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Bebês prematuros internados que dormem de rede têm mais chances de ganhar peso, diz pesquisa da UFC

O uso de redes de dormir em unidades de saúde neonatal já é uma técnica comum no Ceará e em outros locais do Nordeste para ajudar o recém-nascido a relaxar. Mas um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) mostrou que o benefício da chamada redeterapia vai além, com impacto positivo para o ganho de peso, principal marcador de crescimento e desenvolvimento.

O uso da rede e da hidroterapia deve ser restrito ao ambiente hospitalar e não devem ser executados em casa, uma vez que há risco de quedas e asfixias

Escrito por
Gabriela Custódiogabriela.custodio@svm.com.br
13 de Agosto de 2025 – 10:03

(Atualizado às 10:15)
Bebê em rede, dentro de unidade neonatal
Legenda: Os pesquisadores acompanharam 60 bebês prematuros internados no Hospital Santa Casa de Misericórdia, em Sobral
Foto: Reprodução

O uso de redes de dormir em unidades de saúde neonatal já é uma técnica comum no Ceará e em outros locais do Nordeste para ajudar o recém-nascido a relaxar. Mas um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) mostrou que o benefício da chamada redeterapia vai além, com impacto positivo para o ganho de peso, principal marcador de crescimento e desenvolvimento.

Durante os dias ou meses em que está hospitalizado, o bebê prematuro passa por manipulações — como troca de fralda, banho, pesagem e coleta de exames — que são necessárias, mas podem causar dor e desconforto. Isso provoca estresse e o faz gastar energia, prejudicando o tempo e a qualidade do sono, fatores importantes para o crescimento.

É nesse contexto que técnicas não farmacológicas como o uso de rede de dormir e a hidroterapia (imersão em água aquecida) são utilizadas para gerar relaxamento. Apesar de já executarem essas estratégias com alguns bebês, pesquisadores do Curso de Medicina de Sobral decidiram investigar o impacto delas para o aumento do peso desses pacientes.

Mas um alerta dos pesquisadores é que essas técnicas devem ser usadas apenas no ambiente hospitalar, portanto não devem ser usadas em casa por apresentarem riscos se não forem acompanhadas por profissionais de saúde.

 

Profissional de saúde, usando luvas, segura um bebê recém-nascido, que está em um balde transparente com água, usando a técnica de hidroterapia. O bebê está de costas e apenas a parte superior do seu corpo está visível acima da água.
Legenda: A tese da equipe é de que o uso da rede, isoladamente ou associada à hidroterapia, ajuda a simular as características tranquilas do ambiente intrauterino
Foto: Divulgação/UFC

 

A tese da equipe é de que o uso da rede, isoladamente ou associada à hidroterapia, ajuda a simular as características tranquilas do ambiente intrauterino. Com formato côncavo, ela reproduz parcialmente o posicionamento do bebê dentro do útero materno, onde o bebê se sente confortável.

“Durante essas aplicações no ambiente de trabalho, observamos que as crianças que realizavam essas técnicas dormiam mais e com o sono mais profundo. Com isso, relaxavam mais, perdiam menos energia porque choravam menos e passavam a maior parte do tempo dormindo”, explica Jeferson de Sousa Justino, um dos autores do estudo publicado em julho no periódico Jornal de Pediatria, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

 

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Os pesquisadores acompanharam 60 bebês prematuros internados no Hospital Santa Casa de Misericórdia, em Sobral, entre julho de 2022 e outubro de 2023. Os pequenos foram divididos em quatro grupos de 15 para a aplicação de diferentes tipos de procedimentos, da seguinte forma:

  • Uso do posicionamento em rede de dormir
  • Aplicação de hidroterapia
  • Uso da rede combinado com hidroterapia
  • Grupo de controle: recém-nascidos que receberam cuidados sem terapias complementares

Para o grupo de prematuros submetidos ao posicionamento de rede, o procedimento foi realizado uma vez ao dia em cada bebê por duas horas, durante 15 dias, com rede em tecido de algodão, para prevenir possíveis hipotermias.

Já a hidroterapia foi feita com os bebês envoltos em uma toalha de algodão e posicionados de forma que ficassem sentados no recipiente com água aquecida a 37ºC, por 15 minutos, com a cabeça para fora da água.

Resultados

Quando o bebê nasce antes das 37 semanas de gestação, todo o processo que ele estava vivendo, com alimentação por meio do cordão umbilical, é “quebrado abruptamente antes do tempo” e ele tem dificuldade para se adaptar ao novo ambiente, explica Justino.

“Muitas crianças não conseguem se desenvolver porque não conseguem ganhar peso. Eles têm essa dificuldade, muitas vezes, porque o sistema gastrointestinal ainda está em formação, ainda precisa de um tempo maior para que se desenvolva, para que consiga absorver nutrientes da alimentação”, explica o pesquisador.

