Conjunto de rodovias que leva ao principal porto do Estado está longe da condição ideal

Chegar ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) pode ser uma dor de cabeça para os motoristas. O acesso pelas quatro rodovias principais, seja de moto, carro ou caminhão, exige que eles driblem buracos no asfalto, desviem de obstáculos, enfrentem a falta de acessos adequados e lidem com a vegetação que cobre a sinalização.
A reportagem percorreu as vias e constatou que a BR-222 está esburacada, enquanto as CEs 085 e 155 têm mato sobre as sinalizações e falta de alças de acesso. Também foi verificado que as obras de duplicação da BR-222 e do 4º Anel Viário estão atrasadas.
As rodovias de acesso ao Porto do Pecém são cruciais para a economia porque impactam diretamente os custos logísticos em um dos principais centros de distribuição do Estado. Segundo especialista, a falta de conclusão das obras pode aumentar essas despesas em até 30%.
Além disso, ir de trem para escoar mercadorias até o Cipp, por enquanto, está fora de cogitação. O trecho ferroviário entre o complexo e a Ferrovia Fortaleza-São Luís, operado pela Ferrovia Transnordestina Logística (FTL), está suspenso para a construção do lote 11 da Transnordestina e deverá ser reativado somente em 2026.
Abaixo, veja quais são essas vias e sua importância.
- BR-222: entroncamento com o 4º Anel Viário e BR-020 até o início da CE-156;
- Rodovia 4º Anel Viário: corredor logístico que interliga a BR-116 e as CEs 010, 025, 040, 060 e 065 até a BR-222, que distribui o tráfego para o complexo;
- CE-085: conhecida como Via Estruturante, recebe o fluxo alternativo do 4º Anel Viário e da BR-222 para o porto;
- CE-155: rodovia que começa na BR-222 e abrange todo o complexo, terminando nos portões de acesso ao porto.
As CEs 156 e 348 também levam ao Cipp. A primeira começa no distrito de Lagoa do Juvenal (Maranguape) e vai até a Taíba (São Gonçalo do Amarante).
Já a segunda rodovia inicia na localidade das Caraúbas (Caucaia), passa por Pecém e Taíba e acaba no Siupé (Paracuru). O tráfego rodoviário das duas estradas para o complexo, porém, é menor.
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BR-222 se arrasta em duplicação há anos
A rodovia que interliga Fortaleza a Marabá, no interior paraense, é uma das que têm obras tão arrastadas quanto a do próprio 4º Anel Viário. Desde bem antes da pandemia, a duplicação de 24 km, entre o entroncamento com a BR-020 e a entrada da CE-155, vem se desenrolando.
Boa parte desse pequeno trecho está, enfim, duplicada, mas isso não significa que opere plenamente em duas pistas. Uma porção significativa da estrada, entre os quilômetros 11 e 35, ainda funciona em mão dupla devido às obras.
Como consequência, há desvios e uma rodovia que exige do motorista redobrar a atenção para percorrê-la. Enquanto uma parte conta com nova pavimentação, a outra ainda aguarda as obras.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou, em fevereiro, que estava realizando a colocação de infraestrutura no sentido Fortaleza-Sobral.
A previsão, naquela época, era de que a duplicação dos 24 km fosse concluída no segundo semestre deste ano, com orçamento de cerca de R$ 270 milhões.
Promessa de duplicação de rodovias federais nas proximidades do acesso ao Pecém
Após o entroncamento com a CE-155, no distrito da Catuana, a BR-222 volta a ser em pista simples, com uma pista que apresenta infraestrutura ainda deficitária.
A BR-020, que interliga Fortaleza a Brasília, deixa de ser sobreposta à BR-222 na altura do 4º Anel Viário. Praticamente ao mesmo tempo, a rodovia segue em pista simples rumo ao interior do Ceará e com qualidade asfáltica e sinalização abaixo do ideal.
Vale lembrar que a previsão é de duplicar toda a BR-222 até Sobral, na região Norte do Estado. Já os planos para a BR-020 são de duplicá-la entre o entroncamento com o 4º Anel Viário até Caridade, no Sertão de Canindé.
4º Anel Viário há 15 anos tenta ser concluído
Alvo de reclamações há vários anos, a duplicação do 4º Anel Viário de Fortaleza está quase finalizada. O projeto não engloba o viaduto que passa sobre a BR-116, um dos principais pontos de engarrafamento da via.
De fato, a rodovia está duplicada nos demais trechos, mas não está concluída.
Faltam acessos viários, recapeamento em diversos pontos, acostamento e demais obras de infraestrutura, que continuam causando transtornos nos motoristas.
É por ela onde passam os caminhões mercadorias que interligam os dois principais portos do Ceará, Pecém e Mucuripe, em trajeto que, completo, totaliza aproximadamente 115 km.
A promessa é de que o investimento de R$ 97 milhões seja suficiente para concluir, até o fim deste ano, as obras do 4º Anel Viário.

