela modernização do setor, há cada vez mais funding disponível para irrigar essa cadeia de crédito do agronegócio.
“Por isso, planejamos disponibilizar R$ 7 bilhões em crédito para o agronegócio ao longo de 2025”, finaliza Eyng.
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