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Projetos menores de hidrogênio verde podem ser alternativa para falta de infraestrutura energética

Um dos principais gargalos atualmente para o desenvolvimento das plantas de hidrogênio verde (H₂V) em todo o País está na infraestrutura de energia. Sem linhas de transmissão e margens de conexão que forneçam acesso dos empreendimentos à rede, os equipamentos podem nem sair do papel. A solução pode estar em reduzir o tamanho dos projetos.

Com linhas de transmissão e margem de conexão muito aquém do ideal, especialistas começam a buscar alternativas para o seto

Escrito por
Luciano Rodriguesluciano.rodrigues@svm.com.br
25 de Maio de 2025 – 09:00

Foto que contém um equipamento cilíndrico na cor branca na horizontal sustentado por pés de metal com um adesivo afixado com os dizeres
Legenda: Projetos isolados de hidrogênio verde, sem necessidade de grande conexão na rede, podem surgir como alternativas
Foto: EDP/Divulgação

Um dos principais gargalos atualmente para o desenvolvimento das plantas de hidrogênio verde (H₂V) em todo o País está na infraestrutura de energia. Sem linhas de transmissão e margens de conexão que forneçam acesso dos empreendimentos à rede, os equipamentos podem nem sair do papel. A solução pode estar em reduzir o tamanho dos projetos.

Essa foi uma das propostas apresentadas por Thiago Valejo, gerente de Projetos de Petróleo, Gás, Energias e Naval da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Ele é um dos autores da nota técnica ‘Panorama do hidrogênio no Brasil e no RJ: desafios e próximos passos’, divulgada pela entidade.

Na atual conjuntura de infraestrutura limitada e defasada, como ressaltado por empresas do setor, para a instalação de plantas de H₂V, Valejo enxerga “só dois caminhos possíveis”, incluindo o investimento em mais linhas de transmissão e no setor elétrico em sua totalidade.

 

O primeiro é o caminho dos projetos e hubs isolados e não interligados no sistema. Esse é um caminho possível. A gente não onera, ou não sobrecarrega, ou não demanda demais investimentos das linhas de transmissão nessa parte do setor elétrico. Ou vai fazer de forma isolada, ou vai investir no conjunto.
Thiago Valejo

Gerente de Projetos de Petróleo, Gás, Energias e Naval da Firjan

 

“Investindo no conjunto, vai ter uma conta final também desse setor elétrico. Esse é o grande ponto de reflexão que a gente coloca. Quem é que vai arcar com isso? Se não aparecer essa figura que vai arcar com os custos, isso vai voltar para todos nós como consumidores finais, todos os clientes aí que consomem energia elétrica”, acrescenta.

O especialista ainda assinala que é fundamental que haja “segurança jurídica” para o setor: “Precisa do decreto realizado, da resolução das questões com a integração do setor elétrico para realmente viabilizar esses projetos. A gente também precisa olhar para a competitividade do preço, de ser atrativo”.

De acordo com Marília Brilhante, engenheira elétrica e CEO da Energo Soluções em Energias, até é possível que esses projetos isolados saiam do papel, mas o desafio fica na conta de questões técnicas e financeiras.

“A usina de geração teria que ser junto a usina de H₂V e ainda precisaria contar com banco de baterias para horas sem geração, no caso de solar ou geração reduzida em caso de eólica. Ficaria mais caro e precisaria de mais espaço. É preciso analisar a viabilidade caso a caso”, expõe.

 

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Brasil será hub mundial de hidrogênio verde, diz Firjan

Na nota técnica elaborada pela Firjan, até abril deste ano, o País tinha 101 projetos de H₂V, com a metade deles concentrados em três estados: Ceará (24), Rio de Janeiro (15) e Rio Grande do Sul (11).

No que tange aos projetos-pilotos, isto é, que já estão produzindo experimentalmente hidrogênio verde, o Rio de Janeiro é o maior destaque, com três pilotos, enquanto o Ceará tem somente um. Para Thiago Valejo, essa condição é proporcionada pela perícia do estado da região Sudeste em plantas de produção de energia.

“É uma característica do Rio de Janeiro (ter mais projetos-pilotos) por ser o maior produtor de petróleo e gás, por ser o estado com maior diversidade de fontes energéticas, por já ter experiências desses mercados, podendo ser aproveitada de algum modo para se aplicar no hidrogênio verde. É uma questão de maturidade e desse desenvolvimento do ambiente de negócios”, considera.

 

Foto que contém complexo portuário de Açu, porto privado na cidade de São João da Barra, no Rio de Janeiro
Legenda: Porto de Açu, o maior porto privado do País, tem expertise na produção de energia
Foto: Porto de Açu/Divulgação

 

A proposta do hub mundial de H₂V no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) atende ao princípio da proximidade, como explica Thiago Valejo. O gerente da Firjan condiciona as plantas a serem instaladas no Ceará como pontos de exportação, enquanto a produção no Rio de Janeiro vai buscar atender ao mercado interno.

“O melhor modelo para concretizar e avançar nesse mercado é a produção perto do consumo final. No Ceará, a gente vai ter um grande hub no Pecém. No Rio de Janeiro, tem o Porto do Açu também. A gente olha outros estados também se colocando nesse mercado. O principal desafio hoje é reverter esse quadro, acho que por conta de expectativa talvez e tempo de mercado estão acontecendo alguns adiamentos, suspensões de projetos, e fazer com que esses projetos de fato se concretizem”, reflete.

