Os policiais militares, que viraram réus no processo, já estão presos. A Polícia Civil continua a investigar a motivação e a buscar o mandante do crime, dois meses após o homicídio

Três policiais militares, que já estão presos, foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por participarem do assassinato do empresário Vinícius Cunha Batista, no bairro Luciano Cavalcante, em Fortaleza, ocorrido no dia 30 de abril deste ano. A Polícia Civil do Ceará (PCCE) continua a investigar a motivação e a buscar o mandante do crime, dois meses após o homicídio.
A denúncia do MPCE contra o cabo da Polícia Militar do Ceará (PMCE) Rodrigo Aguiar Braga e os soldados Rebeca Júlia de Almeida Canuto e Wellington Xavier de Farias, pelos crimes de homicídio triplamente qualificado (praticado mediante promessa de recompensa, mediante recurso que dificultou a defesa da vítima e com emprego de arma de uso de uso restrito) e associação criminosa armada, foi apresentada à Justiça Estadual no último dia 1º de julho.
Além de pedir a condenação do trio, o Ministério Público demandou à Justiça a perda do cargo público dos policiais militares e o pagamento de indenização no valor total de R$ 40,5 mil para a família da vítima.
A conduta criminosa dos réus, cada um a seu modo, conforme a divisão de tarefas, é justamente o contrário do que se espera de um agente de segurança, que deveria velar pelo cumprimento da lei e ser exemplo entre seus pares e uma referência moral na sociedade.”
A 5ª Vara do Júri de Fortaleza recebeu a denúncia do Ministério Público, para iniciar a instrução do processo criminal, no dia 2 de julho último. Com isso, os três PMs viraram réus pelo homicídio. O trio também é réu pelo assassinato da servidora pública do Eusébio Maria Madalena Marques Matsunobu, ocorrido no dia 5 de abril deste ano.
A defesa dos policiais militares investigados pelo homicídio não foi localizada para comentar a denúncia do MPCE. O espaço segue aberto para futura manifestação.
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Como aconteceu o crime
Vinícius Cunha Batista foi assassinado a tiros, na saída de uma padaria localizada na Rua Jucá Fontenele, no bairro Luciano Cavalcante, em Fortaleza, por volta de 8h25 de 30 de abril de 2025. Dois homens, que trafegavam em uma motocicleta, cometeram o crime.
Relatório do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, descreve que, “ao deixar o estabelecimento e caminhar em direção ao seu automóvel, a vítima foi abordada por dois indivíduos que se aproximaram sorrateiramente em uma motocicleta Honda/Bros, de cor preta. No momento em que Vinícius adentrava seu veículo, o garupeiro efetuou diversos disparos de arma de fogo direcionados à região letal do corpo da vítima, os quais resultaram em óbito ainda no local”.

As investigações policiais apontaram que os PMs Rodrigo Aguiar Braga e Wellington Xavier de Farias foram os executores do homicídio. A motocicleta utilizada no crime seria pertencente à esposa de Rodrigo, mas estaria com placa falsa.
Os policiais civis refizeram o caminho da motocicleta, antes e depois do crime, a partir de câmeras de segurança. Os criminosos percorreram ruas próximas do local do homicídio, uma hora antes de efetuarem os disparos fatais. Após o crime, os suspeitos se desfizeram das roupas e tênis que utilizavam, em um matagal na Avenida Heitor de Oliveira Albuquerque, no bairro Cidade dos Funcionários.
O material abandonado pelos PMs foi recuperado pela Polícia Civil. Roupas e tênis foram enviados para a Perícia Forense.
Já a policial militar Rebeca Júlia de Almeida Canuto, companheira do soldado Wellington Xavier, “deu suporte à ação criminosa estando em um veículo Ônix prata. Nesse sentido foram obtidas imagens de câmeras de segurança que captaram imagens na madrugada do mesmo dia do crime, em que a motocicleta utilizada no homicídio já estava circulando em comboio com o Ônix prata de Rebeca”, segundo a denúncia do MPCE.

Encontro com secretário municipal
O empresário Vinícius Batista costumava frequentar a padaria localizada na Rua Jucá Fontenele, segundo o proprietário do empreendimento. No fatídico dia, a vítima encontrou, no local, um secretário municipal de uma Prefeitura do Interior do Ceará (que também é marido da prefeita) e outro empresário.
A reportagem opta por não citar o nome do secretário municipal e do empresário porque eles foram ouvidos no inquérito policial como testemunhas do crime.
O outro empresário atua na mesma área que Vinícius tinha negócios: iluminação pública. A reportagem apurou que eles já foram concorrentes, em uma licitação de uma prefeitura cearense. E a empresa de Vinícius já tinha prestado serviços à Prefeitura na qual o outro homem é secretário municipal.

O secretário municipal confirmou, em depoimento à Polícia Civil, que marcou a reunião com Vinícius Batista para discutir uma obra que a empresa dele iria executar, no município. Já o outro empresário sustentou, em depoimento, que encontrou a dupla por acaso, enquanto tomava café da manhã na padaria, e decidiu falar com eles.
A reunião entre Vinícius e o secretário municipal, antes do homicídio, causou repercussão na cidade do Interior. A prefeita foi às redes sociais, no dia 10 de maio último, para negar a informação de que “os suspeitos da execução do crime tenham prestado qualquer tipo de serviço durante a sua campanha eleitoral e que não mantém, nem jamais manteve, qualquer vínculo pessoal ou profissional com os referidos indivíduos”.
“A tentativa de vincular o nome da gestora municipal a fatos tão graves, sem qualquer base fática ou respaldo probatório, configura atitude temerária e fomenta a desinformação sobre o caso, quando o que se busca é a verdade”, completou a prefeita.
Pedido de novas investigações
Na denúncia, o Ministério Público do Ceará solicitou a produção de novas provas no inquérito policial, o que foi acatado pelo Poder Judiciário. Entre os objetivos do MPCE, estão descobrir o mandante e a motivação do assassinato do empresário Vinícius Cunha Batista.
Confira as provas solicitadas:
- Realização de exame de confrontação balística, pela Perícia Forense do Ceará (Pefoce), no prazo de 30 dias, das munições apreendidas no local do crime com as armas de fogo apreendidas com os réus;
- Laudo pericial das munições apreendidas no local do crime;
- Laudo pericial de um simulacro com carregador;
- Laudo pericial veicular do carro Chevrolet Onix apreendido com a soldada Rebeca Júlia;
- Laudo pericial de coleta de material papiloscópico e biológico colhido no mesmo carro;
- Laudo pericial de extração dos dados de um sistema de videomonitoramento;
- Solicitação ao DHPP para comparar as armas apreendidas com os réus e os projéteis retirados no corpo da vítima Maria Madalena Marques Matsunobu (já que os três PMs também são réus por esse crime);
- Relatório técnico de análise dos celulares e demais eletrônicos apreendidos na investigação;
- Relatório técnico de análise do celular da vítima;
- Documentação comprobatória da apreensão das roupas e tênis descartados pelos executores em um matagal e, caso ainda não tenha sido feito, a realização de perícia nos referidos objetos;
- A perícia da motocicleta utilizada no crime.
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