Existem técnicas para que esses bebês prematuros ganhem peso, como o fornecimento de alimentação por meio de sonda com alimentos hidrolisados — mais fáceis de serem absorvidos — e a alimentação parenteral, via corrente sanguínea.

 

Mas a pesquisa da UFC mostrou que as técnicas não farmacológicas estudadas — seguras, simples e baratas — também auxiliam no desenvolvimento do recém-nascido.

 

O grupo que recebeu hidroterapia, por exemplo, obteve ganho de peso em relação ao grupo de controle, mas sem significância estatística. Já aqueles bebês que receberam as técnicas combinadas — passaram pela hidroterapia e foram colocados em redes — apresentaram aumento de peso mais considerável. A rede, sozinha, já é capaz de ajudar a aumentar o peso de bebês prematuros. Aliada à hidroterapia, o potencial dela é ampliado.

Jeferson de Sousa Justino, que estudou a aplicação dessas técnicas no mestrado em Ciências da Saúde pela UFC, explica que elas têm que ser executadas durante o período de descanso do bebê, entre os momentos em que a equipe da unidade de saúde realiza as manipulações diárias.

 

bebê em rede no hospital
Legenda: A tese da equipe é de que o uso da rede, isoladamente ou associada à hidroterapia, ajuda a simular as características tranquilas do ambiente intrauterino
Foto: Reprodução

 

“Ele ficou duas horas sem ninguém pegar nele, sem ninguém interferir no descanso, para que nossa terapia realmente tivesse algum significado. Ele ia ficar na rede para descansar, para dormir, sem que ninguém o incomodasse”, explica.

Já o tempo da hidroterapia foi definido pelo período necessário para induzir o sono. “Nós já tínhamos observado que, em média de 5 a 10 minutos a criança já adormece na água, e deixamos 15 minutos para que esse relaxamento fosse potencializado”, complementa.

Contraindicações

O uso da rede e da hidroterapia deve ser restrito ao ambiente hospitalar e não devem ser executados em casa, uma vez que há risco de quedas e asfixias caso os protocolos de monitorização e de segurança não sejam seguidos.

Mesmo no hospital, não são todos os recém-nascidos que podem ser submetidos a essas estratégias, explica Jeferson. Isso porque, muitas vezes, esses bebês estão tratando infecções ou fazendo uso de dispositivos invasivos, como ventilação mecânica e nesse momento elas não são indicadas.

“À medida que elas forem evoluindo, forem desenvolvendo a parte alimentar, a parte respiratória, conseguindo ficar fora da ventilação mecânica, fora de oxigênio, não precisando mais de uso de cateteres, aí sim chegou a hora de essas terapias ajudarem essas crianças a se desenvolver”, complementa o pesquisador.

O que causa o parto prematuro?

Um bebê é considerado prematuro quando ele nasce antes de a gravidez completar 37 semanas. Entre 2015 e 2024, isso ocorreu com mais de 151,2 mil bebês que nasceram no Ceará, representando 12,4% dos mais de 1,2 milhões de nascimentos, segundo dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde.

Nesse mesmo período, 103,5 mil bebês que nasceram no Ceará pesavam menos de 2,5 kg, enquadrando-se no que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera como “baixo peso ao nascer”. Comparado ao total de nascimentos, essa quantidade representa 8,4%.

Mas, muitas vezes, essas duas condições estão associadas. Na década analisada, 42% dos recém-nascidos prematuros do Ceará também tinham baixo peso, um total de 63,6 mil casos.

 

 

 

As causas para um parto prematuro são multifatoriais e envolvem desde condições de saúde da mãe até fatores sociais. Má nutrição, uso de álcool e outras drogas e até a condição socioeconômica da mulher também podem impactar para o nascimento antes do  também chamado parto pré-termo.

“Um exemplo são as doenças crônicas. Mães com hipertensão ou diabetes estão mais suscetíveis a desenvolver um parto prematuro. A presença de infecções do aparelho urinário, do aparelho ginecológico, infecções do líquido amniótico, também são uma das principais causas para o nascimento prematuro”, explica Jeferson.

Dessa forma, para além de atitudes particulares, esses problemas sofrem influência dos determinantes sociais em saúde (DSS) — conceito que diz respeito às condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem e o impacto deles na saúde.

“Mães que estão ou estiveram em vulnerabilidades socioeconômicas, em vulnerabilidade alimentar, que não tiveram educação em saúde pré-gestação ou durante a gestação, estão são mais suscetíveis a terem crianças prematuras e com baixo peso”, exemplifica o pesquisador.

Com tantas variáveis relacionadas ao baixo peso e à prematuridade, Jeferson de Sousa Justino destaca a importância do pré-natal correto para diminuir os riscos relacionados a esses problemas. “Então, (é necessário) fazer o pré-natal de maneira regular, com acompanhamento correto, e (cuidar do) estilo de vida. Se alimente bem, beba muito líquido, se exercite de forma leve nesse período, nada de excessos”, finaliza.

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Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

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