“Esse destino da produção de hidrogênio verde integrada ao consumo final, esse olhar de hubs, diria que é um modelo mais ideal. Isso não inviabiliza a produção destinada à exportação, até por conta da proximidade, da vantagem logística do Ceará, próximo ao mercado europeu, com uma demanda potencial significativa de hidrogênio”, completa.

Prazo de regulação do hidrogênio verde

O especialista da Firjan faz uma crítica direta para aqueles agentes que aceleram o prazo de regulação da cadeia produtiva de H₂V, com ameaças para a retirada de investimentos caso não haja avanços urgentes. Para Valejo, é preciso “separar o que é o timing dessa necessidade de prazo para discutir e construir a melhor regulação”.

 

“Não adianta a gente fazer uma regulação que depois a gente não consiga avançar ou gere dúvidas e a gente não tem a segurança jurídica. A gente precisa separar esse prazo necessário para construir essa regulação desse prazo que é uma expectativa do mercado com os anúncios”, aponta.

 

Nos prazos atuais estabelecidos pelo Ministério de Minas e Energia por meio Programa Nacional de Hidrogênio (H₂) de Baixo Carbono (PNH₂), de 2025 até 2035, a meta é disseminar as plantas do composto, consolidar o Brasil como o país mais barato do mundo para produzir o hidrogênio e consolidar o território nacional com os hubs.

Empresas e demais entidades, entretanto, querem que, a partir de 2027, já haja a produção de hidrogênio verde. Thiago Valejo acredita que não é possível atropelar os passos, principalmente por se tratar de uma questão sensível como a cadeia produtiva do H₂V.

 

Foto que contém projetos de hidrogênio verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, com ambiência industrial
Legenda: Produção de hidrogênio verde no Cipp pode começar em 2027 com celeridade no desenvolvimento de projetos
Foto: Thiago Gaspar/Governo do Ceará

 

“Assinando um protocolo de intenções, há a intenção de desenvolver um projeto para gerar emprego e renda, mas está aqui de alguma forma balanceando isso ou pressionando esse ambiente para sair logo essa regulação. A gente precisa ter essa balança de equilíbrio, o que de fato vai se concretizar, porque talvez não concretizem todos os memorados de entendimento. Provavelmente não irão se concretizar todos, mas surgirão novos”, argumenta.

 

Nosso momento de mercado também precisa ser respeitado, esse prazo de regulação, essa expectativa natural do investidor que quer acelerar e naturalmente a gente atrai novos entrantes aqui para o Brasil. É um mercado global. A gente não pode desconsiderar isso. A gente precisa ter atenção, talvez muito mais do que preocupação nesse momento, e continuar trabalhando para contribuir para a melhor formação da regulação dos empreendimentos no país.
Thiago Valejo

Gerente de Projetos de Petróleo, Gás, Energias e Naval da Firjan

 

Já para Marília Brilhante, “precisamos de pressa mesmo” para que essa regulação saia realmente do papel, e não englobando apenas a cadeia produtiva do H₂V, mas toda o setor energético nacional.

“Precisamos de pressa em todas as frentes, inclusive na infraestrutura de conexão, os interessados em comprar irão comprar, só que talvez não no Ceará ou no Brasil e sim em qualquer outro país que esteja pronto a atender a demanda por hidrogênio”, reitera.

Uso de combustíveis sustentáveis não dispensará fontes fósseis

Thiago Valejo ainda pondera que não é possível falar “só da transição pela transição”. O uso das fontes renováveis, como H₂V, usinas eólicas, fotovoltaicas e demais de baixa emissão de poluentes ainda serão aliados de usinas térmicas e do H₂ de alta emissão.

“Não é uma virada de chave. É uma maior participação de outras fontes e combustíveis para atender a demanda mundial crescente por energia. O mundo usa lenha e carvão até hoje, não é que deixaram de existir, assim como o petróleo e o gás natural. Eles vão continuar sendo importantes e viabilizadores de novas fontes de energia, como o hidrogênio verde”, frisa o especialista.

A nota técnica da Firjan é bem clara com relação ao que já foi feito pelo Brasil, uma vez que o País não está começando agora a viabilizar a cadeia produtiva para a produção do composto.

 

Foto que contém a usina termelétrica Energia Pecém, localizada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém
Legenda: Energias fósseis, como as termelétricas, ainda devem continuar sendo utilizadas junto com matrizes renováveis
Foto: Energia Pecém/Divulgação

 

“A gente não está no momento zero, já está à frente do que é justamente o decreto que precisa regulamentar a lei. Estamos dependendo disso no âmbito regulatório, e em paralelo, tem uma série de projetos que precisam avançar”, arremata.

A reportagem entrou em contato com o Governo do Estado do Ceará, por meio da Secretaria da Casa Civil, para entender a viabilidade de projetos isolados, de investimentos em data centers e do que está sendo feito para destravar os investimentos em infraestrutura. Até a publicação deste material, o Governo não se manifestou. O espaço segue aberto.

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Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

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