Mamíferos foram encontrados em Pacoti e Guaramiranga e se somam às 53 espécies já existentes no Estado

Pesquisadores do Museu de História Natural do Ceará (MHNCE) encontraram duas espécies de morcegos que nunca haviam sido registradas no Estado. Os mamíferos foram descobertos em Guaramiranga e Pacoti, na Serra de Baturité. Com esse achado inédito, a lista de espécies de morcegos no Ceará aumenta para 55.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, a bióloga Nádia Cavalcante explica que as espécies encontradas são denominadas Myotis ruber, da família Vespertilionidae, e Molossus pretiosus, da família Molossidae. Ambos são morcegos insetívoros, ou seja, se alimentam de insetos.
Foram utilizadas redes de neblina para realizar a captura dos morcegos. Feitas de náilon ou poliéster, elas se camuflam no habitat e ajudam na apreensão dos animais.
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“Nós colocamos essas redes em trilhas ou locais propícios por volta de quatro horas da tarde e ficava até meia-noite monitorando. A cada 15 minutos, nós fazíamos a vistoria, tirava os animais, colocava no saquinho de pano e depois ia fazer a triagem”, afirma.
As espécies encontradas costumam voar alto, o que dificulta a captura. Para Nádia, a descoberta foi uma ‘sorte’ e, provavelmente, os animais estavam saindo dos abrigos para se alimentarem.
O morcego-borboleta-avermelhado (Myotis ruber) foi capturado no Sítio Nova Olinda, em Guaramiranga. Nádia explica que ele tem uma coloração alaranjada, o que o diferencia do comum do Ceará que são morcegos cinzas ou pretos.
Os pesquisadores também descobriram que a Myotis ruber foi avaliada como Quase Ameaçada pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Essa classificação internacional considera que a espécie já enfrenta redução populacional e perda de habitat, correndo ‘risco significativo de desaparecer’.
O segundo morcego, da espécie Molossus pretiosus, foi avistado caído e morto no prédio do Museu, no campus experimental da Universidade Estadual do Ceará (Uece), em Pacoti. Ao contrário da Myotis ruber, possui baixo risco de extinção pela IUCN devido à capacidade de se adaptar às mudanças de habitats.
Ambas espécies costumam viver em ambientes úmidos e florestados, e estão geralmente ligadas a áreas com resquício da Mata Atlântica. A Serra de Baturité é um dos remanescentes de uma conexão passada entre o bioma de floresta tropical e o bioma Amazônia.

O estudo científico foi coordenado pelo pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e membro da direção da Plataforma Internacional para Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PICTIS), Dr. José Luiz Passos Cordeiro. A equipe ainda conta:
- Dra. Marcione Oliveira, bióloga especialista em morcegos do Museu Nacional;
- Dr. Aldo Caccavo, biólogo, pesquisador do Museu Nacional e, na época, curador da coleção de mamíferos do MHNCE;
- Dr. Giovanny Mazzarotto, médico veterinário da Fiocruz Ceará e do Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz);
- Dr. Hugo Fernandes Ferreira, professor da UECE e coordenador do laboratório de conversação de vertebrados terrestres.
CORONAVÍRUS E O PAPEL DO MORCEGO NO ECOSSISTEMA
A descoberta das novas espécies é resultado de uma longa série de pesquisas realizadas pela Fiocruz e estudiosos do Museu de História Natural do Ceará (MHNCE), iniciada em 2020. Na época, os pesquisadores investigavam a presença do vírus SARS-Cov-2, causador da Covid-19, em animais silvestres.
Os cientistas buscavam monitorar se o vírus que causou a pandemia também circula em animais como morcegos e roedores no Ceará. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a contaminação desses mamíferos e a transmissão para os seres humanos é considerada a “possível ou provável” origem de contágio da pandemia de Covid.
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Embora possam abrigar vetores, assim como outros animais, os morcegos desempenham papéis importantes nos ecossistemas e não devem ser caçados nem mortos. Por exemplo, as espécies encontradas pelos pesquisadores no Ceará consomem insetos pela noite, o que ajuda a controlar pragas agrícolas e vetores de doenças de forma natural, sem uso de veneno. Além disso, estimula o equilíbrio dos ecossistemas e a proteção da agricultura.
Por sua vez, os morcegos frugívoros — que consomem frutos de plantas — dispersam sementes que ajudam na reprodução e regeneração de florestas e áreas degradadas. Já os nectarívoros carregam pólen de flor em flor enquanto se alimentam de néctar, contribuindo para a polinização das plantas.
Assim, caso a população encontre algum morcego em casa, a bióloga Nádia orienta que não se deve tocar ou retirá-lo sem proteção. “A gente sempre pede que deixe o bicho seguro de alguma forma, com uma caixa ou depósito em cima, e que a população entre em contato com pessoas especializadas que possam resgatar”, explica.
Em Fortaleza, a população pode acionar a Unidade de Vigilância de Zoonoses – UVZ pelo número (85) 98938-7677.
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