A proposta visa garantir que mulheres vítimas não sejam obrigadas a comparecer presencialmente a audiências em que também estará presente o agressor

Um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional propõe uma mudança significativa na condução de processos judiciais envolvendo violência doméstica. A proposta visa garantir que mulheres vítimas não sejam obrigadas a comparecer presencialmente a audiências em que também estará presente o agressor, buscando preservar sua integridade emocional e física durante o curso do processo.
A medida, apresentada por parlamentares da bancada feminina, tem como objetivo principal evitar a revitimização das mulheres que já enfrentaram situações traumáticas. Segundo especialistas em direito e psicologia, o reencontro com o agressor em ambientes formais como o tribunal pode gerar novos episódios de sofrimento, medo e constrangimento, além de comprometer a qualidade do depoimento da vítima.
O projeto prevê que, sempre que possível, o depoimento da mulher seja colhido por meio de videoconferência ou em ambientes separados, com o uso de recursos tecnológicos que garantam sua segurança e privacidade. Em casos excepcionais, a presença física poderá ser solicitada, mas apenas com justificativa fundamentada e com medidas de proteção adequadas.
Entidades de defesa dos direitos das mulheres, como o Instituto Maria da Penha e a Comissão Nacional da Mulher Advogada da OAB, manifestaram apoio à proposta. Para essas organizações, a iniciativa representa um avanço na humanização da justiça e no cumprimento da Lei Maria da Penha, que já prevê mecanismos para proteger a vítima durante o processo judicial.
Por outro lado, alguns juristas levantam preocupações quanto ao direito à ampla defesa e ao contraditório, pilares do sistema jurídico brasileiro. Eles argumentam que a ausência da vítima na audiência pode dificultar o esclarecimento dos fatos e comprometer a análise do juiz. No entanto, os defensores do projeto ressaltam que a tecnologia permite a participação ativa da vítima sem que ela esteja fisicamente presente, mantendo o equilíbrio entre os direitos das partes.
A proposta ainda será analisada pelas comissões temáticas da Câmara dos Deputados antes de seguir para votação em plenário. Caso aprovada, poderá representar uma mudança importante na forma como o sistema de justiça lida com casos de violência de gênero, reforçando o compromisso com a dignidade e o respeito às mulheres em situação de vulnerabilidade.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que, em 2024, mais de 300 mil mulheres registraram ocorrências relacionadas a agressões físicas, psicológicas ou patrimoniais. A expectativa é que medidas como essa contribuam para tornar o processo judicial menos traumático e mais acessível às vítimas.
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