A defesa do suspeito nega as acusações. A Polícia Civil investiga o caso

Funcionárias e ex-funcionárias de uma empresa do ramo de panificação acusam o administrador do estabelecimento comercial, de 56 anos, como autor de uma série de crimes sexuais, incluindo assédio moral. O caso chegou à Polícia Civil do Ceará (PCCE) por meio de uma denúncia em Boletim de Ocorrência, no último dia 22 de abril.
A Polícia confirma que um inquérito foi instaurado na Delegacia da Defesa da Mulher (DDM) de Fortaleza para apurar o caso de importunação sexual, no bairro Monte Castelo. A unidade policial “realiza diligências e oitivas com o intuito de elucidar os fatos”. O nome do suspeito é preservado nesta matéria, porque ele segue na condição de investigado e sem mandado de prisão.
A reportagem conversou com mulheres que se dizem vítimas do administrador de empresas. Elas contam que o homem, se aproveitando do cargo de gestão, comentava diariamente sobre os corpos delas, “falava do tamanho da calcinha, se encostava para ‘se esfregar'” e chegava a perguntar: “não tá usando fio dental hoje?” (sic).
A defesa do gestor diz que ele “é respeitado com mais de 15 anos de dedicação como chefe imediato em uma empresa de renome em nosso município, vem a público esclarecer os fatos recentemente divulgados e que envolve grave acusação de assédio sexual, as quais repudia veementemente”.
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“As denúncias feitas por uma funcionária temporariamente afastada e registrada em boletim de ocorrência carecem de qualquer elemento de prova concreta e foram acompanhadas por testemunhas que já não integram o quadro da empresa. Ressalta-se, com preocupação, que uma dessas testemunhas, inclusive, tentou induzir outra colaboradora a forjar provas”.
Vítimas e testemunhas já foram ouvidas na DDM nos últimos dias. As mulheres afirmam que imagens das câmeras de segurança dos escritórios do estabelecimento podem comprovar os assédios, mas temem que elas já tenham sido destruídas pelo suspeito.
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Uma ex-funcionária diz que o administrador pedia fotos dos corpos das meninas para contratá-las dizendo que esta era uma forma delas mostrarem que confiavam nele: “ele sempre quis meninas novas no quadro da empresa. Muitas que já saíram sofreram o mesmo, mas não tiveram coragem de denunciar, expor, por medo. A maioria sempre sai traumatizada psicologicamente, só querendo se livrar daquela situação. Dos últimos anos pra cá, todas nós sofremos todo tipo de abuso e assédio moral e sexual, como falar de nosso corpo, chamar de ‘rapariga'”.
“Todo dia de manhã, quando ele chegava, ia em cada sala agarrar de uma por uma, dava tapinha na bunda, falava dos seios. Isso acontece há uns oito, dez anos, e ninguém nunca teve coragem de denunciar… Você se sente um nada, estar ali pra trabalhar e ter que passar por tudo isso para ter que sobreviver”
Outra vítima relata que a primeira abordagem aconteceu no fim de 2023. A funcionária lembra que foi deixar um relatório na sala do chefe e ele “lhe pediu uma breve explicação, mas que ela fosse para o lado dele”. Neste momento, “colocou a mão na parte de trás do sutiã, puxou e disse: ‘a baladeira hoje tá bem apertadinha, ne? As alças estão dobradas. Você não ajeitou antes de vir trabalhar'”.
Ela diz que pediu para ele ‘deixar quieto’, tendo o gestor dito na sequência “para ela deixar de besteira, que ele mesmo ajeitaria. Foi quando trouxe a mão dele da parte de trás para a parte da frente, por dentro da blusa, levantou e pediu para ver os seios dela, sem sutiã”.
A vítima recorda que pediu respeito, que era uma mulher casada, tendo o suspeito falado “pois tá bom, esquente não, tô só brincando” (sic).
Outro ‘costume’ do suspeito era pedir para ‘estalar’ as costas das funcionárias. A estratégia era se aproximar dos corpos delas, para apalpar as bundas das vítimas e “encaixar as partes íntimas dele”.
Uma das vítimas disse que chegava a ficar sem reação com as “coisas que ouvia dele” e que acredita que o chefe pensava “se eu fiz na quinta e ela não reagiu nem esboçou reação de nada eu vou fazer de novo”.
“Ainda colocou a mão por dentro de seu sutiã e da sua calça legging, foi quando uma servidora abriu uma porta e ele se assustou e parou; que enquanto cometia a importunação, ele percebeu que a declarante estava trêmula e pediu que ela relaxasse que iria ser rápido”
INVESTIGAÇÃO
A defesa do suspeito nega as acusações e diz que “vem atuando prontamente perante a Delegacia de Defesa da Mulher – DDM, juntando testemunhos de pessoas que conviveram com o acusado e com a suposta vítima no ambiente profissional, aptos a demonstrar sua conduta ética, respeitosa e ilibada. Além disso, foram colocadas à disposição da autoridade policial oito novas testemunhas, entre homens e mulheres, que poderão atestar a integridade e postura exemplar do chefe imediato”.
O advogado do administrador de empresas “reforça que todas as providências legais estão sendo tomadas para responsabilizar aqueles que, de forma leviana e com objetivos escusos, tentam utilizar o aparato estatal para fins diversos, possivelmente visando obter vantagens em futura demanda trabalhista. Confiamos na Justiça e temos plena convicção de que a verdade prevalecerá, com a consequente responsabilização dos envolvidos em tais acusações infundadas”.
A Polícia informa que a população pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais, para o número 181, o Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS): “o sigilo e o anonimato são garantidos”.
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