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Tarifaço de Trump trava exportação de mel no Ceará e eleva pressão sobre o agro

O mercado de mel no Brasil já sente os impactos da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros anunciada pelo presidente Donald Trump. Entre os apicultores cearenses, há um clima de incerteza, pois a semana do setor começou com a interrupção temporária do envio de 95 toneladas de mel orgânico armazenado em contêineres no Porto do Pecém e destinado à exportação para os Estados Unidos.

Embora as tarifas entrem em vigor apenas em 1º de agosto, já começaram a afetar setores do agronegócio

Escrito por
Mariana Lemosmariana.lemos@svm.com.br
15 de Julho de 2025 – 08:37

(Atualizado às 09:08)
Imagem de apicultor cearense. Ele veste EPI branco e manuseia tela com mel
Legenda: Ceará exportou 1,3 mil toneladas de mel natural aos Estados Unidos no primeiro semestre de 2025
Foto: Antônio Rodrigues/Agência Diário

mercado de mel no Brasil já sente os impactos da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros anunciada pelo presidente Donald Trump. Entre os apicultores cearenses, há um clima de incerteza, pois a semana do setor começou com a interrupção temporária do envio de 95 toneladas de mel orgânico armazenado em contêineres no Porto do Pecém e destinado à exportação para os Estados Unidos.

O segmento exporta boa parte da produção para os EUA. Só o Ceará enviou 1,3 mil toneladas de mel natural ao país no primeiro semestre de 2025, o equivalente a US$ 4,4 milhões, cerca de R$ 24 milhões, segundo dados do Comex Stat, plataforma do Ministério da Indústria, Comércio e Relações Exteriores.

 

A apicultura cearense é a quinta maior fonte de mel para os Estados Unidos entre os estados brasileiros.

 

O produtor Jeovam Cavalcante, representante do Ceará na Câmara Setorial do Ministério da Agricultura, destaca que 90% da produção cearense é voltada para exportação.

“Duas grandes empresas compram dos produtores rurais e exportam, uma empresa do Paraná e a cooperativa do Piauí [Casa Apis]. Eles compram cerca de 80% do mel cearense, beneficiam e exportam aos Estados Unidos”, afirma.

 

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Toneladas paradas e risco de mercadoria cearense não ser aceita nos EUA

Mesmo que só entre em vigor em agosto, compradores norte-americanos já estão recuando de negociações previstas. A Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis) teve em embarque de 95 toneladas de mel orgânico que estavam no Porto do Pecém temporariamente suspenso.

O envio inicialmente previsto para sexta-feira (11) foi autorizado na noite de domingo, após apelo da cooperativa aos compradores, afirmou Sitônio Dantas, presidente da Casa Apis, em entrevista à TV Globo.

Além disso, há outros quatro contêineres com mel que tiveram os trâmites de envio paralisados nesta segunda-feira (14), segundo Augusto Fernandes, CEO da JM Negócios Internacionais, empresa especializada em despacho aduaneiro e frete internacional.

 

São cerca de 100 toneladas de mel paradas em diferentes estágios do processo de envio internacional, com valor estimado em US$ 280 mil, afirma Augusto Fernandes.

 

Também há preocupação de que as mercadorias já em trânsito não sejam recebidas, pois o comprador pode não pagar o imposto de 50% sobre o produto.

 

“Tem cargas que vão chegar em 6 de agosto, 24 de agosto, por exemplo. A tarifação já vai estar em vigor e não tem garantia de que o americano vai liberar”, comenta.

 

Entre os principais portos que recebem mercadorias cearenses, estão os de Nova York, Houston, Filadelia e Long Island. O executivo ressalta que as incertezas do momento aumentam a complexidade do processo de despacho aduaneiro.

“A embarcação não é uma bicicleta, que você dá ré e para. O envio de armares envolve uma série de etapas e custos. O embarque não começa quando o navio chega, começa semanas antes”, afirma.

Próximos ciclos de mel sob ameaça

O produtor Jeovam Cavalcante acrescenta que, como a melhor safra de mel cearense se concentra no primeiro semestre, quase toda a produção já foi vendida aos revendedores. Mas há um receio em relação às futuras produções.

 

“Nós que estamos no início da cadeia não estamos impactados, são os grandes entrepostos que estão sofrendo com os cancelamentos. Nosso receio é que, para o próximo ciclo, precisamos deles. Se não houver os exportadores, quem vai comprar nosso mel?”, questiona.

 

O produtor afirma que o mercado interno não aceita pagar pelo valor agregado do mel cearense. Segundo o apicultor, a Europa também não é uma opção de venda em larga escala, devido às certificações exigidas.

“Grandes indústrias compravam muito mel, e passaram a usar um preparado de mel. Chegamos também a vender para a merenda escolar e essa era uma grande expectativa, mas isso foi descontinuado”, aponta.

A produção apicultora no Estado se concentra no Cariri, Sertão Central, Vale do Jaguaribe e Sertão dos Inhamuns.

Santana do Cariri, no sul do Ceará, foi a cidade que mais produziu mel de abelha no Brasil em 2023, com quase 1,2 milhão de quilos (kg) produzidos.

Tarifaço de Trump: quais são os outros impactos no Ceará

O mel está entre os vinte produtos mais exportados aos Estados Unidos pelo Ceará. A tarifa de entrada pode ser um baque ao comércio exterior cearense, já que o país recebe mais da metade do que é enviado ao exterior.

Caso não haja recuo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a nova tarifa deve entrar em vigor em 1º de agosto. O Brasil, que havia sido poupado nas primeiras tarifas anunciadas, teve a taxa mais alta entre as divulgadas na última terça-feira (9).

Entre os setores mais impactos, estão a siderurgia (produção e beneficiamento de ferro e aço), produção de frutas e o setor de calçados e couro.

O Ceará exportou R$ 3 bilhões aos EUA nos primeiros seis meses deste ano. Com a imposição de uma tarifa de 50% para que os produtos brasileiros entrem no território norte-americano, o envio da mercadoria deve diminuir.

Consequentemente, a produção local deve ser reduzida, com risco de impactos no mercado de trabalho.

Lula sanciona lei de reciprocidade; entenda o que pode mudar

Na noite desta segunda-feira (14), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a “Lei da Reciprocidade Econômica“, cujo objetivo é proteger o país e minimizar os impactos das tarifas anunciadas pelos Estados Unidos. As principais medidas são:

  • Restrição às importações de bens e serviços do país ou bloco econômico que adotar medidas unilaterais;
  • Suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual;
  • Suspensão de outras obrigações previstas em qualquer acordo comercial do qual o Brasil faça parte;
  • Suspensão de concessões ou de outras obrigações do País relativas a direitos de propriedade intelectual, que pode ser utilizada em caráter excepcional quando as demais contramedidas forem consideradas inadequadas para reverter ações unilaterais.

Estas contramedidas podem ser aplicadas em resposta a ações, políticas ou práticas que:

  • Interfiram nas escolhas legítimas e soberanas do Brasil, buscando impedir ou modificar atos ou práticas no país por meio da aplicação ou ameaça de medidas comerciais, financeiras ou de investimentos unilaterais;
  • Violem ou sejam inconsistentes com disposições de acordos comerciais, ou de alguma forma neguem, anulem ou prejudiquem benefícios ao Brasil sob qualquer acordo comercial;
  • Configurem medidas unilaterais baseadas em requisitos ambientais que sejam mais onerosos do que os parâmetros e padrões de proteção ambiental adotados pelo Brasil.

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Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

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