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Falta de esgotamento sanitário coloca 3 cidades do CE entre as 40 piores em ranking de saneamento

A garantia do direito ao saneamento básico – acesso à água, coleta de lixo e rede de esgoto – ainda é um desafio para as três maiores cidades do Ceará. Fortaleza, Caucaia e Juazeiro do Norte se posicionam entre as 40 menores notas no Ranking do Saneamento 2025, divulgado pelo Instituto Trata Brasil nesta terça-feira (15).

Acesso à água avança, mas déficits na rede de esgoto “puxam para baixo” as notas de Fortaleza, Caucaia e Juazeiro do Norte

16 de Julho de 2025 – 06:00

Esgoto a céu aberto em rua de Fortaleza
Legenda: A cobertura de rede de esgoto em Fortaleza, a quarta cidade mais populosa do Brasil, saltou de 49,9% em 2019 para 66,5% em 2023
Foto: Davi Rocha

A garantia do direito ao saneamento básico – acesso à água, coleta de lixo e rede de esgoto – ainda é um desafio para as três maiores cidades do Ceará. FortalezaCaucaia e Juazeiro do Norte se posicionam entre as 40 menores notas no Ranking do Saneamento 2025, divulgado pelo Instituto Trata Brasil nesta terça-feira (15).

O estudo considera os indicadores mais recentes do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa), publicado pelo Ministério das Cidades em 2023, e avalia os 100 municípios mais populosos do Brasil, dando a eles uma nota de 0 a 10. Entre eles, estão os três cearenses:

  • Fortaleza: 62ª posição, com nota total de 7,19;
  • Caucaia: 79ª posição, com nota total de 5,51;
  • Juazeiro do Norte: 85ª posição, com nota total de 4,43.

Para os resultados, o ranking analisa a cobertura de distribuição de água e de acesso à rede de esgoto nas populações urbana e rural dos municípios. Nas três cearenses, os indicadores de acesso à água avançaram, em relação ao ano anterior, mas a ausência de ligação das residências à rede de coleta de esgoto ainda representa um gargalo significativo.

 

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Na quarta cidade mais populosa do Brasil, a cobertura de rede de esgoto saltou de 49,9% em 2019 para 66,5% em 2023. Fortaleza fez o 3º maior investimento do Brasil em saneamento, entre 2019 e 2023, com R$ 1,8 bilhão, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro.

 

Apesar disso, uma realidade preocupante ainda persiste: um em cada três fortalezenses (33%) não tem esgotamento sanitário.

 

Em Caucaia, na Região Metropolitana, o cenário piora: apenas 42% da população tem a casa conectada à rede de esgoto. Considerando apenas a zona urbana do município, a cobertura é de 47%, de acordo com os dados do ranking. Em resumo, mais da metade (58%) dos caucaienses não têm acesso ao esgotamento sanitário.

A situação mais alarmante, porém, é de Juazeiro do Norte, na Região do Cariri. A cidade é a 10ª pior do Brasil em número de população com rede coletora de esgoto. Em 2023, apenas 27% dos moradores tinham acesso ao sistema de esgoto, número que sobe ligeiramente (28,53%) se recortada apenas a área urbana.

No Ceará, a rede de esgotamento é manejada por uma parceria público-privada entre a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e a Ambiental Ceará. Para Fábio Arruda, diretor executivo da Ambiental, o saneamento “ficou para trás” no Brasil, com 50% de coleta e tratamento de esgoto, e esse cenário é replicado em todos os estados.

Ele destaca que, nas 24 cidades cearenses onde a Ambiental atua, cerca de 180 mil imóveis têm acesso à rede coletora de esgoto, mas não estão conectados. “O pessoal possui a infraestrutura, mas de alguma forma está causando degradação ambiental, seja com fossa séptica, seja com lançamento in natura nos nossos rios e córregos”, afirma.

