Na verdade, há uma miscelânea de interesses, muitos deles conflitantes, entre os cardeais abaixo dos oitenta anos de idade, aptos a participar do conclave
Decorrido o período de luto pela morte do Papa Francisco, o Colégio dos Cardeais realiza o conclave que escolherá, nestes próximos dias, o sucessor do pontífice da misericórdia e da paz. A propósito, bem em conformidade com o período atual, andei lendo “Conclave” , livro lançado em 2020, de autoria do escritor britânico Robert Harris (1957-). A obra, embora seja ficcional, é muito bem elaborada e deu origem ao filme de sucesso, com o mesmo título, lançado no ano passado e que recebeu oito indicações ao Oscar de 2025, sendo premiado na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. Tanto o livro quanto o filme nos mostram bem as dúvidas, os interesses envolvidos e as fases que culminarão com a escolha do novo papa. Na realidade, são muitas as tendências, as correntes defendidas pelos cardeais que, após seguidas votações, mediante gradativo e complexo processo, definirão o sucessor de Francisco.
E o livro de Harris nos mostra essa questão. Sua ficção se aproxima muito deste momento ora vivido pelo catolicismo. Há, por exemplo, os cardeais mais conservadores, que defendem inclusive a volta de um pontífice de origem italiana após mais de quarenta anos, seguidor rigoroso da doutrina tradicional. Outros há que pretendem escolher um papa identificado com a visão mais liberal e inclusiva do pontífice morto (toda semelhança com Francisco), expandindo a Igreja para uma participação e uma presença crescente dos mais humildes e excluídos.
Há, ainda, aqueles que, nos bastidores, defendem a eleição do primeiro pontífice de origem africana ou asiática, proporcionando assim, na sua visão, uma renovação completa da Igreja, embora, entre eles, existam cardeais extremamente tradicionalistas que mantêm duros posicionamentos com relação à questão dos homossexuais, por exemplo.
Na verdade, há uma miscelânea de interesses, muitos deles conflitantes, entre os cardeais abaixo dos oitenta anos de idade, aptos a participar do conclave. E, antes de cada votação, diferentes grupos se formam entre aqueles, onde muitos tomarão partido deste ou daquele de cujas posições mais se aproximarem. No momento em que você lê este texto, caro leitor, não sei se o sucessor de Francisco já terá sido eleito. Se o “Habemus papam!” já terá acontecido.
Espero, porém, que o consenso geral seja o da escolha de um religioso que leve adiante a caminhada do papa há pouco desaparecido, que tornou a Igreja concretamente aberta, inclusiva, combatendo privilégios que a tornavam refratária a um mundo que de fato precisa de mais amor, de mais compaixão e do fortalecimento da fé, acima de tudo. Que o Espírito Santo, apesar da inquestionável existência de correntes tão diferentes entre os cardeais, ilumine-lhes as consciências. E que prevaleça a escolha mais sábia, para o bem dos católicos de todo o mundo. É o que todos desejamos.
Adcionar comentário