A adultização de crianças começa pela roupa. É mais do que “brincar de se vestir” e usar alguma maquiagem, mas normalizar estéticas que tiram da criança a sua espontaneidade.

Basta entrar em qualquer loja infantil para perceber: a moda para crianças tem se aproximado perigosamente de um guarda-roupa mais adulto. Shorts minúsculos, blusas justas, saltos, maquiagens completas, e tudo isso embalado como “fofo”. Mas por trás dessa estética aparentemente inofensiva, esconde-se um fenômeno grave: a adultização da infância.
Essa pressão por parecer adulto não é nova. Desde a década de 1960, concursos de beleza infantil nos Estados Unidos, depois popularizados por programas como Toddlers & Tiaras, colocam meninas de 4, 5 ou 6 anos em vestidos de gala, com cabelos armados, maquiagem pesada e coreografias ensaiadas.
O espetáculo transformou crianças em objetos de julgamento estético, normalizando a ideia de que devem corresponder a padrões de sensualidade antes mesmo de compreenderem seu significado. Décadas depois, o palco mudou, mas o show continua.

Agora, a passarela é virtual: redes sociais, vídeos curtos e conteúdo para engajamento se tornaram vitrines onde crianças performam para um público global.
Um exemplo recente acendeu esse alerta: o vídeo do youtuber Felca denunciou o influenciador Hytalo Santos por expor e sexualizar meninas, especialmente a influenciadora mirim Kamylinha, desde os 12 anos. Felca apresentou um dossiê sobre o chamado “algoritmo P”, que potencializa conteúdo sexualizado de menores, e classificou a produção de Hytalo como um “circo macabro”.
A repercussão escancarou algo que muitos preferem ignorar: a adultização não é apenas uma questão estética ou de “moda precoce”, mas também um risco real que expõe crianças à exploração, violência e abuso.
A adultização nas roupas cobra um preço muito caro, pois impõe uma imagem que carrega uma carga sensual e madura que não pertence às crianças. Quando uma sociedade transforma a inocência em espetáculo, ela não está antecipando maturidade, está roubando a infância.
Vestir uma criança de criança não é moralismo, é respeitar as etapas da vida.
Moda é comunicação, roupa não é só um pedaço de tecido, e é muito fácil comunicar abertura e acessibilidade. Se essas mensagens não condizem com a idade, a gente abre o precedente para atitudes muito perigosas daqueles que menos são punidos.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora
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