A presença de sangue na urina (hematúria) sem dor é o principal sintoma. Muitas vezes, o sangramento só é perceptível ao microscópio, tornando tão cruciais os exames de rotina

Embora pouco comentado no meio não médico, o câncer de bexiga é um problema de saúde pública que merece atenção. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimou mais de 11 mil novos casos da doença por ano, de 2023 a 2025.
Como urologista, destaco o papel do tabagismo no desenvolvimento deste câncer. Poucos sabem, mas aproximadamente metade dos casos de tumores de bexiga têm relação direta com o cigarro. Muitas substâncias tóxicas do cigarro são filtradas pelos rins e excretadas pela urina, ficando em contato direto com o revestimento interno da bexiga, desencadeando mutações celulares. O cigarro também é fator de risco para várias outras doenças oncológicas, como os cânceres de pulmão, de rim, de esôfago, dentre outros.
Outro fator de risco é a exposição ocupacional a derivados de petróleo, tintas e solventes industriais, o que explica, em parte, a maior incidência do câncer de bexiga entre os homens (manipulam mais estes químicos). Soma-se a isso a influência da idade, infecções urinárias crônicas e histórico familiar, compondo um cenário de risco que não pode ser ignorado.
A presença de sangue na urina (hematúria) sem dor é o principal sintoma. Muitas vezes, o sangramento só é perceptível ao microscópio, tornando tão cruciais os exames de rotina. Urgência urinária, dor ou ardência ao urinar e maior frequência miccional, além de perda de peso, também devem ser valorizados, sobretudo em pessoas com fatores de risco.
A boa notícia é que o câncer de bexiga tem tratamento, e quanto mais cedo a doença é identificada, maiores são as chances de cura. O tratamento é bem variável a depender de aspectos clínicos do paciente, aspectos patológicos e estágio da doença. Esse tratamento pode abranger ressecções endoscópicas do tumor, instilação intravesical de BCG, retirada de toda a bexiga (de forma convencional, laparoscópica ou robótica), além de radioterapia e tratamento sistêmico, em alguns casos.
Mais do que tratar, nosso papel enquanto médicos é também conscientizar e prevenir. E nesse ponto, o combate ao tabagismo continua sendo a nossa maior estratégia. Além disso, promover ambientes de trabalho seguros, hábitos de vida saudáveis e estimular o acompanhamento urológico regular são medidas fundamentais.
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