Heitor Studart, coordenador do Núcleo de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), aponta que a falta de conclusão das obras da estrada “encarece o preço do frete em pelo menos 30%“.
“Encarece o transporte diário de cargas. É um engarrafamento infernal: 20 anos para fazer essa obra, que ainda não terminou nem duplicou o viaduto da BR-116”, destaca.
CEs 085 e 155 sem conexão formal
A Via Estruturante é uma alternativa para o tráfego intenso da BR-222, além de ser uma conexão com as praias do Litoral Oeste e com o Cipp. Ela está duplicada no trecho entre a Caucaia e Trairi, o que inclui a conexão com o Pecém.
Já a CE-155 tem cerca de 20 km e está completamente duplicada. Embora no início, próximo da BR-222, ela esteja com o asfalto pendente de reparos, em sua maioria, a estrada chega ao Cipp com qualidade.
O desafio aqui é a conexão rodoviária para a via. Das principais vias de tráfego, somente a BR-222, no início da estrada, é quem se conecta à CE-155. Tanto a CE-085 quanto a CE-348 não têm alças para chegarem à rodovia.
O único acesso existente é precário e informal. Ele inicia na pista da CE-085 no sentido Fortaleza-Camocim, passa por um caminho de terra e acessa à CE-155 rumo ao porto. Esse percurso pode ser feito margeando a Via Estruturante ou passando por dentro de uma propriedade privada, ambos com infraestrutura muito aquém do ideal.

Um dos pontos lançados no programa Pacto Pelo Pecém, do Governo do Ceará, previa ações de curto prazo, incluindo a liberação de R$ 3,9 milhões para a construção de alças de acesso entre a CEs 085 e 155. As obras, no entanto, sequer foram iniciadas.
Todo o acesso para a CE-155 é criticado por Heitor Studart. Além da falta das alças de acesso para a CE-085, a existência de uma rotatória que conecta a rodovia estadual com a BR-222 limita a movimentação de cargas pesadas, principalmente no contexto de crescimento do Pecém com a chegada da Transnordestina e o hub de hidrogênio verde.
As pás eólicas, para ter acesso à BR-222, tem de paralisar o trânsito, só liberam de noite, tem de desmontar a guard rail (guarda-corpo metálico). Isso arrisca cancelar pedidos para entregar pás em função da precariedade do transporte. Temos de refazer os projetos geométricos de alças de entroncamento em direção ao Porto do Pecém para atender a demanda de cargas especiais, como pás eólicas e grandes geradores, principalmente com a chegada do hub do hidrogênio verde”.
O que dizem a SOP e o DNIT?
Para entender o que está sendo feito para melhorar a infraestrutura das rodovias que levam até ao Cipp, a reportagem entrou em contato com a Superintendência de Obras Públicas do Estado do Ceará (SOP) e com o DNIT.
Em relação às alças de acesso entre as CEs 085 e 155, a SOP limitou-se a dizer que “existe um projeto básico”, mas “ainda não há prazo para o início dos trabalhos”. Até o momento, nenhum valor dos R$ 3,9 milhões anunciados pelo Governo do Estado em julho de 2024 foi aplicado.
A CE-085 tem um limite de peso de veículos, que vai permanecer, conforme a superintendência. Automóveis de no máximo seis toneladas são os autorizados a trafegarem na maior parte da extensão da rodovia, que começa na Caucaia e vai até o município de Chaval, na divisa com o Piauí.

Um dos pontos críticos para o acesso à CE-155 é a rotatória no início da via, no entroncamento com a BR-222. A SOP afirma que o equipamento “será mantido, não havendo nenhuma obra complementar no referido local”.
Até o fechamento deste material, o DNIT não havia retornado aos questionamentos com as informações adicionais solicitadas.
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