Governo chinês financiará projetos de grandes ferrovias brasileiras. Em contrapartida, fornecerá locomotivas e vagões. Industria brasileira indignou-se.

No dia 16 do recente mês de abril, autoridades do Ministério dos Transportes reuniram-se com engenheiros ferroviários do governo chinês para avaliar a situação atual das obras da Ferrovia Integração Leste-Oeste (Fiol), que, com 1.527 quilômetros de extensão, começa em Ilhéus, na Bahia, onde a reunião se realizou, e termina em Figueirópolis, no Tocantins, onde se conecta com a Ferrovia Norte-Sul.
O que quer o governo da China? Resposta: redesenhar a Fiol para viabilizar o Corredor Bioceânico Brasil-Peru, que ligaria o porto de Chancay – construído e operado pelos chineses na cidade de mesmo nome, no Oceano Pacífico, a 80 quilômetros ao Norte de Lima – ao Porto Sul, nova denominação do Porto de Ilhéus. Com essa ferrovia, o Brasil reduzirá a viagem de seus produtos agropecuários e minerais para a China. E vice-versa. Tudo com financiamento chinês. Uma maravilha!
Nesta semana, porém, em Pequim, os governos do Brasil e da China acertaram um acordo por meio do qual a indústria ferroviária chinesa fabricará os trens que serão utilizados no futuro Corredor Bioceânico e nas demais ferrovias brasileiras em implantação e a serem implantadas. Será a contrapartida do governo de Xi Jinping pelo financiamento das obras.
Esta notícia desagradou à Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Ambifer) e ao Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Rodoviários (Simefre), que, em nota assinada pelos seus dirigentes, manifestaram sua “profunda indignação”.
A nota afirma que “é imprescindível que o Brasil priorize sua própria indústria ferroviária, que possui um sólido histórico de qualidade, inovação e capacidade produtiva”.
A nota conjunta da Abifer e da Simefre é a seguinte, na íntegra:
“A Abifer – Associação Brasileira da Indústria Ferroviária – e o Simefre – Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários vêm a público manifestar profunda indignação em relação à recente matéria que anuncia uma parceria entre os governos brasileiro e chinês para a produção de trens na China. Embora a cooperação internacional seja essencial em muitos setores, é imprescindível que o Brasil priorize e valorize sua própria indústria ferroviária, que possui um sólido histórico de qualidade, inovação e capacidade produtiva.
“A indústria ferroviária instalada no país é um pilar fundamental para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, com um potencial imenso para gerar empregos, fomentar a tecnologia local e promover a sustentabilidade.
“Não há vácuo na indústria nacional a ser ocupado, ao contrário, quem arcou com estes elevadíssimos índices de ociosidade pela inconstância de pedidos, fomos nós, indústria ferroviária. O estado brasileiro precisa zelar por nossas capacidades e garantir a geração de emprego e renda aos brasileiros.
“Valorizar a indústria nacional é investir no presente e no futuro do Brasil. É hora de olhar para o que temos de melhor e construir um caminho sustentável para as nossas ferrovias.”
A nota é assinada pelo presidente da Abifer, Vicente Abate, e pelo vice-presidente do Simefre, Massimo Giavina.
Não há como negar que, hoje, a indústria ferroviária chinesa é a maior e mais moderna do mundo, tanto do ponto de vista da qualidade, quanto do ponto de vista da alta tecnologia. Os trens de passageiros chineses, luxuosos, circulam a 300 quilômetros por hora, e os de carga, também. As linhas férreas da China são todas eletrificadas. A velocidade máxima dos trens brasileiros é de 80 quilômetros. E a culpa é do governo que do Brasil, na metade do século passado, preferiu investir em rodovias do que em ferrovias – coisa de país subdesenvolvido.
Deve ser dito, ainda, que a indústria brasileira é tradicionalmente ancorada em incentivo fiscais, razão por que investe pouco em tecnologia para alcançar alta produtividade. Por isto, não suporta a concorrência estrangeira – com raríssimas exceções, como a indústria aeronáutica. Ora, se a China vai investir uma montanha de dinheiro para financiar esses projetos ferroviários brasileiros, é justo e natural que forneça os equipamentos.
O Brasil precisa – e urgentemente – de uma rede ferroviária moderna, eficiente e rápida. E só a China pode prestar essa ajuda neste momento, pois é ela que tem a expertise e, principalmente, o dinheiro necessário à execução dos projetos. Que venha e seja bem-vinda a indústria ferroviária chinesas.
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