Kely Moraes, uma mulher cis, denuncia ter sido agredida verbalmente por um casal de frequentadores de unidade da Selfit

A personal trainer Kely Moraes, de 45 anos, uma mulher cis, foi impedida de usar o banheiro de uma academia ao ser confundida com uma mulher transexual. O caso aconteceu na segunda-feira (26), em uma unidade da Selfit, em Recife, e ganhou repercussão após uma gravação da cena ser publicada nas redes sociais.
No vídeo, filmado pela própria Kely, é possível ver o casal, aos gritos, impedindo a personal trainer de acessar o banheiro. Em determinado momento, o homem afirma que, no andar de baixo, há um banheiro “inclusivo” para ela. A vítima pergunta “porque eu sou o quê?”, ao que o outro responde: “É inclusa, é inclusiva, lá embaixo”.
Durante a confusão, também é possível ouvir uma pessoa pedindo para Kely mostrar a identidade, a fim de provar que ela é uma mulher cis. Ao fim da gravação, a vítima tenta, novamente, ir em direção ao banheiro, mas o homem volta a bloqueá-la. “Não vai entrar não”, brada.
Veja o vídeo:
Personal trainer alega descriminação
Nessa terça-feira (27), Kely Moraes foi às redes sociais narrar e fazer um desabafo sobre o ocorrido. Segundo a personal trainer, pouco antes de entrar na academia, ela sofreu um acidente de moto e feriu o pé. Ao entrar no estabelecimento, foi em direção ao banheiro para limpar a ferida, quando foi barrada pelo casal.
Ela [a esposa] disse que eu não podia ir no banheiro, e eu perguntei por quê. Ela disse ‘não é lugar para você’, e eu perguntei, novamente, por quê. Ela disse que o banheiro de homem era lá embaixo. Disse ‘você é trans, mas é um homem’. Eu me alterei um pouco e minha aluna, que está grávida, chegou, pegou a conversa no meio do caminho e ficou muito nervosa
A vítima disse que se sentiu envergonhada com a situação e denunciou a descriminação por parte dos agressores. “Estou envergonhada, não por ser comparada com uma trans, o que para mim é um elogio. Se eu fosse [trans], o que tem a ver? Por que isso ofende tanto? Eu estava só trabalhando, só queria ir no banheiro”, completou.

Kely ainda explicou que, além de personal trainer, atua como fisiculturista. O esporte requer treinos intensos, que resultam em grandes transformações no corpo. “Por ser fisiculturista, nosso corpo é diferenciado, e isso é relativamente normal acontecer, as pessoas olharem feio. Eu já fui convidada a me retirar de uma festa. Mas nunca tinha acontecido nada nessa proporção, nada tão violento”, desabafa.
Por fim, a mulher garantiu que irá processar os responsáveis e clamou por mais respeito. “Eu não tenho que provar nada para ninguém. Eu sou uma pessoa digna do meu trabalho. Estudei para isso. Estou no lugar onde Deus me colocou. E por que eu não posso ir ao banheiro?”, finalizou.
Selfit se pronuncia sobre o ocorrido
Por meio de nota publicada nas redes sociais, a rede de academias Selfit lamentou o ocorrido e afirmou que repudia “qualquer ato de preconceito ou violência”. A empresa também afirma que prestou apoio à vítima e cancelou o contrato com o casal de frequentadores.
“A missão da Selfit é proporcionar um ambiente seguro, acolhedor e respeitoso para todas as pessoas que frequentam nossas unidades. Assim que a situação foi identificada, a equipe local agiu para conter os ânimos e garantir a segurança da vítima. A Selfit está à disposição para colaborar com as investigações”, diz o comunicado.
Um texto de solidariedade também foi publicado pelo Conselho Regional de Educação Física da 12ª Região/Pernambuco (CREF12/PE). Na postagem, a organização disse ser contra qualquer ato de descriminação, transfobia e violência em qualquer ambiente, seja profissional, público ou privado.
“Acreditamos que o exercício Profissional da Educação Física deve estar alinhado à promoção da igualdade, da inclusão e do respeito às diferenças. É inaceitável que condutas discriminatórias ou violentas façam parte das relações humanas, sobretudo em espaços que deveriam ser de acolhimento, desenvolvimento e bem-estar”, finaliza.
O que diz a Polícia?
A Polícia Civil de Pernambuco, por meio de boletim enviado ao g1, informou que foi registrada uma ocorrência de “constrangimento ilegal, vias de fato e ameaça, que vitimou duas mulheres de 26 e 45 anos”. Segundo a corporação, também foi instaurado um inquérito policial e as diligências foram iniciadas “imediatamente após a comunicação do fato e seguirão até a completa elucidação”.
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