 

Em Juazeiro do Norte, cidade cearense com os piores indicadores sobre esgoto no Ranking do Saneamento 2025, o diretor executivo aponta que há quase 15 mil imóveis — e 45 mil habitantes — sem ligação, apesar da existência da infraestrutura.

 

 

 

Entre os municípios que contam com a atuação da Ambiental Ceará, Fábio Arruda destaca que o caririense é a que conta com o maior efetivo de obras da empresa. “Temos quase 40 frentes de obra lá. Em 2023, era 37% de cobertura. Em 2025, fechamos com 46% de cobertura, são mais de 100 km de rede executada, 56 mil moradores beneficiados”, afirma.

De acordo com o diretor executivo, a Ambiental Ceará realiza o “trabalho de formiguinha” de ir a cada uma dessas residências para explicar a importância da conexão à rede de esgoto e como ela deve ser feita, apontando os custos e a economia para o morador.

“Quando as pessoas fazem a conta do quanto gastam para chamar o caminhão auto-fossa, veem que é muito mais viável se conectar ao esgoto, ao longo do tempo, porque a fossa tem tempo de vida útil”, avalia Arruda.

Em média, o valor para realizar a ligação é de R$ 300 a R$ 350, quando a fossa ou o sistema de esgoto existente já estão direcionados para a rua, mas esse valor pode ser de R$ 800 a R$ 900 em alguns casos. Porém, Arruda destaca a realização dessa obra intradomiciliar de forma gratuita para quem está cadastrado como tarifa social na Cagece.

 

R$ 300 a R$ 350
Média do custo para fazer a ligação de esgoto quando a fossa ou o sistema existente na residência já estão direcionados para a rua.

 

Marco Legal do Saneamento

A parceria público-privada entre a Cagece e a Ambiental Ceará, segundo Arruda, busca “tirar esse déficit todo no saneamento”, obedecendo às regras do Marco Legal do Saneamento. Instituída em 2007 pela Lei nº 11.445 e atualizada em 2020 Lei n.º 14.026, a norma tem a meta de chegar ao final de 2033 com 99% da população brasileira com acesso à água tratada e 90% à coleta e tratamento do esgoto.

No Ceará, o objetivo é que até 2030 a cobertura de esgoto seja de 95%, com investimento de R$ 6,2 bilhões para a universalização, segundo Arruda. Em Fortaleza, ele explica que a cobertura era de 66% em 2023, aumentará para 75% até o final de 2025 e chegará a 90% nos próximos anos.

“Isso impacta diretamente na saúde da população, [para] as crianças não estarem doentes nem faltarem à escola. E tem o benefício ambiental, porque estamos preservando nossos mananciais”, avalia.

 

Profissional da Ambiental Ceara faz visita a domicílio sem ligação com a rede de esgoto
Legenda: Visita realizada pela Ambiental Ceará a domicílios que não estão interligados à rede de esgoto em Fortaleza
Foto: Davi Rocha

 

Metade da água é perdida

Outro indicador que compromete o sistema de saneamento das cidades cearenses é o acesso à água. Em Fortaleza e Juazeiro do Norte, mais de 90% dos moradores têm abastecimento garantido, conforme os dados do estudo. Na Capital, o atendimento total de água é de 98,1%; no município caririense, 90,1%, subindo para 92% em zona urbana.

 

Caucaia, por outro lado, protagoniza um dado negativo: a cidade é a 8ª pior do Brasil em população com abastecimento de água, com apenas 76,2% de cobertura. Isso significa que em cada quatro moradores, um não tem o recurso na torneira.

 

O ranking elaborado pelo Instituto Trata Brasil também avalia o nível de eficiência, que conta com três indicadores, entre eles o de Perdas na Distribuição, que busca estabelecer uma relação entre a água produzida e a que efetivamente é consumida nas residências.

