Iniciativa milionária visa eficiência na produção de leite com bem-estar animal

Uma produção de leite de mais de 3,5 mil litros por dia em que trabalham apenas cinco pessoas. Assim é a Fazenda Beira Rio, em Limoeiro do Norte, no Vale do Jaguaribe, interior do Ceará, que investiu no sistema Compost Barn (em português, “celeiro de compostagem”) para produzir mais e com mais qualidade.
Atualmente, o faturamento anual do local é de mais de R$ 3,7 milhões e toda a produção tem um destino certo, ser matéria-prima do grupo Alvoar Lácteos, detentor da marca Betânia, Embaré e Camponesa, entre outras.
Arinilson Macena, técnico em administração de empresa, 60 anos, começou a trabalhar com 17 anos já na produção de leite em grande escala. A sua experiência, até 2017, era na produção de leite a pasto, sistema no qual as vacas se alimentam exclusivamente de forragem em pastagens, sem suplementação artificial, com menor investimento em infraestrutura e maior liberdade para os animais.
“Com o advento da produção em confinamento de gado no país, fomos estudar, ver exemplos, experiências e começamos a instalar o projeto naquele ano. A meta é ter uma ordenha de 200 matrizes até o final de 2026, produzindo 8 mil litros de leite por dia“.
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Em janeiro deste ano, ele começou a produção e sua média de captação era de 18 litros/dia por vaca. Cinco meses depois a média já está em quase 31 litros/dia por animal. A produção total, por dia, atualmente, tem dado cerca de 2.330 litros no período. Diariamente, os animais passam por três ordenhas.
Até dezembro deste ano a expectativa é ter 103 vacas em lactação, produzindo 3,5 mil litros/dia”.
No galpão construído, as 76 vacas que estão produzindo atualmente e mais das 24 que estão prenhas possuem cuidados como ventilação, banhos com aspersor de água, além de comida balanceada e serragem específica para o conforto do animal.

Investimentos de grande porte
Ao todo, Arinilson já investiu R$ 8 milhões no negócio. Ele comenta que só o galpão com equipamentos custou R$ 1 milhão. O trator e o vagão para a alimentação custaram mais R$ 500 mil. O rebanho tem valor de R$ 2 milhões e a propriedade seria mais cerca de R$ 2,5 milhões, entre outros custos como o maquinário para ordenha e o tanque de leite.
Na fazenda trabalham ele e mais quatro homens: um no trato animal, dois na ordenha e um na recria. Considerando o preço atual que está ganhando por litro de leite (R$ 2,94) o seu faturamento é de cerca de R$ 315 mil por mês, com uma margem de lucro de 25% no mesmo período.
“Esse é um investimento muito grande, mas que faz com que em vez de ser uma vacaria, uma fazenda de leite, a gente seja um negócio de produção de leite para poder produzir muito mais, com mais qualidade e atender a necessidade das grandes empresas”.
Ele ainda lembra que no Sul do País, 60% do leite comercializado é de confinamento. “Lá, nos últimos 10 anos, diminuiu 50% o número de produtores, mas a produção se manteve”.
O produtor reforça que o Nordeste é a região que mais cresce no Brasil, atualmente, em termos de produção de leite. Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Nordeste produz cerca de 6,2 bilhões de litros de leite por ano, sendo a terceira maior região do país nessa produção.
“Primeiro lugar está Sergipe, em segundo está o Ceará, em termos de tecnificação de produção. Tem outros estados que até produzem mais em quantidade, mas não tem a tecnologia que está sendo empreendida aqui e em Sergipe”.
Sistema proporciona conforto ao animal
Na Fazenda Beira Rio, está sendo usado o modelo de produção chamado de Compost Barn. Assim, o alojamento das vacas-leiteiras tem uma cama coletiva de compostagem onde os dejetos orgânicos (fezes e urina) são misturados à serragem que cobre o chão do local e reutilizados como compostagem. O formato de produção proporciona conforto térmico e maior higiene, reduzindo o estresse e as doenças nas vacas.
“É um sistema de produção em alta performance onde as vacas têm todo um conforto, não só na parte de cama, mas na parte das pistas de alimentação, de trato, com ventilação e banho”, comenta.

Na Fazenda Beira Rio, o processo é automatizado. Quando os animais estão na pista de alimentação, recebem um minuto de água e quatro minutos de vento. O processo ocorre 24 horas no dia. Meia hora antes da ordenha os animais também recebem banho.
“Isso em todas as três ordenhas. É um sistema para ampliar o conforto dos animais que têm genética (para produzir bastante leite), que aliado a uma boa alimentação (milho, soja e os macrominerais) oportuniza triplicar a produção de leite comprovadamente”.
Sobre as fezes e urina, 70% são incorporadas à cama, que passa por tratamento e reviração 2 vezes por dia. O material também pode se transformar em composto orgânico que pode ser vendido no mercado ou usado na agricultura irrigada da própria fazenda, na produção de silagem de milho e de sorgo e no capim.
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História da fazenda
Desde 2013, Arinilson tem a propriedade de 66 hectares, mas começou o trabalho em 2017. A terra foi comprada do fundador da então Betânia, Luiz Girão, e é paga em leite. “Pago 100 litros de leite, todo o dia, durante 15 anos, pela terra. Isso é um detalhe no meu negócio, porque não é normal isso”.

