Vendas do território cearense para o exterior têm maior crescimento percentual entre todos os estados do País

Faltam menos de 72 horas para a entrada em vigor dos 50% do tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil, e as exportações cearenses confirmam o bom momento com um crescimento expressivo em 2025. No 1º semestre deste ano, elas subiram 82,1% na comparação com o mesmo período em 2024.
Esse resultado traduz ainda o impacto de anos nas exportações do Estado. Foi a sexta vez, desde 1997, início da série histórica do ComexStat, que o Ceará ultrapassou US$ 1 bilhão em exportações totais, somando embarques para vários países.
Esse foi o quarto melhor primeiro semestre da história, atrás apenas de 2022, 2019 e 2021. Desse total, US$ 556,7 milhões foram destinados aos EUA.
Na manhã desta terça-feira (29), uma comitiva de empresários cearenses se reunirá com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Na pauta, estão a negociação do tarifaço e a discussão de medidas para reduzir o impacto da taxa.
Como estão as exportações cearenses
Entre janeiro e junho deste ano, o Ceará comercializou com o exterior US$ 1,072 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões) em produtos. Os dados são da ComexStat, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Foi a maior alta percentual entre todos os estados do Brasil. Pernambuco, que também registrou aumento nas exportações nos seis primeiros meses do ano, viu o volume dos produtos comercializados com o exterior subir 19%, ficando na segunda colocação.
Ceará exporta menos de 1% de tudo o que o Brasil vende para o exterior
O crescimento das exportações cearenses recoloca o Estado entre aqueles que movimentam mais de US$ 1 bilhão em vendas ao exterior, embora sua participação no total nacional ainda seja pequena. No comparativo com os seis meses iniciais de 2024, o País registrou leve queda de 0,65% entre janeiro e junho deste ano.
Ao todo, o Ceará foi responsável, no primeiro semestre deste ano, por somente 0,65% de tudo o que o Brasil exportou. São Paulo é, disparado, o estado que mais exporta, com cerca de 20% de participação, seguido de Minas Gerais (13%) e Rio de Janeiro (12,85%).
Os cinco produtos mais exportados do Brasil estão ligados ao setor primário, isto é, agropecuária e extrativismo. Soja, óleos brutos de petróleo, minério de ferro, café em grão e carnes bovinas foram, respectivamente, os materiais brasileiros mais vendidos para o exterior neste ano.
Legenda:
*Distrito Federal, Paraíba, Roraima, Amapá e Acre não estão na lista, mas tiveram exportações abaixo de 0,1% cada;
** Não está declarada pois não há o registro do estado de origem dos produtos exportados.
Dados represados impactam nas exportações cearenses, afirma especialista
A gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Karina Frota, analisa o crescimento exponencial das exportações cearenses com a volta dos embarques de produtos siderúrgicos, como aço e ligas metálicas.
“O crescimento, reflete, em grande medida, a retomada dos embarques do setor metalúrgico, cuja performance em 2024 foi sub notificada devido a entraves operacionais no processo de averbação. O primeiro semestre de 2025 reforça a relevância dos Estados Unidos como principal parceiro comercial do Ceará, tanto no volume exportado quanto na diversidade de produtos envolvidos”, avalia.
Aproximadamente 50% das exportações cearenses deste ano é do segmento ‘produtos de ferro e aço’. Entre janeiro e junho de 2025, de acordo com o ComexStat, o valor exportado desses materiais foi de US$ 534,7 milhões, 220% maior do que os seis primeiros meses do ano passado.
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Diferentemente da balança comercial brasileira, que apresenta déficit em relação aos Estados Unidos, o Ceará tem superávit nas negociações com os EUA. Em 2024, as exportações cearenses para o território estadunidense superaram as importações em US$ 208 milhões (R$ 1,155 bilhão).
“O saldo positivo da balança, aliado ao avanço em setores estratégicos como metalurgia, calçados, pescados e agroindústria, confirma o bom momento das relações bilaterais. O intercâmbio comercial entre os EUA e o Ceará é histórico. Na análise do ranking dos 10 principais produtos mais exportados pelo Estado para o país norte-americano, todos apresentaram crescimento”, define Karina Frota.
Exportações no Ceará ainda representam taxa pequena do PIB
A ameaça que vem desde o começo do ano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de sobretaxar todos os produtos comprados do Brasil se concretizou em uma alíquota de 50%.
Embora haja impactos na cadeia produtiva nacional — sobretudo a cearense, sendo a que mais exporta, em termos percentuais, do Brasil para os EUA —, os especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste acreditam que os efeitos devem ser menores do que o esperado, até pela dimensão das exportações na economia brasileira e do Estado.
Em 2024, o Ceará exportou US$ 1,46 bilhão (R$ 8,1 bilhões na cotação atual), sendo US$ 659 milhões (R$ 3,6 bilhões) para os EUA. Para efeitos comparativos, o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado de 2024 foi de R$ 214,6 bilhões. As exportações cearenses para o território estadunidense no ano passado representaram 1,67% do PIB estadual.

