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Quixadá perde 85% da produção de milho e feijão e decreta emergência por estiagem

Devido às poucas chuvas registradas neste ano, o município de Quixadá, no Sertão Central do Ceará, perdeu 85% dos 5.000 hectares de milho e feijão plantados neste ano. O cenário afetou todos os 12 distritos da cidade, impactando mais de 8 mil agricultores. A gestão municipal decretou situação de emergência por estiagem na última segunda-feira (1º).

Com a falta de chuvas, danos afetaram todos os 12 distritos da cidade, levando prejuízos a mais de 8.000 pequenos e médios agricultores

Escrito por
Clarice Nascimento e Dahiana Araújoproducaodiario@svm.com.br
05 de Setembro de 2025 – 07:00

Casa simples em área rural cercada por árvores e cercas de madeira, com algumas vacas reunidas à sombra. Ao fundo, aparece um curral e a paisagem de vegetação seca sob céu parcialmente nublado
Legenda: Cidade do Sertão Central registrou apenas 392,8 mm durante a quadra chuvosa, de fevereiro a maio, enquanto a média climatológica para o período é de 562,3 mm
Foto: Google Maps

Devido às poucas chuvas registradas neste ano, o município de Quixadá, no Sertão Central do Ceará, perdeu 85% dos 5.000 hectares de milho e feijão plantados neste ano. O cenário afetou todos os 12 distritos da cidade, impactando mais de 8 mil agricultores. A gestão municipal decretou situação de emergência por estiagem na última segunda-feira (1º).

Ao todo, 4.250 hectares da plantação de pequenos e médios produtores foram perdidos, ou seja, não brotaram, devido à falta de chuvas, segundo informações do secretário de Agricultura de Quixadá, Fausto Moreno. Esse dano equivale a, aproximadamente, 3.935 campos de futebol — considerando que um campo padrão FIFA tem 1,08 hectare. Em média, esses agricultores plantam entre 0,6 a 1 hectare na região, conforme o gestor.

O decreto de emergência de Quixadá foi publicado no Diário Oficial da Associação dos Municípios e Prefeitos do Estado do Ceará (Aprece), na última segunda-feira (1º), com texto revisado na edição do dia 3 de setembro, e destaca que as perdas agrícolas na região diminuem “o padrão de qualidade de vida da população rural, colocando as mesmas em situação de vulnerabilidade”. Esse contexto também “comprometeu o abastecimento de água em alguns distritos e localidades pontuais do município”, diz o procurador da cidade, Nilo Lopes.

 

8.661
pessoas foram afetadas pela situação de desastre, representando 7,6% de toda a população, que hoje é de 88.846 habitantes, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Segundo Fausto, em algumas localidades de Quixadá, como Cipó dos Anjos, a chuva não ultrapassou a marca de 250 mm. Em outras, como Joatama, a precipitação foi de aproximadamente 500 mm, mas “muito mal distribuído”. Sem a quantidade de chuva necessária, nem o milho, nem o feijão brotam, explicou.

Os agricultores costumam plantar as sementes nos primeiros meses do ano e esperam pelas precipitações da quadra chuvosa para molhar a terra e germinar os grãos. No entanto, o que aconteceu foi que “faltou o molhado”, como explica Marcos Rogério, gerente local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará (Ematerce) em Quixadá.

Quem plantou em janeiro ainda conseguiu uma colheita suficiente graças às chuvas de fevereiro e março. “Quem já plantou no final de fevereiro para o começo de março, na hora do enchimento do grão, faltou molhado (chuva)”, afirma.

 

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Impactos da perda

O prejuízo da produção agrícola fez muitos produtores que possuem rebanho venderem parte dele para repor os valores perdidos. Com a negociação, eles garantem uma renda para manter a outra parte. “Não houve perda de animais, o que está tendo muito é a comercialização de animais”, afirma.

Além disso, as implicações também foram sentidas em outras culturas, como a do algodão. O secretário de Quixadá conta que foi realizada uma parceria com a Associação dos Produtores de Algodão do Estado do Ceará (Apaece) para o plantio da semente na cidade.

Dos 40 produtores cadastrados para receber as sementes, 35 conseguiram plantar, mas não obtiveram sucesso também diante do cenário atual. “A perda foi grande porque os periquitos, acho que por não ter o milho e o feijão, foram comer a flor do algodão. A produtividade esse ano do nosso programa aqui de revitalização do algodão foi muito baixa por conta disso”, conta.

