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Tarifaço sobre calçados impacta 14 municípios do Ceará; veja lista

Pelo menos 14 municípios do Ceará terão suas indústrias de couro e calçados impactadas pela tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump. A medida, assinada no último dia 30 (dois dias antes da primeira data divulgada para sua entrada em vigor), deve começar a valer no próximo dia 7 e possui cerca de 700 itens em exceção.

Três cidades concentram cerca de 70% do faturamento em dólar nas exportações para os EUA

Escrito por
Paloma Vargaspaloma.vargas@svm.com.br
02 de Agosto de 2025 – 07:00

Mulher em fábrica de sola de sapato
Legenda: Setor de calçados e couro no Ceará é o quarto colocado na lista de impactos com o tarifação de Donald Trump
Foto: Fabiane de Paula

Pelo menos 14 municípios do Ceará terão suas indústrias de couro e calçados impactadas pela tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump. A medida, assinada no último dia 30 (dois dias antes da primeira data divulgada para sua entrada em vigor), deve começar a valer no próximo dia 7 e possui cerca de 700 itens em exceção.

Porém, os calçados, bolsas e outros artigos em couro e em outros materiais não escaparam da taxação. Assim, o setor, que é o quarto maior do Ceará em exportação para os EUA, deve ser duramente impactado.

Os três municípios que figuram no topo da lista são MaracanaúQuixeramobim e SobralSomados, eles representam quase 70% do valor total do ano passado.

De acordo com dados do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), em 2024 foram enviados para os EUA, em valor, cerca de US$ 52,6 milhões.

 

 

Quais empresas podem ser impactadas

De acordo com a base de dados da Fiec, todo o couro exportado pelo Ceará para os Estados Unidos tem origem em Maracanaú (veja tabelas abaixo). Em consulta realizada pela reportagem do Diário do Nordeste, foi localizada no município a empresa Bermas Maracanaú Indústria e Comércio de Couro, especializada no beneficiamento do material.

A reportagem não conseguiu contato com a empresa para tratar dos impactos. O espaço permanece aberto para manifestações. O segundo município da lista é Quixeramobim, localizado no Sertão Central.

Lá, é destaque no setor calçadista o grupo gaúcho Aniger Calçados, dono da marca Petite Jolie e fabricante de marcas internacionais como Nike, Adidas e Asics. A empresa também possui unidades fabris em Caridade e Tauá, no Ceará, além da fábrica em Campo Bom, no Rio Grande do Sul.

Procurado por meio do seu setor de marketing, o Grupo Aniger confirmou que exporta para os EUA, mas não se manifestou sobre o impacto da taxação de Trump em sua produção até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para manifestações.

 

 

Em Sobral, Grendene é a mais atingida

Já em Sobral, terceiro município no ranking em valor exportador no setor de calçados, o destaque fica com a Grendene, proprietária de marcas como Melissa, Rider e Ipanema. A empresa gaúcha está em período de silêncio, conforme as regras de mercado, e, por isso, não tem se manifestado sobre a nova tarifa de 50%.

Porém, no mês passado, em entrevista ao portal Zero Hora, comentando o que então era uma ameaça do presidente norte-americano, o diretor de Relações com Investidores da empresa, Alceu Albuquerque, afirmou que o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros inviabiliza a venda.

Na mesma entrevista, foi mencionado que a Grendene tem 9% da receita de exportações originada de embarques para os Estados Unidos. Albuquerque ainda afirmou que, embora os EUA sejam o maior mercado consumidor de calçados do mundo, não são muito relevantes para a Grendene.

Ele citou como valor exportado nos últimos anos para o país norte-americano cerca de US$ 10 milhões, valor muito próximo ao mostrado no Observatório da Indústria do Ceará, relacionado ao município de Sobral. “Para nós, países da América Latina, como Colômbia e Argentina, são mais relevantes que os EUA”, reforçou na época, em entrevista ao portal gaúcho.

Sindicatos não possuem registro de demissões ou férias coletivas

O Sindicato dos Sapateiros de Sobral e o Sindicato dos Sapateiros do Ceará afirmaram que estão aguardando as empresas avaliarem os impactos dessa nova taxação sobre os produtos exportados para os Estados Unidos. As duas entidades também garantem que, neste momento, não há nenhuma tratativa sobre férias coletivas ou demissões no setor.

O presidente do Sindicato Calçadista de Sobral, Bartolomeu Monteiro de Moura, ressaltou que, na cidade, o setor calçadista tinha vagas de emprego abertas em julho e reforçou que não há movimentação de crise, mas que observa com atenção os desdobramentos da situação.

Ao todo, o setor calçadista da cidade emprega cerca de 13 mil trabalhadores diretamente e aproximadamente 40 mil indiretamente. Esses trabalhadores estão distribuídos principalmente entre as empresas Grendene e Democrata (esta última, procurada, afirmou não exportar para os Estados Unidos).

Como o setor pode se preparar para driblar o tarifaço

Para a professora de Comércio Exterior da Universidade de Fortaleza (Unifor), Larissa Amaral, a sazonalidade da produção de calçados deixa o setor mais resiliente e preparado para mitigar impactos.

Ela aponta que a organização para novos mercados pode ser uma boa opção para os calçados, mas pondera que isso requer tempo para ser implementado. “Não se consegue isso de um dia para o outro, nem em cinco, 10 dias, porque o que está sendo produzido e a próxima produção já são produtos negociados, já estão acordados e já tinham um preço definido”, observa.

A especialista ainda lembra que tudo o que estiver em trânsito até outubro ainda estará sujeito à taxa anterior, que era de 10%. “Por isso, não acredito que haverá redução de produção agora. Mas, claro, o empresariado já está analisando seus custos, negociando novos preços e, se for preciso cortar custos na produção para se adequar, isso pode significar, por exemplo, a adoção de férias coletivas. Empresas do Sul e Sudeste já estão discutindo essa possibilidade, mas aqui no Ceará ainda não ouvi nada a respeito”, comenta.

Histórico da relação de mercado entre os países

Conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), os Estados Unidos são, historicamente, o principal destino internacional do calçado brasileiro, correspondendo a mais de 20% do valor total gerado pelas exportações do setor.

Apesar do cenário internacional adverso, a Abicalçados informa que o setor vem, ao longo do ano, recuperando as exportações de calçados para os Estados Unidos.

Segundo a entidade, no primeiro semestre de 2025, o Brasil exportou US$ 111,8 milhões, equivalente a 5,8 milhões de pares de calçados para aquele país, registrando crescimentos de 7,2% e 13,5%, respectivamente, em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Neste sentido, a Abicalçados acredita que a sobretaxa de 50% deve interromper essa recuperação, inviabilizando as projeções de crescimento de mais de 4% nos embarques em 2025. A entidade não comentou a situação por estados.

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Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

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