Embora extraindo do seu solo o Taj Mahal, que é o objeto de desejo dos arquitetos do mundo, a mineração cearense exporta apenas blocos de pedra, sem valor agregado

Ricardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias do Ceará, reuniu, há dois anos, os líderes de cada um dos seus 40 sindicatos filiados e lhes transmitiu, com outras palavras, esta orientação, segundo testemunho do presidente do Sindicato da Indústria de Mármores e Granitos (Simagran), Carlos Rubens Alencar:
“Vocês, além de cuidarem dos aspectos corporativos, devem transformar seus sindicatos em unidades fomentadoras do desenvolvimento econômico”.
O Simagram vem cumprindo essa orientação, razão pela qual aprofunda e dinamiza um trabalho de atração de investidores e de promoção do setor de rochas ornamentais de que é exemplo a Fortaleza Brazil Stone Fair, uma feira internacional que deu visibilidade mundial ao grande potencial de quartzitos e granitos do Estado do Ceará.
“Em 2014, tínhamos 14 empresas que pesquisavam e extraíam rochas ornamentais no nosso Estado. Hoje, temos cerca de 70 empresas nessa atividade. O quartzito Taj Mahal, extraído do chão do município de Uruoca, no Norte cearense, é atualmente a rocha mais nobre, transformando-se em objeto de desejo dos principais arquitetos mundiais. Enfim, como um dia vaticinou o saudoso governador Virgílio Tavora, o Ceará se desenvolverá com o binômio turismo e mineração”, diz Carlos Rubens Alencar.
Mas, como esta coluna já comentou, os empresários cearenses e de outros estados que exploram as belas rochas ornamentais daqui não têm sido competentes para agregar valor a esses produtos, exportando-os em estado bruto para vários países, inclusive a Itália e a China, onde são convertidos em peças valiosíssimas que enfeitam o piso e o revestimentos de grandes monumentos públicos e privados na Europa, Ásia e Oriente Médio (o Aeroporto Internacional de Dubai, para citar apenas um exemplo, deve boa parte de sua beleza ao Taj Mahal cearense).
Agora, reparem: os empresários do Espírito Santo – maior produtor e exportador brasileiro de rochas ornamentais – tiram do solo do Ceará blocos enormes de quartzitos e granitos que, transportados por navios ou carretas, são levados até Vitória, onde a indústria capixaba os beneficia para, em seguida, exportá-los como peças acabadas – de alto valor agregado – para os clientes estrangeiros.
O mais incrível é que o Ceará tem em operação no Complexo do Pecém a única Zona de Processamento para Exportação (ZPE) em funcionamento do país. É lá, junto ao Porto do Pecém, que os mármores e granitos cearenses deveriam ser – com isenção tributária – beneficiados, se alguma empresa daqui ou d’alhures fosse atraída para essa tarefa. Até agora, contudo, a iniciativa privada e o governo estadual não manifestaram interesse efetivo para fazer também da ZPE do Ceará – que já é um polo siderúrgico — outro da indústria de mineração.
“Ainda somos exportadores de comodities, mas brevemente teremos alguns projetos de industrialização dos blocos, e aí os valores irão crescer exponencialmente”, promete, pela centésima vez, mas com ar de renovada esperança, o presidente do Simagran.
De janeiro a março deste ano, o Ceará exportou – em mármores e granitos – o equivalente a US$ 19,51 milhões, um salto de 147% em relação ao mesmo período do ano passado de 2024, quando essas exportações foram de, apenas, US$ 7,88 milhões.
Agora, surpreendam-se: o Espírito Santo, no mesmo primeiro trimestre deste ano, exportou, em rochas ornamentais beneficiadas, ou seja, com valor agregado, US$ 290,41 milhões. Minas Gerais, o segundo colocado, exportou US$ 30,06 milhões. O Ceará é o terceiro desse ranking, que tem a Bahia em quarto lugar, com exportações de mármores e granitos equivalentes a US$ 4,36 milhões.
De janeiro a março deste 2025, as exportações totais do Brasil em mármores e granitos somaram US$ 353,58 milhões, 28,1% a mais do que os US$ 275,97 exportados em 2024.
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