A reportagem do Diário do Nordeste também questionou à gestão sobre os impactos financeiros da perda agrícola deste ano, porém, informou Fausto, um relatório com mais detalhes sobre o dano econômico será elaborado ainda neste mês, após reunião com órgãos como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ematerce, Sindicato dos Trabalhadores e Federação das Associações.

Chuvas abaixo da média

A quadra chuvosa em Quixadá foi considerada abaixo da média histórica, com um desvio negativo de 30,1%, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). A cidade registrou apenas 392,8 milímetros (mm) de chuva no período de fevereiro a maio, enquanto a média climatológica para o período é de 562,3 mm.

 

Os principais volumes de água foram observados entre fevereiro e março, enquanto abril e maio apresentaram números abaixo da média.

 

“Tivemos uma pequena acumulação no açude Pedras Brancas, principalmente entre fevereiro e março. A partir de abril, ele basicamente ficou estável e depois o nível começou a diminuir devido à demanda e à evaporação”, explica Junior Vasconcelos, pesquisador da Funceme.

Por ser um município grande, com cerca de 2 mil km², muitas comunidades ficam localizadas distantes da sede. “Elas ficam fora do guarda-chuva desse sistema tradicional de abastecimento e precisam de apoio de carro-pipa para abastecimento”, explica o major André Sousa, comandante adjunto da Defesa Civil do Ceará (Cedec).

Diante dessa conjuntura, a Prefeitura Municipal e a Defesa Civil de Quixadá emitiram o decreto para auxiliar as comunidades que ainda não são assistidas. Com o documento, o Governo Federal reconhece a situação de desastre, o que possibilita o acesso a recursos como a Operação Carro-Pipa.

 

Uma fotografia de um cenário semiárido com colinas e montanhas rochosas. Em primeiro plano, no lado direito, há um ramo de árvore esparsamente folhado. No centro da imagem, destaca-se uma montanha de pico íngreme, enquanto ao fundo, o terreno plano se estende até o horizonte. As cores predominantes são o marrom, cinza e tons pastéis. O céu está coberto por nuvens brancas e cinzentas.
Legenda: O município está inserido na área do Ceará onde a seca moderada avança, atingindo cerca de 35,12% do Estado
Foto: Alex Pimentel/Arquivo DN

 

A distribuição de água potável atende a pelo menos 112 localidades do município, informa o coordenador local da Defesa Civil, Junior Mourão. O gerente local da Ematerce, Marcos Rogério, explica que as casas onde havia cisternas conseguiram armazenar uma quantidade de água suficiente, mas sem encher os reservatórios.

Major André afirma que o cenário é monitorado pela Defesa Civil, junto do Comitê Integrado de Segurança Hídrica, para o planejamento de ações e medidas emergenciais, evitando a falta de água. Entre as ações, estão a perfuração e recuperação de poços, e construção de adutora.

 

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Assistência aos produtores rurais

secretário de Agricultura Fausto Moreno detalhou que, dos total de agricultores que perdeu a produção, apenas cerca de 2 mil tem direito ao Garantia Safra, programa do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) que oferece apoio financeiro de R$ 1.200 a quem tiver perdas na produção em decorrência da seca ou do excesso de chuvas.

“Todo ano, a prefeitura dá a contrapartida [aos agricultores], que é exatamente para, se ocorrer algum problema com uma chuva, eles terem direito a receber o Garantia Safra”, explica. No entanto, nem todos os produtores se enquadram para receber o benefício por conta da renda.

Além do seguro, explicou Fausto, a gestão municipal busca atender os agricultores com o abastecimento hídrico, uma vez que nem todas as localidades possuem água encanada. Outras medidas são a construção de cacimbas para o fornecimento de água aos animais e auxílio a produtores de gado para o transporte de forragem.

 

“A prefeitura está ajudando quem tem gado e compra forragem [plantas que servem como alimentos para os animais] em Apodi [no Rio Grande do Norte] com o caminhão para ir buscar”, complementou Fausto.

 

Seca moderada avança no Ceará

Conforme o Monitor das Secas, ferramenta coordenada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), 88,7% do território do Ceará registrou algum grau de seca em julho de 2025. É o cenário mais crítico desde janeiro de 2024, quando praticamente todo o Estado estava comprometido.

Além disso, a área com seca moderada apresenta seu estágio mais severo, com 35,12% concentrada no oeste do Estado, abrangendo áreas da Ibiapaba, Sertão Central, Inhamuns, e trechos da região Jaguaribana.

A situação da seca está diretamente ligada à redução das chuvas a partir de maio, mês que encerra a quadra chuvosa no estado, explica a análise da Funceme.

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Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

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