Tomar café com o almoço ou o jantar pode ser um hábito comum — e até culturalmente valorizado como “digestivo”. No entanto, estudos sugerem que essa prática pode interferir na absorção de nutrientes importantes para o funcionamento do organismo, como o ferro, o cálcio e as vitaminas do complexo B.

Segundo a pesquisadora Alex Ruani, da University College London, não se trata de uma proibição, mas de um cuidado que vale a pena para quem já tem níveis baixos desses nutrientes.

“Nem toda a absorção é completamente bloqueada — pode haver apenas alguma redução”, explica ela.

O impacto varia conforme a quantidade de café, o estado de saúde da pessoa, a dieta e até a genética.

Ferro, cálcio e vitaminas em risco

Um dos principais nutrientes afetados é o ferro — especialmente o chamado “ferro não heme”, presente em vegetais, leguminosas e frutas. A cafeína e os polifenóis do café, como o ácido clorogênico, podem se ligar ao ferro no sistema digestivo, impedindo sua absorção e fazendo com que ele seja eliminado nas fezes.

Essa interferência pode ser preocupante para pessoas com anemia ferropriva, como mulheres grávidas ou que menstruam com frequência, que já têm maior necessidade desse nutriente. Para elas, especialistas recomendam tomar café pelo menos uma hora antes ou duas horas depois das refeições ricas em ferro.

O cálcio, essencial para a saúde óssea, também pode ser afetado. Pesquisas indicam que a cafeína pode prejudicar tanto a absorção do mineral no intestino quanto sua retenção pelos rins. Embora esses efeitos sejam geralmente mínimos, pessoas com baixa ingestão de cálcio podem estar mais vulneráveis à perda óssea a longo prazo.

As vitaminas do complexo B, que são hidrossolúveis, também podem ser eliminadas mais rapidamente com o consumo frequente de café. A cafeína tem efeito diurético, o que aumenta a frequência urinária e, consequentemente, a excreção dessas vitaminas que não ficam armazenadas no corpo.

E quanto aos probióticos e ao chá?

Se você consome probióticos — seja em cápsulas ou por meio de alimentos como iogurte e kimchi — também é bom evitar combiná-los com café. As bactérias vivas presentes nesses produtos são sensíveis ao calor e podem morrer em contato com a bebida quente, perdendo parte de sua eficácia.

E trocar o café pelo chá? A substituição pode não resolver o problema. O chá também contém polifenóis com potencial de interferir na absorção de ferro, o que exige o mesmo tipo de atenção quanto ao momento do consumo.

Conclusão

Para a maioria das pessoas, tomar café durante as refeições não representa um risco imediato. Mas se você tem deficiências nutricionais, anemia, problemas ósseos ou faz uso de probióticos, vale repensar esse hábito. Ajustar o horário do café pode ser um pequeno gesto com impacto significativo na sua saúde.