O ponto é destacado pelo economista e professor Ricardo Eleutério, membro da Academia Cearense de Economia (ACE). As características da economia brasileira de exportação são traduzidas também no Estado, com uma participação pequena no PIB estadual e nacional.
“As exportações e importações brasileiras representam cerca de 1% das exportações e importações mundiais. A economia brasileira é considerada fechada. As exportações e importações do Brasil representam algo em torno de 10% do PIB. Esse indicador revela que a economia é fechada, que o comércio internacional, apesar de importante, tem pouca relevância na formação da riqueza”, registra o especialista.
O que esperar do tarifaço sobre as exportações do Ceará
Se nada mudar até 1º de agosto, todos os produtos exportados pelos brasileiros para os EUA vão ser sobretaxados em 50%. Isso vem causando temor no setor produtivo, com mercadorias chegando a ficar paradas em portos nacionais, como o Pecém.
Karina Frota ressalta que, após o anúncio de Donald Trump, o momento “ainda é de incerteza”, e é “precoce afirmar o declínio” das exportações brasileiras e cearenses. No caso específico do Ceará, “qualquer mudança nas condições de acesso pode afetar cadeias produtivas locais e comprometer o desempenho externo”.
“Além do efeito sobre setores específicos, a medida alerta para a necessidade de estimular parcerias comerciais, por meio da diversificação de destinos, fortalecimento de mercados regionais e coordenação institucional para a defesa dos interesses do Estado”, avalia.
“O monitoramento contínuo das tratativas bilaterais, somado à preparação para cenários adversos, será decisivo para garantir que os avanços obtidos pelo comércio exterior cearense sejam preservados e ampliados nos próximos ciclos”, completa.
Ricardo Eleutério acrescenta, ainda, que as exportações cearenses sofrerão impactos negativos. Vale lembrar que mais de 52% do que é comercializado do Ceará com o exterior vai para os EUA, com o Estado sendo o que percentualmente mais exporta para o país norte-americano.

“Até o dia 1º de agosto, o esforço de organismos envolvidos pode chegar a alguma negociação com os EUA, como eles também têm feito. Anuncia uma sobretaxa e isso provoca uma aproximação do país que está sendo taxado pelos EUA para chegar a uma sobretaxa menor. É uma estratégia de provocar negociação para reduzir essas sobretaxas dos países que importam dos EUA e aumentar as sobretaxas dos países que os EUA importam os produtos”, argumenta.
O economista destaca que o tarifaço é uma forma de “protecionismo”, mas que, na prática, não deve trazer efeitos benéficos para o dia a dia econômico dos estadunidenses. “O protecionismo, quando se prolonga no tempo, gera inflação, perda de produtividade da economia, porque não serão necessários inversões em tecnologias para melhorar a produtividade, para concorrer no mercado internacional, já que o mercado doméstico fica protegido. É um jogo de soma negativo, e no final todos perdem”, considera.
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