A fila real do INSS chegou a um número alarmante: mais de 10 milhões de requerimentos estavam pendentes em março de 2025. Esse número, quatro vezes maior que o da chamada fila oficial (com 2,7 milhões), escancara um acúmulo de demandas ignoradas nas estatísticas divulgadas regularmente pelo órgão.

Só aposentados

A fila divulgada ao público contempla apenas pedidos de aposentadoria, pensão, salário-maternidade, auxílio-doença e benefícios assistenciais. Porém, fora dessa conta ficam categorias que lideram o acúmulo de solicitações, como o seguro defeso — pago a pescadores durante o período de proibição da pesca — e os recursos contra negativas do próprio INSS.

Pendências

Levantamento da GloboNews mostrou que o instituto acumula pendências em 39 categorias diferentes. Muitas dessas demandas, embora diretamente ligadas ao funcionamento do sistema previdenciário, são classificadas pelo INSS como “internas, sazonais ou de outros órgãos” — e, por isso, ficam fora das estatísticas oficiais.

Parados

Dos mais de 10 milhões de pedidos pendentes, cerca de 7,3 milhões estão parados há mais de 45 dias — o prazo legal máximo para análise. Isso significa que 72,6% das solicitações já estão fora do tempo permitido por lei. O tempo médio para uma resposta também impressiona: 468 dias, ou seja, mais de um ano e três meses.

Com mais demora

Entre os itens mais demorados estão os recursos (com tempo médio de 845 dias), os casos sob suspeita de fraude no programa MOB (853 dias) e os pedidos de seguro defeso (356 dias). O recorde de lentidão vai para a chamada “qualificação da folha”, que demora incríveis 1.145 dias para ser resolvida — mais de três anos.

Benefícios

A fila oculta também inclui revisões de benefícios, correções cadastrais e processos de apuração de irregularidades. Mesmo assim, esses dados permanecem fora da divulgação oficial, que registrou uma pequena queda em abril (2,67 milhões), após atingir recorde histórico em março.

Situação

Apesar da promessa de campanha do presidente Lula de zerar a fila do INSS, a situação só piorou desde o início de seu terceiro mandato. A falta de servidores, infraestrutura defasada e falhas tecnológicas têm sido apontadas como entraves para a regularização dos atendimentos.

Motivos

O presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, atribui o crescimento recente da fila a greves de servidores e mudanças nos critérios para concessão do BPC. Ele garante que mutirões de atendimento serão realizados a partir de junho para reduzir a fila. Resta saber se, dessa vez, a promessa sairá do papel.

Nota do INSS na íntegra:

“O INSS não reconhece a veracidade dos números informados na tabela disponibilizada pelo veículo. Entretanto, esclarece que a fila oficial divulgada contempla os requerimentos de benefícios previdenciários e assistenciais que aguardam análise inicial. Os demais itens citados possuem natureza distinta e, por serem demandas internas, sazonais ou de responsabilidade de outros órgãos, não compõem a estatística de requerimentos de novos benefícios.

O Instituto reitera que prioriza a transparência dos dados referentes aos requerimentos que impactam diretamente a concessão inicial de benefícios aos cidadãos, e seus formatos de divulgação são continuamente avaliados.”