Ele comenta que com o mesmo porte e sistema da sua fazenda, só tem o conhecimento de mais duas no estado, que estariam localizadas nos municípios de Marco e Iguatu.
Além da propriedade em Limoeiro do Norte, o produtor tem uma empresa, a BR Agro, especializada em desenvolver esses projetos de produção com o sistema Compost Barn. Para isso, ele conta com o seu tempo de experiência de 40 anos como funcionário da então Betânia, hoje, Alvoar Lácteos.
“Com essa minha experiência de anos e agora aqui (na Fazenda Beira Rio), estou montando um projeto agora lá em Aquiraz, de 200 matrizes”, revela.
Expansão com robô de ordenha
Para 2027, o empresário já projeta a instalação de um robô de ordenha, em uma área de cerca de 6 metros que já está construída.
“Esse é o último passo, ter a ordenha toda automatizada para 50 matrizes simultâneas. Isso custaria R$ 1,2 milhão. Assim, preciso investir, ao todo, mais R$ 4 milhões para ter toda a estrutura e produção que planejei”.
Reprodução focada na produção
Sobre os filhotes, as fêmeas são cuidadas e preparadas para repor e ampliar o rebanho. Para atingir a meta de 200 matrizes para produção, Arinilson quer construir outro galpão igual ao que tem hoje, que será habitado por mais 100 vacas-leiteiras, até o fim do próximo ano.

“Já tenho 40 fêmeas ali, sendo criadas para chegar as 100 que quero ter até o final do ano que vem para dobrar a minha produção”.
Com relação aos garrotes (bovinos machos jovens), o produtor conta que produz para a venda. “Vou alimentando eles conforme o mercado. Vendo com 60 a 90 dias (de vida)”.
Estrutura construída é focada na eficiência
Na Fazenda Beira Rio, os animais não ficam livres no pasto. Eles passam por quatro espaços pensados para a criação, reprodução e produção de leite. Para os filhotes, tem a “creche” e depois a recria, único processo feito com o animal solto, por enquanto.
“Mas tenho o projeto de ter a recria também em um galpão como o feito para as produtoras (de leite)”.
Sobre a reposição do rebanho, ele explica que todo ano há algum descarte de animal, seja por idade, ou por saúde, ou por condições das mamas. O descarte é feito por meio da venda do animal para abate em frigorífico.
“O normal é isso ocorrer de 10% a 20%. Então, trabalho com a expectativa de colocar 20 e retirar 20 animais todo o ano na produção que tenho hoje”.
Parceria sólida traz garantias ao produtor
Quando questionado sobre ter somente uma empresa para o escoamento da sua produção, Arinilson afirma que se sente seguro e que “projetos grandes como o que quero ter aqui só existem porque tem indústria grande querendo comprar a produção”.
Ricardo Mariz, gerente de captação da Alvoar Nordeste, afirma que a empresa vê toda a cadeia de produção do leite como sendo importante. “Desde uma fazenda (como a Beira Rio) toda tecnificada, com sistema de produção de animais fechados até o pequeno produtor, todos são muito importantes e têm o leite levado as prateleiras”.

Ele ainda reforça que “talvez essa seja uma das ações sociais mais importantes (da Alvoar) para deixar o homem no campo”. Na região Nordeste a Betânia atua com a parceria de 5 mil produtores. Já no Ceará, são mais de 1,5 mil. “São famílias que dependem da produção de leite”.
Alvoar investe em tanques de comodato para fidelização
O gerente de captação também falou da preocupação com a qualidade do leite, independente do produtor ser grande ou pequeno, ressaltando que o produto é uma fonte de proteína importante e barata. Para isso, na própria captação, antes do produto chegar na indústria, muitos são os testes feitos.

“Hoje a gente tem toda uma cadeia de técnicos, de profissionais, que dão assistência para os nossos produtores. Isso é importante, a Alvoar entende que ela só pode crescer se o produtor também crescer”.
A Alvoar também está investindo cerca de R$ 10 milhões na aquisição de tanques de refrigeração entregues nas propriedades que não os possuem. Cada tanque custa, em média, R$ 20 mil.
Com essa medida, a empresa busca a fidelização do produtor, reforça o compromisso de comprar toda a produção e, ainda, diminui o intervalo entre a ordenha do leite, o resfriamento e a coleta. Com os aportes, o grupo pretende reduzir também o custo com transporte, já que seria reduzida a frequência de coleta do leite nas fazendas.
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