Segundo carta endereçada ao Governo e à organização do evento, as principais reclamações recaem sobre os preços dos hotéis e as dificuldades logísticas

A 100 dias do início da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, também conhecida como Conferência das Partes (COP), uma carta assinada por um grupo de negociadores de 25 países pede que o evento aconteça em outro lugar.
Segundo informações do jornal Folha de São Paulo, que teve acesso ao documento, os signatários demandam condições mínimas de acomodações e reclamam dos altos preços de hotéis. A COP30 está marcada para acontecer em Belém, no Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro.
“[Ter condições de participar] significa ser possível viajar para Belém, ficar em acomodações adequadas e acessíveis, e ir ao pavilhão e voltar de forma segura e eficiente em termos de tempo, inclusive tarde da noite”, diz a carta, endereçada tanto para a organização do evento quanto para a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) – o braço da ONU sobre clima.

A carta reconhece o trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de manter a conferência em Belém, mas demonstra preocupação com a logística. Também há críticas quanto à opção de que pessoas tenham que dividir quartos para economizar custos. “Se essas condições não forem atendidas para todos que precisam estar em nossas negociações multilaterais, não teremos chance de chegar a um resultado de sucesso”, complementa o texto.
Procurados pelo jornal, os responsáveis pela COP30 afirmam que receberam a carta, mas que não negociarão os termos. “Não há a possibilidade da COP30 ou parte da Conferência acontecer fora de Belém”, disse o órgão.
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Preocupação
Nesta semana, representantes de diversos países – incluindo os mais ricos – manifestaram preocupação quanto à realização da COP30 na capital paranaense.
O presidente da conferência, André Corrêa do Lago, afirmou, nessa quinta-feira (31), existir um sentimento de “revolta, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento, que estão dizendo que não poderão vir à COP devido aos preços extorsivos que estão sendo cobrados”, afirmou, durante um encontro realizado pela Associação de Correspondentes Estrangeiros (AIE) em parceria com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).
Segundo o presidente, há exemplos de hotéis que aumentaram a valor da diária em 15 vezes. Isso causou um mal-estar em países como Áustria, Bélgica, Canadá, República Checa, Finlândia, Holanda, Noruega, Suécia e Suíça, que estão entre as nações que assinaram a carta solicitando a mudança da cidade sede.

Ainda conforme o documento, há um pedido para que as delegações de países menos desenvolvidos tenha condições de se acomodarem por diárias de até US$ 164 (R$ 918) e nas imediações de onde acontecerão as atividades da COP30.
Para efeito de comparação, hotéis bem localizados em Nova York, uma das cidades mais visitadas e populosas dos Estados Unidos, oferecem diárias entre R$ 250 e R$ 500 por noite para os dias da COP30. Já em Belém, há exemplos de acomodações por R$ 1 milhão para apenas 11 noites. Uma casa simples no bairro nobre de Batista Campos cobra R$ 1,21 milhão para o mesmo período, segundo o g1.
Visando reduzir os custos com hospedagem, alguns países estão diminuindo o tamanho das delegações – como já pedido pelo Brasil -, mas afirmam que também há um limite. O vice-ministro do Clima da Polônia, Krzysztof Bolesta, disse à agência Reuters, no início deste mês: “Não temos acomodações. Provavelmente teremos que reduzir a delegação ao mínimo”.
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Entre as várias alternativas apresentadas pelo governo brasileiro, está o anúncio de dois navios de cruzeiro para fornecer 6 mil camas extras para os delegados, assim como a abertura de reservas para países em desenvolvimento desfrutarem de acomodações com diárias de até US$ 200.
No entanto, conforme informado pelo g1, o valor continua acima do “auxílio” ofertado pela ONU a países mais pobres para que eles participem da conferência, cerca de US$ 149.
Em abril, o Governo anunciou um acordo que buscava regular os preços. O documento, porém, segue sem assinaturas por conta de discordâncias entre os organizadores, o poder público e representantes do setor hoteleiro.
Na época do anúncio, o Governo afirmou que o objetivo era garantir um “ambiente de preços razoáveis”, atendendo às exigências da ONU para a realização da conferência.
Em resposta ao portal da TV Globo, o Governo confirmou que o documento ainda não foi assinado e negou acesso às minutas do conteúdo, justificando o risco de “frustrar expectativas” ou “gerar polêmicas desnecessárias”.
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