O patamar ideal de perdas de um município é 25%, conforme definido pela Portaria 490/2021. Dessa forma, caso a perda de água seja de 25% ou menos, a cidade tem indicador considerado bom e recebe nota 10 para o cálculo no Ranking Saneamento 2025. Caso o índice de perda seja superior a esse patamar, a nota é calculada proporcionalmente à distância em relação ao ideal.

 

Em Caucaia, o indicador foi de 20,27% e foi uma das 20 cidades com nota 10 nesse quesito do ranking. Fortaleza e Juazeiro do Norte, por sua vez, tiveram índices de 47,96% e 48,64%, respectivamente — os maiores desde 2019. Com isso, quase metade da água é perdida e as cidades tiveram notas de 5,21 e 5,14.

 

Um dos aspectos que explicam esses resultados são as obras em setores hidráulicos, segundo a gerente de Combate às Perdas da Cagece, Isabel Lima Freitas. “Quando você faz obras dentro do sistema, acaba perdendo muita água. Temos uma redução na performance para, depois das obras concluídas, começar a reduzir as perdas e melhorar a performance do sistema”, afirma.

Além disso, ela aponta que Fortaleza e Juazeiro do Norte, duas cidades grandes e com fortes problemáticas sociais — com áreas de risco e construções irregulares — sofrem com fraudes e ligações clandestinas, que têm aumentado ano após ano.

 

Barreira móvel bloqueia toneladas de lixo em rio entre Fortaleza e Caucaia
Legenda: Ecobarreira instalada no Riacho Severo, próximo à Rua Verona — onde os bairros Genibaú (Fortaleza) e Jurema (Caucaia) se encontram — em abril de 2024
Foto: Thiago Gadelha

 

Desde o fim de 2024, as pesquisas de irregularidade foram intensificadas e a expectativa é que já exista uma melhoria dessas perdas neste ano. “É um desafio, para a Companhia, enfrentar essas perdas. Temos alguns contratos com a PPP do esgoto [com a Ambiental Ceará] para intensificação da regularização das fraudes”, afirma.

Outro indicador utilizado pelo Instituto Trata Brasil para avaliar o nível de eficiência é o Indicador de Perdas por Ligação. “É o que a gente de fato ataca”, afirma Freitas, explicando que ele é observado para priorizar ações, uma vez que possibilita a comparação entre municípios de diferentes tamanhos.

As cidades cearenses tiveram os seguintes indicadores litros de água perdidos diariamente por ligação:

  • Fortaleza: 410,98 L/lig/dia
  • Juazeiro do Norte: 314,88 L/lig/dia
  • Caucaia: 305,26 L/lig/dia

“Se um tem 200 mil ligações e outro, 10 mil ligações, [e os dois] têm essa perda diária de 411 litros, são problemas similares. Nesse caso, o volume perdido é rateado entre a quantidade de ligações”, afirma. De acordo com ela, as obras realizadas pela Cagece têm objetivo de reduzir 20% do volume perdido, o que representaria uma redução de 20% das perdas por ligação.

Na Capital, Isabel Lima Freitas explica que existe um centro de monitoramento do volume diariamente, com informações sobre o volume que sai das Estações de Tratamento de Água (ETAs) e o que está chegando em cada setor. Nas áreas com distritos de medição e controle, é feito o controle ativo das pressões. “Quanto menor a pressão na rede, menor é a perda real”, pontua.

“Dentro do nosso balanço, 15% são perdas aparentes, [a água] chegou no cliente final, mas não contabilizamos. O restante da perda é real, física, por vazamentos na rede de distribuição. Precisamos fazer um combate mais ativo nas infraestruturas, por isso as obras de substituição de redes, adutoras e ramais”, explica a gerente da Cagece.

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Carlos Alberto

Oi, eu sou o Carlos Alberto, radialista de Campos Sales-CE e apaixonado por futebol. Tenho qualidades, tenho defeitos (como todo mundo), mas no fim das contas, só quero viver, trabalhar, amar e o resto a gente inventa!

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