O edital lista outros itens que agora poderão ser vendidos segundo regras do documento

A Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) retirou do edital da COP30 a proibição da venda de pratos tradicionais do Pará, como açaí, tucupi e maniçoba. O veto havia sido incluído por motivos de risco sanitário, mas foi revertido nesse sábado (16), em errata, após críticas e manifestações de autoridades locais.
A entidade é responsável pela licitação que regulamenta a operação de restaurantes e quiosques na conferência climática da ONU marcada para novembro, em Belém. O edital anterior vetava a comercialização de açaí e tucupi de qualquer forma, sem processos de pasteurização, além da maniçoba.
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O contrato da OEI foi firmado junto ao Governo Federal para intermediar a contratação de empresas responsáveis pela montagem da COP30. A organização não se manifestou sobre a polêmica até o momento. As informações são da Folha de S. Paulo.
Entenda o edital
As regras iniciais do edital também vetavam a venda de outros alimentos. Entre eles, sucos de frutas in natura – autorizadas apenas polpas processadas –, ostras cruas, carnes malpassadas, maionese caseira, leite cru e doces preparados com ovos ou creme sem refrigeração.
Os bombons de cupuaçu estavam incluídos no rol de restrições, ainda, sendo liberados somente se refrigerados. A justificativa da OEI era a necessidade de reduzir riscos de contaminação alimentar.
Além disso, o edital trazia uma tabela que listava os produtos vetados e os respectivos riscos. Os perigos apontados iam de parasitas e bactérias a toxinas naturais, dependendo do ingrediente.
Na primeira versão do documento, a proibição sobre o açaí e o tucupi era ainda mais ampla, atingindo todas as formas de preparo. Uma atualização publicada na sexta-feira (15) restringiu o veto apenas às versões in natura.
Com a restrição, turistas e delegações internacionais só poderiam experimentar pratos como o tradicional peixe frito com açaí e farinha fora do espaço oficial da conferência, caso o veto fosse mantido.
No caso do açaí, a justificativa era o risco de transmissão do Trypanosoma cruzi, parasita causador da doença de Chagas, caso o fruto não passasse por pasteurização.
Já no caso do tucupi e da maniçoba, a entidade alegava a possibilidade de presença de toxinas naturais se o processo de preparo não fosse realizado de maneira correta.
O tucupi, derivado da mandioca brava, é tradicionalmente fermentado para eliminação das toxinas antes de ser utilizado em pratos como o tacacá. Especialistas e consumidores ressaltam que a versão in natura sequer é consumida pela população local.
A OEI foi questionada pela Folha se a proibição se aplicava apenas ao caldo cru ou também ao tucupi fermentado, mas não respondeu.
A maniçoba, outro prato tradicional paraense, é preparada com folhas de mandioca brava trituradas e longamente cozidas, acompanhadas de carnes salgadas e defumadas. No edital, no entanto, todas as versões estavam vetadas.
Além das restrições, o documento trazia orientações para que até 30% do cardápio fosse composto por alimentos locais ou sazonais, valorizando a produção regional.
Também foi exigido que os restaurantes oferecessem opções adaptadas a diferentes restrições e preferências alimentares, incluindo versões veganas, vegetarianas, halal, kosher, sem glúten, sem lactose e sem açúcar.
Outro ponto estabelecido pelo edital foi a necessidade de identificar ingredientes potencialmente alergênicos nos pratos servidos.
A OEI também determinou que os operadores incentivem a redução gradual do consumo de produtos de origem animal, alinhando o cardápio da conferência às diretrizes de sustentabilidade ambiental.
Repercussão negativa
O veto havia causado críticas, especialmente entre representantes locais, que viram na medida uma desvalorização da culinária paraense.
O ministro do Turismo, Celso Sabino, natural do Pará, se pronunciou sobre o tema no sábado, por meio das redes sociais. Ele classificou a proibição como um “grave erro” e garantiu que o documento passaria por correções.
“Vai ter tacacá, vai ter açaí e vai ter maniçoba, sim, na COP da floresta”, declarou Sabino, em vídeo publicado no Instagram.
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